Poema recente do jornalista e escritor Jeremias Macário em homenagem aos profissionais da saúde

Pelas trilhas do curso do tempo,

Como velho curandeiro da mente,

Uma carroça circula lentamente,

No parafuso do trânsito confuso,

Entre o piscar das luzes das sirenes,

Dos socorristas aflitos das pistas,

Com vidas ofegantes não perenes,

Que carecem de sangue na corrente,

Dos salva-vidas da linha de frente.

 

A pandemia acelera a correria,

De macas nas disputas por vagas,

De cilindros divididos de oxigênio,

Em um SUS sem ar onde falta lugar,

E até no particular plano do convênio,

Vale a escolha do menos fraco doente,

Nas divisórias mascaradas dos hospitais,

Onde pacientes choram nos fios dos sinais,

Das mensagens virtuais da linha de frente.

 

Entra o intubado e sai o caixão,

Na dor infinita pela perda da vida,

Como num cenário de filme de ficção,

Na milenar guerra entre ciência e fé,

Tem o Buda, o Cristo e o Maomé,

Também o cego negacionista ignorante,

E os profissionais da linha de frente,

Para dar a ingrata última informação.

 

Quem é essa mortal fera Covid,

Que com tanta intriga nos divide,

Arrasa o pulmão dessa nossa gente,

E também sufoca toda linha de frente?