OS COMERCIANTES E AS RELIGIÕES”

É uma obra do historiador acadêmico britânico Geoffrey Blainey que vale a pena ser lida pela sua didática e fácil compreensão sobre as origens humanas, as subidas das águas dos oceanos, as viagens dos povos entre os continentes, suas evoluções, as tribos nômades, as religiões, os grandes impérios, entre outros temas de importância para o conhecimento geral.

Nessa nossa coluna semanal de “Encontro com os Livros”, vamos aqui focar o capítulo “O Trio Triunfante” que prefiro intitular de “Os Comerciantes e as Religiões”. Nele o autor destaca que num período de tempo pouco superior a mil anos surgiram Buda, Cristo e Maomé, três religiões universais (o judaísmo em parte era também universal) que cruzaram fronteiras para converter uma grande variedade de terras e povos.

A TRANSIÇÃO DO MEDO

Essas religiões refletiam uma transição de que Deus era um símbolo do medo (assim era visto pelo Antigo Testamento) para uma transição do amor divino. Se formos analisar bem, como assinalou o autor da obra, os comerciantes foram os maiores propagadores dessas religiões. Eles precisavam de um clima de afabilidade onde os acordos pudessem ser honrados.

Os primeiros seguidores de Buda (Sidarta Gautama) eram comerciantes, como o próprio Maomé. Como carpinteiro, Cristo também foi, em parte, um comerciante com seu pai José. O cristianismo foi disseminado pelos judeus comerciantes longe de casa. Além dos negociantes, dois grandes imperadores, Asoka, da Índia, e Constantino, de Roma, foram fundamentais parra o sucesso do budismo e do cristianismo.

Por volta dos anos 900, essas três religiões alcançaram a maior parte do mundo. A mais nova, o islã, muito dependeu dos comerciantes árabes. A mais antiga, o budismo, teve sua maior força na população chinesa. Os monges atravessaram fronteiras da Índia até a Coreia, Japão e a Indochina.

O cristianismo contava mais com o nordeste da África e da Ásia Menor. Somente na Europa ele passou a ser dominante da Irlanda até a Grécia.  Fazendo seus negócios, os comerciantes espalhavam as palavras e preparavam os caminhos para os missionários.

No capítulo sobre a Polinésia, o autor fala da Europa e da China que formavam grandes mundos com o tráfego fluindo entre si, enquanto outros povos viviam isolados, principalmente quando eram separados pelo mar. De acordo com ele, em toda história humana houve somente três grandes momentos em que viajantes cruzaram os mares para povoar terras desabitadas.

Um foi há mais de 50 mil anos, da Ásia para a Nova Guiné e Austrália. Outro foi a migração da Ásia para o Alasca, há mais de 20 mil anos, com a lenta ocupação do continente americano devido a obstáculos geográficos. O terceiro momento foi a migração dos povos da Polinésia para uma extensa faixa de ilhas do Oceano Pacífico e Índico.

A CHINA E SEUS INFORTÚNIOS

Quanto as potencialidades da China, que terminou por não aproveitar seus conhecimentos como devia, o historiador destaca a arte da comunicação com a invenção do papel manufaturado e a arte da imprensa, usando sinais gravados em blocos de madeira. Foi o acontecimento mais memorável desde a invenção da escrita.

O livro mais antigo data de 868, o qual serviu para difundir a mensagem do budismo e os preceitos de Confúcio. Todos os candidatos ao serviço público tinham que conhecer. Em 1273 imprimiu-se um livreto para fazendeiros e cultivadores de seda natural. A China possuía os fazendeiros mais capacitados do mundo.

Os chineses eram mestres em projetos de vias marítimas, enquanto os romanos especialistas do aqueduto. A China foi exímia na construção dos canais de embarcações (O Grande Canal da China). Com o enxofre, o salitre e o carvão, descobriu a pólvora, e dominava as técnicas de navegação e construção de navios. Na medicina e na saúde, os chineses foram vigorosos em experimentar novas soluções.

Diz o professor que o maior infortúnio foi que eles, por muito tempo, foram quentes, frios, criativos e letárgicos. Mesmo tendo inventado a bússola, fracassaram no mar porque não tinham o desejo de descobrir o desconhecido. Eram bons cartógrafos, mas seus mapas se resumiam aos seus distritos agrícolas. Os cientistas acreditavam que a terra era plana. Quando eles saiam ao mar, longe de casa, só visitavam portos conhecidos da Ásia e do Oceano Índico.