:: 20/nov/2020 . 1:53
A PRAÇA É NOSSA POESIA
Nas lentes do jornalista Jeremias Macário, em ângulos diferentes, a Praça Tancredo Neves respira gente, muitas árvores, flores, palmeiras, água, aves e poesia. Como dizia o poeta, a praça é nossa, como o céu é do Condor, e essa é de todos os conquistense a mais visitada. É para lá que muitos vão namorar, meditar, rezar e até fazer suas poesias em homenagem à natureza, à vida, à morte e ao ser humano. Nela também está um monumento que homenageia muitos baianos que foram tombados durante a ditadura civil-militar de 1964, por discordarem do regime opressor dos generais. Em maio de 64, uma tropa de 100 soldados invadiu Conquista para prender e cassar cerca de 100 políticos, vistos pela ditadura como subversivos e comunistas, inclusive o prefeito Pedral Sampaio, que foi arrancado, inconstitucionalmente, à força do seu cargo. A ditadura passou, mas a praça com suas ideias continua nossa. É lá que as pessoas vão se relaxar do estresse do dia a dia. Pena que muitas outras da cidade andam meio abandonadas e sem o devido cuidado, como a da Tancredo Neves, bem no centro da cidade, sempre exibindo toda sua exuberância em união permanente com o céu e a nossa alma. É o nosso cartão postal. É o coração verde que pulsa e bomba o sangue para todo nosso corpo.
RASGA NO PEITO A DOR
Poema mais recente de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
De tanto viver neste sol inclemente,
Que racha a terra e arde a mente,
Entre as secas veredas de espinhos,
Onde as aves não fazem seus ninhos,
Rasga no peito a dor do nordestino,
Que viu morrer de fome seu menino.
Rasga no peito essa dor vaga latina,
Em ver a mulher a chorar no fogão,
Numa cozinha de panelas vazias,
De olhar fundo com marcas do sofrer,
Saudades eternas da nossa menina,
Que teve a mesma sina da falta do pão.
Rasga em meu peito essa dor assassina,
De ver tanta gente a padecer na espera,
Outros a viver em mansões de quimera,
Oh Senhor Deus do poeta da dor rasgada!
Olhai para esse povo no arrasto da enxada!
A rogar que dos céus desça a graça divina.
Rasga no peito essa dor contínua,
Pior que a dor canina de dente,
Que enxaqueca de cabeça doente,
É essa dor que jorra na alma sofrida,
De um povo ferrado em curral de boi,
Que procura por uma justiça que se foi.
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