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:: 9/nov/2020 . 23:41

A CONQUISTA DE HOJE E O QUE ELA ESPERA DE TODOS NÓS CONQUISTENSES

Vitória da Conquista completou ontem (dia 9 de novembro) 180 anos de emancipação política. Uma longa história que carecia de muitas homenagens e uma vasta programação cultural, política, social, de lazer e entretenimento, mas a pandemia da Covid-19 impediu uma festa maior. No entanto, o que mais importa é sua história cheia de fatos positivos, mas também negativos, como em qualquer vida humana.

De 1840, quando foi implantado o primeiro Conselho Municipal, no papel de uma Câmara de Vereadores, com seu intendente tipo prefeito, muitas coisas aconteceram, como grandes projetos e obras de infraestrutura nas áreas da educação, da saúde e também catástrofes, tragédias e episódios que marcaram sua longevidade. Foi terra dos coronéis, das rosas, dos tropeiros e sempre do frio que muitos costumam a chamar de “suíça baiana”.

A CHEGADA DA BR-116

Fotos aéreas de José Silva

Só para resumir alguns pontos da sua história, Conquista começou a se destacar como grande cidade do estado a partir dos anos 60 com a chegada da BR-116, ou Rio-Bahia, servindo de entroncamento entre o sul e o norte do país com outras cidades da região sudoeste. A partir desta década, o seu comércio (carro-chefe da economia) começou a crescer e a superar a atividade agropastoril.

Nessa passagem, ocorreu um fato triste que foi a ditadura civil-militar de 1964, justamente quando Conquista era só uma efervescência e referência na área cultural e educacional, com grandes talentos da música, da literatura, da poesia e da dramaturgia.

Em 8 de maio de 1964 aconteceu o pior que foi o cerco militar de 100 homens do regime ditatorial para prender aqueles que os generais consideravam como subversivos comunistas. Mais de 100 foram levados à cadeia, inclusive o prefeito José Pedral Sampaio, que teve seu mandato político cassado por 20 anos.

Vieram as décadas de 70 e 80, e o município continuou a se desenvolver, mesmo diante de toda turbulência da repressão, com atrasos na educação e na cultura. A chegada da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-Uesb deu mais um alento, mas a introdução da cafeicultura nesse período foi mais um ponto alto a favor do seu desenvolvimento, embora negativo para o meio ambiente por causa dos desmatamentos.

A DECADÊNCIA DO CAFÉ

No meado para o final dos anos 90, Conquista sofreu uma queda em sua atividade econômica com a decadência da monocultura do café, mas seus gestores e empresários procuraram logo outras alternativas para sair da crise. O comércio se fortaleceu por causa do seu grande raio de atuação em torno da região, que abrande cerca de 70 a 80 municípios.

Entretanto, isso só não bastava porque existia um grande vazio que era a falta de escolas de ensino superior. Um movimento de empresários e entidades da cidade começou a se reunir e a planejar uma saída para preencher esta lacuna. Com agressividade, começaram a nascer algumas faculdades particulares, culminando com a instalação de unidades da Universidade Federal da Bahia.

Com a educação superior a partir dos anos 2000, Vitória da Conquista tomou outro rumo, e desta vez foi a construção civil que deu sua arrancada desenvolvimentista com a vinda de muitos jovens da Bahia e de outros estados para estudar em Conquista. Podemos dizer que foi o período de maior avanço, tanto que seu índice de crescimento foi o maior do Norte e Nordeste.

Esse avanço, porém, não foi acompanhado de grandes projetos em infraestrutura, de modo que atendesse as demandas da população. Para seguir esse processo, Conquista hoje espera ter grandes projetos nos setores de mobilidade urbana, principalmente, construção da barragem para o abastecimento definitivo de água e mais estrutura na educação de base e na saúde, sem falar de uma política cultural para despertar, mais uma vez, os grandes talentos que estão aí adormecidos e necessitando de incentivo do poder público em geral.

Neste ano de eleições, Conquista espera que os políticos cumpram suas promessas de mais escolas, mais programas de emprego e renda, mais postos de saúde, de uma Câmara Municipal mais forte com gente preparada, séria e ética, com mais obras de mobilidade urbana e, especialmente, que olhem para os mais pobres no sentido de reduzir a miséria. Conquista espera, acima de tudo, que todos conquistenses cumpram com seu dever, para que haja mais justiça social e menos violência.

 

 

 

 

 

DE IMPERIAL VILA DA VICTÓRIA AO MAIOR PÓLO DE DESENVOLVIMENTO (Final)

CONQUISTADOR E DIZIMADOR

Português da cidade de Chaves, João Gonçalves da Costa iniciou sua lida como bandeirante muito cedo, tendo logo conquistado matas baianas. Em 1744 integra-se ao grupo de João Guimarães, como capitão-mor que partiu do norte de Minas Gerais (Minas Novas). Logo o capitão se destacou pelos seus feitos de conquistador e dizimador de tribos indígenas. Na busca pelo ouro esgotado em Minas e Rio das Contas, se embrenhou pelo sertão e terminou se fixando na região de Conquista em fins do século XVIII, se tornando grande proprietário de terras e gado.

Por ter expulsado os índios às margens dos rios Pardo, das Contas, dos Ilhéus, principalmente os valentes Imborés, ou Botocudos, se tornou num dos principais desbravadores. Mas, não foi só isso, João Gonçalves abriu estradas, ligando Conquista ao litoral e tirando o sertão do isolamento.

POVOADO INDÍGENA

Fotos reprodução e de José Silva

No final do século XVIII (1782), o desembargador de Ilhéus, Francisco Nunes da Costa determinou que João Gonçalves fundasse um povoado indígena no lugar chamado Funil, visando afastar os índios Pataxós ao sul da Capitania de Camamu, Maraú e Cairú, para facilitar a abertura das estradas que se tornaram passagem do gado que saía do “Sertão da Ressaca”.

Numa outra carta às autoridades da capitania, o desembargador mostrava a importância da expedição, discriminando o armamento entregue ao capitão-mor para explorar as cabeceiras do Rio das Contas. Durante dois meses de viagem, como conta em seus registros, o capitão percorreu matas e encontrou as aldeias dos mangoiós que assustavam moradores de Ilhéus e Porto Seguro. João Gonçalves sofreu uma doença grave e narrou a fuga dos índios e dos soldados da expedição. Dos 74, restaram apenas 34 soldados.

Nessa viagem, ele se deparou com cinco aldeias (cerca de duas mil almas) com as quais, depois de parlamentar com o chefe Capivara, conseguiu que aceitasse um tratado de paz, e ainda se comprometeu a ajudar as tribos contra os Imborés.

O nome de João Gonçalves é citado em outras correspondências enviadas pelo Intendente Geral do Ouro, João Ferreira Bittencourt ao Governo da Bahia, não poupando elogios pela sua bravura. Para o Intendente, o capitão era homem indicado para o processo de colonização da metrópole; para abrir a estrada Rio das Contas-Camamu; e povoar o “Sertão da Ressaca”, tudo feito com a devastação das aldeias indígenas em final do século XVIII.

Seu nome varou fronteiras e era sinônimo de valentia, audácia e fidelidade à Monarquia. “Não produz um século um homem do gênio deste capitão-mor” – assim escreveu o conde da Ponte em 1807. Apesar do seu ingresso no sertão com a missão de encontrar ouro, o capitão não é lembrado nos documentos como descobridor de minas auríferas.

Seu mérito foi ter desbravado o sertão com a abertura de estradas; descoberto rios; dizimado índios; e ter feito a ligação litoral-interior. Os índios tinham tanto medo da sua violência que pediram, em 1790, ao governador Fernando José de Portugal, que eles não ficassem subordinados ao capitão-mor.

O príncipe Maximiliano de Wied-Newied esteve no Brasil, em 1815, e no arraial da Conquista, em 1817. Na ocasião, conheceu o capitão com 86 anos e ficou impressionado com sua resistência. Provavelmente deve ter morrido com 88 anos, mas não se tem certeza.

INTEGRAVA O TERÇO DE HENRIQUE DIAS

Na época, conforme historiadores, a segurança da Colônia era feita pela Tropa de Linha (portugueses, comerciantes, proprietários, etc), Tropas Auxiliares chamadas de Terços (depois regimentos), Milícias e Corpos de Ordenanças (força local) onde os moradores faziam parte. Todas as vilas tinham um capitão-mor ou sargento-mor. As milícias estavam organizadas sob a forma de regimentos e funcionavam como força auxiliar da tropa de primeira linha. Os regimentos eram formados conforme a cor e a ocupação dos recrutados.

De acordo com Caio Prado Júnior, na Bahia, existiam quatro regimentos. O primeiro e o segundo eram constituídos por homens brancos. O terceiro e o quarto por homens de cor. Os pretos forros (libertos) pertenciam ao terceiro, conhecido por “Henrique Dias”. Os pardos e mulatos integravam o quarto.

Pouco se fala sobre os “Terços de Henrique Dias” só que eram formados por negros libertos, e a denominação era em sua homenagem por ter se destacado como comandante de umas das corporações que lutaram contra os holandeses em Pernambuco (chegou a perder uma das mãos na luta). Foi condecorado em 1639 com o título de Governador das Companhias dos Homens Negros e Mulatos. “Os Terços” foram extintos, em 1831, com a criação da Guarda Nacional.

O capitão João Gonçalves da Costa integrava o “Terço de Henrique Dias”, patente dada pela sua Majestade, com a incumbência de servir na conquista e descobrimento do mestre-de-campo João da Silva Guimarães. Ocupou um dos cargos mais cobiçados dentro da hierarquia militar e gozava de toda confiança do governo português.

Não se sabe se por puro preconceito, nos livros em geral de história e em apresentações de palestras no meio intelectual, mesmo em conversas em geral, João Gonçalves raramente é citado como negro pertencente ao “Terço de Henrique Dias”, conforme está registrado em sua carta de patente.

A DESCENDÊNCIA E O PODER DOS GONÇALVES

A criação e o comércio de gado foram fatores fundamentais para o povoamento e desenvolvimento do “Sertão da Ressaca”. A pecuária, então, foi primordial para a ocupação da terra. Depois das frustradas buscas pelo ouro, o capitão decidiu se fixar no Sertão, dedicando-se à criação de bovinos. No seu inventário dos bens do casal, quando da morte da mulher, o capitão declarou, entre outros bens, 700 cabeças de gado e 39 escravos, sem contar o plantio de algodão.

Entre final do século XVIII e início do século XIX, a Imperial Vila da Victoria era tão importante como qualquer vila do litoral. Além do algodão, era passagem das boiadas vindas do São Francisco para Nazaré-Cachoeira.

Na condição de proprietário do “Sertão da Ressaca”, o capitão deixou muitos herdeiros dos seus bens materiais e políticos na condução dos destinos da Vila da Vitória. Seu filho Antônio Dias de Miranda e o marido de sua neta, Luiz Fernandes de Oliveira ocuparam o cargo de Juiz de Paz do Arraial. Antônio Miranda e seu irmão Raymundo Gonçalves da Costa (filho natural) lutaram ao lado do pai no combate aos índios e na exploração do rio Pardo. Raymundo, inclusive, era tido como o terror dos índios pela sua bravura.

O capitão, na época, com mais de 20 anos, casou-se com Josefa Gonçalves da Costa, ainda menina de 9 anos, nascida em 1739, filha de João Mathias da Costa, português de Montalegre. Seu sogro, conforme declaração em seu testamento, morava no sítio Caetité, da Vila Nova de Nossa Senhora do Livramento das Minas do Rio das Contas, e possuía uma sesmaria de três léguas doada pelo Governo de Portugal, em 1732. Na morte de sua mulher Clara, em 1741, declarou ter 11 herdeiros, entre eles sua filha Josefa.

Com sua morte, por volta de 1758, Mathias deixou uma grande riqueza (mais de mil cabeças de gado – fazendas, engenhos, escravos e grande número de devedores, inclusive João da Silva Guimarães).

Ao casar-se, o capitão recebeu um dote como era de costume. Depois foi intimado pelo juiz a comparecer e declarar seu dote, só que o capitão não atendeu ao chamado e fez um documento se abstendo da herança que cabia à sua mulher. Mesmo assim, a recusa não impediu que sua esposa ficasse com as fazendas Conquista e Catulés.

Mathias colocou em seu testamento que os filhos que não casassem com mulher ou homem de cor branca, ficariam fora do espólio. Daí historiadores concluírem que o capitão teve desentendimentos com o sogro, talvez ressentido pelo seu preconceito.

Do casamento com Josefa, o capitão teve oito filhos. João Dias de Miranda, Antônio Dias de Miranda, Lourença, Joana, José, Faustina, Manoel e Maria. Além desses, teve o filho natural Raymundo Gonçalves da Costa. Todos se fixaram na região como donos de vastas extensões de terras, tanto que ao longo do século XIX a família era considerada como a mais abastada do “Sertão da Ressaca”. Com o passar do tempo, e com as divisões das heranças, toda fortuna foi se fragmentando e desaparecendo.

A matriarca faleceu, em 1799, deixando muitos bens para o viúvo, como as fazendas Conquista, Catulés e Ribeirão. Esta última com mais de 10 léguas de cumprimento. Em vida, João Gonçalves fez muitas doações e chegou a construir a capela da Imperial Vila. Nos seus últimos anos, foi morar na fazenda Cachoeira, conforme cita o príncipe Maximiliano quando o visitou, em 1817.

Dos seus filhos, Antônio Dias chegou a ser capitão-mor e foi o que teve maior inserção na vida dos moradores da região. Residia na fazenda Urubu, em Poções, e foi assassinado em 1831. No entanto, Faustina superou todos os irmãos em termos de riqueza. Ela casou-se com o português Manoel de Oliveira Freitas. Em sua vida, o que mais chamou a atenção foi seu apego ao genro Luiz Fernandes de Oliveira a quem entregou seus negócios. Ele casou-se com Thereza de Oliveira Freitas e teve 12 filhos. Quando morreu, Luiz Fernandes deixou oito fazendas, conforme atestou seu filho Paulino Fernandes de Oliveira.

Posse de escravos, quantidade de gado, produção de lavouras e fazendas marcavam o nível de riqueza, importância e poder das pessoas. Os limites das propriedades eram imprecisos e os recursos naturais serviam para demarcar os limites das terras. Entre os proprietários, figurava Nossa Senhora das Vitórias através de doações do capitão que no início do século XIX já era chamado de coronel.

OS DOCUMENTOS DA CONQUISTA

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