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:: 6/nov/2020 . 22:27

DE IMPERIAL VILA DA VICTÓRIA AO MAIOR PÓLO DE DESENVOLVIMENTO (PARTE I)

Este texto, de Jeremias Macário, pode ser encontrado nos livros de sua autoria, “A Imprensa e o Coronelismo” e em “Uma Conquista Cassada”, o qual fala da ditadura civil-militar de 1964, que cercou a cidade e cassou, na base da força das armas, o mandato democrático do prefeito da época José Pedral, na trigésima sessão da Câmara de Vereadores, em maio do mesmo ano.

Os Mongoiós ou Monochós, também conhecidos como Camacans, e os Pataxós e Amborés ou Imborés, eram os verdadeiros donos destas terras do sudoeste baiano, compreendidas entre os rios Pardo e das Contas, da região do São Francisco até São Jorge dos Ilhéus.

No centro deste vasto território chamado de “Sertão da Ressaca”, está hoje o município de Vitória da Conquista que virou pólo de desenvolvimento regional, e neste ano de 2020 está completando 180 anos de emancipação política (9 de novembro).

Fotos reprodução e de José Silva

A Imperial Vila de Nossa Senhora da Victória, antes Arraial da Conquista, foi criada pelo decreto imperial de número 124, em 19 de maio de 1840, desmembrando-se da Comarca de Caetité.

No entanto, a data política é comemorada em 9 de novembro quando aconteceu a posse da primeira Câmara Municipal. Com a proclamação da República, em 1889, a Vila passou a se chamar Cidade da Conquista, em 1º de junho de 1891, e em 1943 recebeu o nome de Vitória da Conquista.

A CHEGADA DA BR-116

O pequeno povoado, com as primeiras habitações de taipa cresceu, e em 1817, conforme registrou o príncipe alemão Maximiliano Wied-Newied, em visita ao lugarejo, já contava com 40 casas. A Vila expandiu-se aos poucos na encosta verdejante da Serra do Periperi; foi parada de tropeiros; mudou de nome; e começou a prosperar a partir da década de 1960 com a chegada da BR-116 (Rio-Bahia).

A cidade ampliou sua economia com a introdução da cafeicultura, em meado dos anos 70, e se firmou no início do século XXI com a implantação de novos projetos nas áreas da educação e da saúde até se transformar num dos maiores pólos de desenvolvimento do Estado e do Nordeste. Com cerca de 350 mil habitantes, é hoje a terceira maior cidade da Bahia.

CONQUISTA E SUA EVOLUÇÃO

Até antes da instalação da Vila, (1840), na residência do coronel Teotônio Gomes Roseira, situada na Rua Grande (Praça Tancredo Neves), o território pertencia ao município de Caetité. Depois a casa do coronel veio a se tornar Paço Municipal.

Naquela data de 9 de novembro foram escolhidos os conselheiros, membros do Conselho Municipal, hoje denominados de vereadores, para cuidar da sua administração. O presidente desse colegiado exercia o cargo de prefeito. O primeiro Conselho foi composto pelos cidadãos Manoel José Vianna, Joaquim Moreira dos Santos, Theotônio Gomes Roseira, Manoel Francisco Soares, Justino Ferreira Campos, Luiz Fernandes de Oliveira (primeiro presidente da Câmara) e Francisco Xavier da Costa.

Com governo próprio, a Vila começou a se organizar e, além do seu Conselho, foi instalada a Casa do Conselho a quem coube aprovar o Código de Posturas, com 80 artigos, para disciplinar os moradores, punir os transgressores e orientar o crescimento urbano, inclusive com regras para preservar os rios e as nascentes. Entre as normas, reprimia o batuque e o hábito de vagar pelas ruas durante altas horas da noite, especialmente os escravos sem o bilhete do seu senhor. A partir daí, foram contratados os primeiros funcionários públicos.

DE VILA A CIDADE EM 1891

Anos depois, em 1891, Conquista passou de vila a cidade, e as funções do presidente do Conselho Municipal passaram a ser exercidas por um intendente a que deram o nome de prefeito, com autonomia para governar. As ruas eram lamacentas e esburacadas, mas o primeiro intendente, Joaquim Correia de Mello, adotou algumas providências para melhorar o visual da cidade.

Por cerca de 100 anos, Conquista passou esquecida dos poderes públicos, contrastando com a evolução de outros centros urbanos. Segundo observadores, viajantes e cronistas da época, o esquecimento se deveu mais ao fato da sua distância em relação à capital. Até os anos de 1890, as ruas eram iluminadas por lampiões a gás, depois substituídos por carbureto. Só a partir de 1920 veio a energia elétrica.

Somente a partir deste período, a cidade veio a sair do isolamento quando um grupo de fazendeiros e comerciantes se reuniu e fundaram um consórcio para construir uma estrada carroçável ligando até Jequié. Nessa época, o trem já existia até Jaguaquara, e os trilhos avançavam às terras jequieenses. A linha até esta localidade chegou em 1927.

Com o passar dos anos, o aspecto urbano foi melhorando, mas o conquistense não se preocupou muito com a preservação da sua história, tanto que muitos sobrados e casarões foram sendo derrubados para dar lugar a edificações novas, como o velho barracão acolhedor de tropeiros que foi demolido em 1913.

Para se abastecer, os conquistenses dependiam das mercadorias, transportadas no lombo dos burros, vindas das cidades de São Felipe e Cachoeira, passando depois por Jequié (150 quilômetros). Mas, Conquista também tocava o gado trazido de Minas Gerais para fornecer carne para o Recôncavo.

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CONQUISTA 180

No próximo dia 9, Vitória da Conquista estará completando 180 de emancipação política, marcando a instalação do Conselho Municipal, na hoje versão da Câmara Municipal de Vereadores. O seu presidente foi o primeiro intendente da cidade. Uma pena que poucos conquistenses aqui nascidos sabem da sua verdadeira história, suas origens, seu fundador e como nasceu a vila, que depois de 180 anos se tornou na terceira maior cidade da Bahia, com cerca de 350 mil habitantes. De um modo geral, os brasileiros pouco sabem da história do seu país, do seu estado e do seu município. A história do seu povo é a história da sua identidade, da sua cultura e costumes. O mestiço, ou negro português, João Gonçalves da Costa, é pouco lembrado pelos conquistense e, na maioria das vezes, só citado como matador sanguinário dos índios aimorés e mongóis, descendentes dos Pataxós-mocoxós.  Seu nome só foi colocado numa pequena praça, próxima da Prefeitura. Quase ninguém sabe localizá-la e desconhece sua existência. Na procura pelo ouro, Conquista nasceu agropastoril, com a criação do gado bovino e, muito tempo depois,  veio se destacar na agricultura, principalmente do café nos anos 70 e 80. Hoje, seu carro-chefe é o comércio, que se desenvolveu mais ainda com a implantação do ensino superior. Primeiro foi a universidade estadual do sudoeste da Bahia. A partir dos anos 2000, Conquista experimentou uma grande avanço através da universidades federal e com a chegadas de várias faculdades privadas. Infelizmente, seu crescimento não foi acompanhado pela demanda de projetos na área da infraestrutura. Portanto, a cidade hoje ainda é carente de grandes obras nos setores de mobilidade urbana e de abastecimento de água, com a prometida construção de uma barragem de porte que atenda as reais necessidades da população. É bom lembrar também que Conquista já foi a cidade dos coronéis e intendentes, que mandavam com mão de ferro, ou na base do fuzil. A foto antiga, reprodução do fotógrafo José Silva, da Praça 9 de Novembro, inclusive, foi palco de lutas e disputas entre os coronéis, mas também de alegria com os antigos carnavais.

PARA AONDE VOU?

Poema mais recente do jornalista e escritor Jeremias Macário

Como um navegante solitário,

Nesse cenário controverso,

Vou viajando em meu universo,

No galope do meu cavalo,

Como um vassalo do vento,

Sem pensar no senhor rei tempo,

Com meu jeito estúpido de amar,

Roendo a corda e consumindo alento,

Sem acreditar que existe outro lar.

 

Nem imagino para aonde vou,

Cantando pneus entre as curvas,

Vou pegando as enfadonhas retas,

Até o infinito monte do horizonte,

Na ânsia de alcançar as tais metas,

Mesmo quando as vistas ficam turvas,

Nesta comichão de tantos insumos,

De juras entre os diabos e os deuses,

Nas encruzilhadas de vários rumos,

Ouvindo a viola do cancioneiro poeta,

Que em seu peito rasga o verso profeta,

Sobre a vida nesse capital de esmola.

 

Vou viajando por aí sem destino,

Como mais um retirante nordestino,

Na busca da verdade e da razão,

No conflito teórico da classe marxista,

Entre o ateu da direita ao esquerdista,

Entre a ciência e a fé na religião,

Vou indo como chama da liberdade,

Outras vezes como tocha apagada,

Como um todo, como um nada,

Nesse deserto do camelo beduíno,

Com minhas lembranças de menino.

 

Para aonde mesmo eu vou?

Não importa, se tiver uma porta,

Para sacodir a sujeira da poeira,

Dessa breve vida incerta estradeira.

 

 





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