De acordo com o pesquisador Jared Diamond, as culturas da África Ocidental foram domesticadas primeiro. Depois vieram as da Indonésia e, por último, as dos europeus. O historiador Christopher Ehret empregou a abordagem linguística para determinar a sequência em que as plantas e animais domesticados foram utilizados pelos povos de cada família linguística africana.

Em sua dedução científica, Diamond escreve em seu livro “Armas, Germes e Aços”, que os povos que estavam domesticando sorgo e milhete no Saara milhares de anos atrás, falavam as línguas ancestrais das línguas Nilo-saarianas modernas. As evidências permitem ter uma ideia da existência de três línguas, como a Nilo-saariana, nigero-congolês e afro-asiática. A África abriga hoje 1.500 línguas, incluindo a língua austronésia de Madagascar.

ÍNDIA E EGITO à COSTA DA ÁFRICA

Há milhares de anos, segundo um observador comerciante, existia um próspero comércio marítimo que ligava a Índia e o Egito à costa da África Oriental. Com a expansão do Islã, depois de 800, o comércio no Oceano Índico passa a ser arqueologicamente bem documentado por grandes quantidades de produtos como cerâmica, vidros e porcelana do Oriente Médio e da China, encontrados em povoações no litoral da África Oriental

Quando o navegante português Vasco da Gama, tornou-se o primeiro europeu a contornar o cabo sul da África, alcançando a costa do Quênia, em 1498, encontrou povoações swahilis dedicadas ao comércio, e levou um timoneiro para guiá-lo naquela rota direta para a Índia. Havia um comércio intenso entre a Índia e a Indonésia.

A África Subsaariana nem sempre foi um continente negro, como pensamos hoje. Os pigmeus espalhavam-se pela floresta tropical da África Central, enquanto os coissãs se localizavam nas áreas secas da África Subequatorial. Em Zâmbia, no norte da zona ocupada pelos coissãs, os arqueólogos acharam crânios de humanos semelhantes aos coissãs modernos, assim como ferramentas de pedra parecidas com aquelas que eles ainda estavam fazendo a época em que os europeus chegaram à África Meridional.

A OCUPAÇÃO DOS BANTOS

Como os bantos tomaram o lugar dos coissãs do norte, indícios sugerem que a expansão dos ancestrais dos agricultores desse povo das savanas no interior da África Ocidental para o sul, em sua floresta litorânea mais úmida, pode ter começado por volta de 3.000 a.C. Os bantos criavam gado e mantinham culturas, como o inhame. Não conheciam o metal e ainda se dedicavam muito à caça, à pesca e à coleta. Á medida que os bantos se espalhavam pela zona da floresta equatorial da bacia do Congo, faziam hortas e aumentavam em quantidade. Começaram a subjugar os pigmeus caçadores-coletores.

Na África Oriental, os bantos obtiveram o milhete e o sorgo, bem como o gado bovino de seus vizinhos nilo-saarianos e afro-asiáticos. Os historiadores quase sempre acharam que o conhecimento da metalurgia chegou à África Subsaariana a partir do norte. Por outro lado, a fundição do cobre já era feita no Saara e no Sael, desde 2.000 a.C.

Os ferreiros africanos descobriram como conseguir temperaturas nos fornos de suas aldeias e fabricar aço mais de 2000 antes dos fornos do inventor inglês Henry Bessemer, no século XIX, na Europa e na América. Quando aprenderam a usar o metal, os bantos formaram um pacote militar-industrial insuperável na África subequatorial.

Em poucos séculos, num dos avanços mais rápidos da pré-história, os agricultores bantos tinham limpado todo caminho até Natal na costa oriental da África do Sul. Segundo o pesquisador, certamente foram estabelecidas relações comerciais e de casamento entre os coissãs e os agricultores bantos. No entanto, sempre os bantos ocuparam a maior parte do espaço anterior dos coissãs.

Os povos bantos do extremo sul, os xosas, foram até o Rio do Peixe, na costa sul da África do Sul, 800 quilômetros a leste da cidade do Cabo. Em 1652, ano em que os holandeses chegaram à cidade do Cabo, trazendo suas culturas adequadas às chuvas de inverno originárias do Oriente Próximo, os xosas ainda não haviam ultrapassado o Rio do Peixe.

OS BRANCOS E OS XOSAS

Depois que os brancos sul-africanos mataram, contaminaram ou expulsaram as populações coissãs do Cabo, eles podiam alegar que haviam ocupado o Cabo antes dos bantos, e assim reivindicar direitos anteriores. Embora os europeus pudessem abastecer suas tropas através do Cabo, foram necessárias nove guerras e 175 anos para que seus exércitos subjugassem os xosas.

A África foi o único berço da evolução humana durante milhões de anos, como talvez tenha sido a pátria do Homo Sapiens anatomicamente moderno. A África possui a maior diversidade humana do mundo. Do mesmo jeito do encontro com os ameríndios, os europeus que chegaram à África, levaram a tripla vantagem de armas,  de outras tecnologias, da alfabetização e da organização política necessários para sustentar os programa de exploração e conquistas.

Quatro anos depois de Vasco da Gama chegar à costa oriental da África, em 1498, ele voltou com uma frota cheia de canhões para forçar a rendição do povo mais importante da África Oriental, Kilwa, que controlava o comércio de ouro do Zimbábue.

As vacas, as cabras, as ovelhas, os porcos, os cavalos nativos da Eurásia estavam entre as poucas espécies de grandes animais selvagens que passaram em todos os testes de domesticação, como dócil, submisso, imune a doenças e crescimento rápido.

Conforme explica o autor do livro, se os rinocerontes e os hipopótamos da África tivessem sido domesticados, não só teriam alimentado os exércitos, mas também constituído uma cavalaria imbatível para atravessar as fileiras de cavaleiros europeus.

AS VANTAGENS DA EURÁSIA

O Sael, a Etiópia e a África Ocidental produziram culturas nativas, mas com muito menos variedades do que as cultivadas na Eurásia, que sempre levou a maior vantagem em termos de domesticação de plantas e animais. Outro fator por trás do ritmo mais lento no desenvolvimento da África em comparação com a Eurásia, é a direção diferente dos eixos principais destes continentes. O eixo principal da África é norte-sul e o da Eurásia é leste-oeste.

O trigo e a cevada do Egito só chegaram ao clima mediterrâneo no Cabo da Boa Esperança quando os europeus os levaram, em 1652, e os coissãs nunca desenvolveram a agricultura.  Embora os cavalos já tivessem chegado ao Egito por volta de 1.800 a.C., e provocado a modificação da guerra norte-africana logo depois disso, eles só cruzaram o Saara para impedir a ascensão de reinos africanos ocidentais com cavalaria montada no primeiro milênio, e nunca seguiram para o sul onde existia a mosca africana tsé-tsé.

A tecnologia humana foi igualmente lenta para se expandir para o eixo norte-sul da África. A cerâmica, registrada no Sudão e no Saara, por volta de 8000 a.C., só chegou ao Cabo por volta do ano I “A colonização europeia da África nada teve a ver com as diferenças entre os povos africanos e europeus, como presumem os racistas brancos. Ela ocorreu em virtude de acidentes geográficos e biogeográficos, particularmente, as diferenças entre as áreas dos continentes, os eixos e o conjunto de espécies de plantas e animais selvagens”.