“NÊGO” CORRE DA REFORMA POLÍTICA, “COMO O CÃO CORRE DA CRUZ”.

É até uma contradição e um absurdo, mas no Brasil é a política que emperra o nosso progresso, quando deveria ser a salvação para que o nosso país tomasse outro rumo desenvolvimentista. Com esse sistema arcaico e coronelista, a política tornou-se um ciclo vicioso de perpetuação no poder, de canal para a corrupção, de voto de cabresto, de mentiras e práticas antiéticas.

Por mais paradoxal que seja, a política é o calcanhar de Aquiles do Brasil. As eleições não são uma festa democrática, como deveria. É uma festa caquética e puída que cheira a mofo. É uma carneirada que se dirige à boca de uma urna para votar nos mesmos de sempre, e até em aventureiros da pátria que se cobrem com a pele de falso moralista e nacionalista. Com essa democracia tupiniquim, a eleição nunca vai ser instrumento de mudança.

A MAIS IMPRESCINDÍVEL

Mais do que as reformas administrativas, previdenciárias, tributárias e outras, a da política, não esses remendos que fazem aí, é a mais imprescindível de todas, mas ninguém quer saber de mudar porque tudo concorre para que os mesmos continuem sendo reeleitos e não haja mudanças com pessoas bem-intencionadas.

Do jeito que está, sempre favorecendo os que têm mais “bala na agulha”, essa política sempre vai ser vista como suja, que não vale a pena nela entrar, embora os eleitores se viciaram com essa velha cultura atrasada e tiram também o seu proveito através de seus pedidos de favores, cargos e até de dinheiro.

Vá falar numa reforma política onde se reduza o número de parlamentares no Congresso Nacional, nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras Municipais que todos partidos dão um “berro” e se unem – esquerda, direita, centro, extrema-direita, conservadores e ultraconservadores – na mesma panela para derrubar a ideia, com argumentos oportunistas que não convencem.

E a escandalosa figura do senador biônico, que persiste até hoje como herança da ditadura? O cara se candidata a senador e escolhe como seu suplente o filho, a mulher, a amante e até a empregada doméstica. Quando ele é morto ou afastado, como o que foi pego agora com dinheiro na cueca, entra o suplente que nunca recebeu nenhum voto. Não é mais uma excrescência?

Vá falar em cortar gastos, indenizações de verbas, emendas parlamentares e limitar o tempo de reeleição para o legislativo em apenas duas vezes no máximo que os políticos no poder fazem um barulho danado para defender que tudo fique como está, sem mudanças. Na verdade, ninguém, ou quase ninguém, pensa no bem do Brasil, mas em si mesmo próprio, e em continuar mamando nas tetas do povo que, infelizmente, aceita o sistema.

Existe deputado e vereador que já está no cargo há mais de 30 anos, e até 40, sendo reeleito em todas as eleições, não por mérito ou capacidade, mas porque usa a máquina, o assistencialismo e o dinheiro como moedas de troca para impedir que um novo candidato entre e tome o seu lugar.

É UMA DISPUTA COVARDE

A concorrência com quem já está lá é desleal, e é até uma covardia a disputa entre o novo e o velho. Para ser justo, as condições teriam que ser iguais em todos os níveis. A maioria dos deputados e vereadores usa os próprios funcionários de suas casas legislativas, de seus gabinetes, para fazerem campanhas. E quem não tem recursos? A verba do Fundo Partidário e Eleitoral fica para os mesmos donos e mandantes dos diretórios nacionais (muitos embolsam a grana), e os regionais recebem uma merreca para fazer uns “santinhos”.

Por sua vez, tem o eleitor que vota no mesmo candidato há 40 anos, como ocorre a olhos vistos em Vitória da Conquista. A política, do jeito que ela é feita, tornou-se uma carreira profissional, e o povo, com toda sua grande mediocridade e pobreza, tem sua parcela de culpa nessa história macabra.

O sistema, no fundo, continua coronelista através da compra do voto, com outros métodos pouco mais sofisticados. Por que a nossa Câmara de Conquista continua pouco representativa, de baixa produtividade, de raros projetos de lei, baixo conteúdo legislativo e muito amém ao poder executivo? Para que 21 vereadores? Conquista não tem uma Câmara à altura da sua cidade, a terceira maior da Bahia com mais de 300 mil habitantes!

Passa eleição e entra eleição, e nada de reforma política para mudar esse quadro vicioso, primitivista e permissivo para a sociedade. Para enganar os bestas e otários, vez por outra fazem umas emendas aqui e acolá, que só fazem proteger a eles mesmos. O velho coronel continua lá sentado em seu trono apodrecido e fedorento, com seu cajado da oligarquia, da plutocracia e da burguesia, desde os tempos do início da República que já começou anciã.

Por que, mesmo correndo risco de vida por causa da pandemia da Covid-19, uma multidão de eleitores se aglomera nas praças para participar e levantar as bandeiras do seu candidato, com tanto fervor, não importando se ele é ladrão e mau gestor?

Há anos, e até séculos, eles (eleitores) foram talhados culturalmente pelo sistema perverso para assim procederem como robôs. Cada vez mais cortam a educação e o saber para que a grande maioria da população continue analfabeta, inculta e ignorante, para que ela vote nos mesmos de sempre. Como diz o ditado, “nêgo” corre da reforma política, “como o cão corre da cruz”.