Quando os europeus chegaram em 1930 em nova Guiné ficaram surpresos ao ver paisagens semelhantes à da Holanda. Viram extensos vales completamente desmatados e pontilhados de aldeias, e campos drenados e cercados para a produção intensiva de alimentos. Os papuas das planícies e do litoral são aldeões que dependem muito do peixe, enquanto os que vivem em terrenos secos sobrevivem cultivando a banana e o inhame, complementando com a caça.

Em sua história, os habitantes da Nova Guiné sofreram vários golpes biológicos e geográficos que dificultaram seu desenvolvimento, como o fato das zonas centrais das montanhas serem as únicas áreas ideais para a produção intensiva de alimentos. A população nunca passou de um milhão até que os europeus levaram para lá a medicina e puseram fim às guerras entre as tribos.

NOVA GUINÉ NÃO PODE AVANÇAR

Com essas descrições o autor do livro “Armas, Germes e Aço”, Jared Diamond diz que, com cerca de um milhão de pessoas, Nova Guiné não pode avançar muito na tecnologia, na escrita e no sistema de política, como ocorreu no Crescente Fértil, na China, nos Andes e na Mesoamérica, com milhões de pessoas.

Antes de entrar no capítulo “Como a China Tornou-se Chinesa”, o cientista faz uma viagem por nova Guiné e afirma que ela tem a maior concentração de idiomas do mundo. Mil das seis mil línguas do mundo abarrotam uma área pouco maior que a do Texas. São divididas em várias famílias linguísticas tão diferentes como o inglês do chinês.

Ele fala dos vizinhos, como os aborígines australianos caçadores-coletores que quase nada tinham a oferecer aos papuas, bem como as ilhotas Bismarck e Salomão. Sobre a Indonésia, esta foi ocupada por produtores de alimentos originários da Ásia que de lá partiram para Nova Guiné e outras regiões.

Os chamados austranésios (origem da China) se estabeleceram nas ilhas oeste, norte e leste da Nova Guiné onde introduziram a cerâmica, as galinhas e, provavelmente, cães e porcos. Nos últimos mil anos, o comércio ligou Nova Guiné às comunidades mais avançadas de Java e da China.

Nova Guiné exportava plumas de aves e especiarias e recebia mercadorias, como artigos de luxo e porcelana do sudeste da Ásia. Isso não havia acontecido até 1511 quando os portugueses chegaram às ilhas Molucas e interceptaram os avanços da Indonésia. A colonização deixou um extermínio de mamíferos, tanto em Nova Guiné como na Austrália. O único mamífero domesticado de fora foi o cachorro da Ásia.

Diamond descreve a situação climática na Austrália, de terras estéreis e de secas implacáveis. Por causa desses fatores, a agricultura lá continua até hoje sendo um negócio arriscado. Algumas plantas como o inhame, o inhame branco e araruta são cultivadas em Nova Guiné, mas crescem também no norte da Austrália, que têm pastagens favoráveis aos cangurus. Os aborígines ficavam nas regiões mais úmidas e mais produtivas, mas os europeus os expulsaram de suas terras, com matanças generalizadas.

Mesmo com terras inóspitas, a Austrália conseguia fazer colheitas de sementes de milhete silvestre (família do sorgo), que era a base da agricultura chinesa antiga. As ferramentas usadas, como a faca de pedra e o rebolo eram semelhantes às inventadas de forma independente no Crescente Fértil. A situação geográfica limitou a população de caçadores na Austrália. Com isso, possuía bem menos inventores potenciais que os milhões da China e da Mesoamérica.

  Nas épocas do Pleistoceno o nível do mar estava baixo (estreito de Bass que separa a Tasmânia da Austrália) e isso proporcionou a distribuição pelo continente. Quando o estreito foi inundado há dez mil anos, a população da Tasmânia ficou totalmente isolada. Quando foram encontrados pelos europeus, em 1642, sua cultura era simples como qualquer outro povo moderno. Os trezentos mil caçadores australianos eram bem mais numerosos e menos isolados que os tasmanianos.

Quanto a Austrália, Diamond destaca que não existem provas de que qualquer tecnologia nova tenha chegado por lá, vinda da Indonésia, depois da colonização inicial há 40 mil anos, até o aparecimento do dingo (cachorro), por volta de 1500 a.C. O dingo chegou no auge da expansão austronésia, a partir do sul da China, através da Indonésia. Nos tempos históricos, a Austrália era visitada por canoas vindas do distrito de Macassar, das ilhas indonésias até que o governo australiano proibir os contatos, em 1907.

Do outro lado da estreita faixa de água, conhecido como estreito de Torres, agricultores da Nova Guiné (línguas papuas) tinham porcos, cerâmica, arcos e flechas. Eles encontraram caçadores australianos (línguas australianas) e não tinham os mesmos objetos dos papuas. Haviam visitas comerciais regulares, mas essas atividades eram alternadas com a guerra, com a finalidade de caçar e capturar mulheres para servirem de esposas. Apesar da diluição da cultura da Nova Guiné, um pouco de influência chegou à Austrália, como anzóis de concha e as canoas.

Poucas características da Nova Guiné se difundiu na Austrália. Se tivesse ocorrido contatos entre os agricultores das montanhas da Nova Guiné com os aborígines das montanhas do sudeste da Austrália, poderia ter ocorrida transferência intensiva na produção de alimentos. No entanto, essas montanhas são separadas por mais de três mil quilômetros.

Um navegante português descobriu a Nova Guiné, em 1526. A Holanda ocupou a metade ocidental, em 1828, e a Inglaterra e a Alemanha dividiram a metade oriental, em 1884. Os europeus demoraram muito tempo para penetrar no interior, mas. em 960, os governos haviam estabelecido o controle político na maior parte da Nova Guiné.

Eram os europeus que tinham embarcações para atravessar o oceano e bússolas para viajar, os sistemas de escrita e as impressoras para produzir mapas. No entanto, até hoje os papuas ocupam a maior parte do território. Isso contrasta com a Austrália e África do Sul. O que dificultou a expansão maior dos europeus em Nova Guiné foram a malária e as doenças tropicais.

Como as doenças infecciosas do continente asiático estavam instaladas na Indonésia, os papuas ficaram expostos durante muito tempo e criaram mais resistência aos germes eurasianos do que os aborígines australianos. As culturas agrícolas europeias e o gado bovino não se desenvolveram bem no ambiente da Nova Guiné.