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:: 8/ago/2020 . 1:09

OS PREDADORES DO MEIO AMBIENTE E A SENHA PARA O ÓDIO E A INTOLERÂNCIA

Ao invés de combater as causas, ou atacar a raiz do problema, todas as vezes que a Amazônia e o Pantanal ardem em chamas, o cara do governo e seus seguidores mandam a marinha e o exército para a linha de frente apagar o fogo, como forma de maquiar uma agenda voltada para a destruição do meio ambiente. O certo não seria primeiro evitar os desmatamentos através do cumprimento das leis?

Essa é uma forma de tentar confundir a opinião pública brasileira e, ao mesmo tempo, enganar os grandes investidores nacionais e internacionais de que o governo federal está comprometido em preservar a natureza. No entanto, suas ações de abrandar a legislação ambiental entram em completa contradição.

“Fiscalização não é prioridade”

A primeira atitude do capitão ao assumir a Presidência da República foi dizer que a fiscalização contra os desmatamentos não era sua prioridade e, para comprovar isso, logo providenciou desmontar as estruturas do Ibama, do Instituto Chico Mendes e da Funai, como forma de passar a “boiada” dos regramentos, conforme ficou explícito na fala do ministro do Meio Ambiente, que está mais para predador.

Não dá para entender como um governo faz acordos com garimpeiros ilegais e alguns índios manipulados por criminosos, para interromper uma fiscalização num local onde a terra que antes era coberta por árvores, protegendo a flora e a fauna, virou escombros, sem contar a contaminação dos rios por produtos venenosos. Como entender um governo que exonera diretores e pune fiscais do Ibama porque foram rigorosos contra os grileiros e garimpeiros, queimando maquinários?

O ministro da Economia é outro que procura jogar o lixo debaixo do tapete ao justificar o aumento das queimadas brasileiras, consequência dos desmatamentos por parte de grileiros e produtores rurais, lembrando aos estrangeiros que eles no passado devastaram as florestas da Europa, o Velho Mundo, através das guerras sangrentas e do uso das terras para criação e produção de alimentos. Ainda pede que eles sejam gentis como nós somos.

Senhor ministro, primeiro um erro não justifica outro, e segundo, ao longo dos últimos 60 ou 70 anos, os governos europeus trabalharam para corrigir os grandes desastres cometidos contra o meio ambiente, fazendo a cobertura vegetal do solo através do reflorestamento de quase metade de seus territórios e despoluindo muitos rios! Foi como se dissesse: Se vocês desmataram, agora é a nossa vez, quando o caminho não é por aí.

O vice-presidente da República e agora presidente de um Conselho da Amazônia (só deles) reconhece que houve aumento do desmatamento, mas, do outro lado, nega os dados do Instituto Nacional de Pesquisas. É assim que eles querem convencer os investidores de que estão zelando por nossa casa? É subestimar a inteligência dos outros!

As senhas da destruição e do ódio

Todas essas práticas nefastas contra o meio ambiente soam como se o governo estivesse abrindo a senha para a entrada franca dos predadores, numa quebra das regras. É como se dissesse que esse governo não veio para construir, mas para destruir.

O sinal não foi aberto somente para os destruidores do meio ambiente, mas também para os racistas, nazifascistas, misóginos, os negacionistas da ciência, os defensores de uma intervenção militar e para os homofóbicos saírem de suas tocas para destilar seu veneno do ódio e da intolerância, daí o aumento dos feminicídios, dos ataques aos negros, aos homossexuais e outras categorias que não comungam com suas ideias antidemocráticas.

Como se estivéssemos nos tempos da ditadura, o Ministério da Justiça montou um dossiê para acompanhar, retaliar e inquerir contra movimentos antifascistas, inclusive professores, considerados opositores e inimigos de uma agenda autoritária e discriminatória que se instalou no governo atual sob o comando do capitão-presidente e seus generais de plantão.

 

 

 

 

O INTERVALO DO DIABO

E mais um texto-prosa que faz parte do livro “ANDANÇAS”, de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário, que pode ser encontrado na livraria Nobel e na Banca Central, em Vitória da Conquista.

Salustiano Querosene do Pavio é um trabalhador braçal que nasceu e vive há anos nos confins dos grotões deste Brasil que muita gente diz que é aonde o diabo gosta e o vento faz a curva, cafundós do Judas ou o fim do mundo. Salustiano e a gente daquele pedaço de chão nem existem como seres humanos cidadãos, mas já ouviram falar das artimanhas do Diabo, ou do Belzebu Satanás chifrudo que não perde um descuido ou um intervalo de fraqueza para roubar uma alma.

Quando Salustiano não tem dinheiro, e isso é quase sempre, para comprar na venda o querosene de acender o candeeiro pra clarear seu casebre, ele apela para o óleo de mamona extraído dos bagos pisados no pilão. O pavio é feito do algodão colhido de um pequeno plantio de sua roça. Quando não tem algodão vai mesmo um pedaço velho de pano. O pior de tudo é a escuridão quando o Diabo mais aprecia para fazer suas assombrações.

Teve um tempo que Salustiano vendia querosene e pavio, mas o negócio não foi pra frente por causa dos fiados que não recebia. Restou o seu nome dado pelo povo. Essa expressão  “pobre diabo”, pessoa que trabalha como condenado e nada tem, escrava do poder e que não incomoda ninguém, é o típico Salustiano.

Mesmo temente a Deus, ele sabe e sente na carne e na alma que é um “pobre diabo”, só não sabia que desde a antiguidade, nos tempos dos bárbaros, antes e depois de Cristo, inclusive nas Cruzadas e na Idade Média, existiu uma sociedade secreta chamada de “O Intervalo do Diabo”, onde a entidade era reverenciada como deus da fortuna para uns poucos e da desgraça para os que se arrastavam na miséria e na ignorância.

Com ou sem sociedade, o Diabo, que não é nada de pobre, não dispensa seu intervalo na concorrência com Deus e sempre aumenta seu espaço através dos tempos, ainda mais materializada nos atuais, sem precisar de muito esforço e tentação. Às vezes, Ele se disfarçar de Deus para atrair a atenção e conseguir mais e mais intervalo, inclusive em horários nobres. A competição é uma arte na busca por mais clientes, e a disputa é acirrada.

Sem perceber, Salustiano sempre está caindo no papo Dele, mas não é só ele que é iludido, é muita gente mesmo, sem contar que o danado Rabudo é exímio marqueteiro e garoto propaganda dos templos sagrados. Se nas inquisições da Idade Média Ele deitou e rolou, agora na era do consumismo o Lúcifer está se esbaldando. O charme é que para confundir, o Diabo tem vários nomes e passaportes diferentes. Roda o mundo em mil disfarces exibindo suas artimanhas. Pode até ser feio para muitos, mas que o bicho é popular, isso é!.

Tem-se como certo que o Diabo é tirânico e vingador, mas esta caricatura também foi imputada a Deus pelo Antigo Testamento e através dos temidos frades pregadores da Igreja Católica com suas palavras que cortavam como chibatadas salgadas nas almas pecadoras condenadas a arder no fogo do inferno. Nos púlpitos condenatórios, o Diabo triunfa e ganha seus intervalos.

Dizem que Ele está sempre na espreita em cada rota, em cada estrada e encruzilhada da vida atrás do seu precioso intervalo em forma de prazer e dor. Salustiano Querosene sempre teve um bom coração e cuidou bem da sua família. Quando podia, ajudava seus semelhantes e procurava cortar outro caminho para desviar do Diabo, mas o capeta estava sempre na moita.

Um dia Ele chegou na varanda de sua casa bem de mansinho e cochichou uma intriga em seu ouvido de que sua mulher estava lhe traindo com seu melhor compadre. Pior que Salustiano já trazia uma ponta de cisma da amizade e do olhar entre os dois. Com o intervalo que conseguiu, o Chifrudo agora podia voltar depois para fazer o serviço completo.

Com aquilo no juízo, Salustiano Querosene, marcado pelas labutas do dia-a-dia, sem sucessos e sem garantias de uma vida melhor, foi se enchendo de raiva e amargura em seu coração. Os pensamentos ruins formigavam em sua cabeça roendo seus neurônios. Sempre foi temente a Deus, mas o Diabo tinha seu intervalo.

Sacudido por mais um fracasso em sua roça castigada pela seca e num intervalo fulminante da ira, Salustiano sangrou sua mulher em frente dos filhos. Matou ainda seu compadre vizinho e sumiu no mundo para terras estranhas onde ninguém nunca mais o encontro.

Todos disseram por aquelas redondezas que Salustiano estava com o Diabo no corpo. Alguém contou que viu ele com uma peixeira na mão passar veloz como o vento no cruzamento do povoado mais próximo. Parecia mais com uma onça escorraçada depois de um ataque surpresa. Rápido, o “pobre diabo” melado de sangue sumiu no agreste cinzento da paisagem árida.

 

 

 





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