Albán González – jornalista

Minha avó espanhola costumava chamar a pessoa idosa, ranzinza, de “velho rabugento”. O prefeito Herzem Gusmão, que parece estar sempre irritadiço, principalmente agora que seu grande adversário é uma criatura invisível, que vem atrapalhando seus planos de passar mais quatro anos na prefeitura de Vitória da Conquista, esquecendo que 70 anos é a idade limite para o servidor público se aposentar. Minha avó Áurea teria mandado nosso alcaide vestir o pijama e voltar a fazer o circuito das emissoras de rádio da cidade, o que lhe dá um enorme prazer

Eleito por aqueles que não suportavam mais testemunhar os mensalões e petrolões, patrocinados pelo PT nacional, e como não havia outra opção, a maioria dos conquistenses, principalmente as classes A e B, elegeu Herzem. Prestes a completar seu quarto ano de mandato, o radialista, que no passado empunhou a bandeira vermelha do Partido dos Trabalhadores, teve o apoio dos irmãos Vieira Lima e do ex-presidente Michel Temer, alvos da Lava-Jato. Em vez de trabalhar pela cidade, acusou seus antecessores por ter colocado em suas mãos um “abacaxi”, que pretende continuar a descascar pelos próximos quatro anos.

Indiferente ao aumento dos números de mortos, contaminados e de leitos ocupados, vítimas da Covid – 19, após a reabertura do comércio e dos templos religiosos, no último dia 1º, pressionado por uma parcela do seu eleitorado, constituída por lojistas e evangélicos – as igrejas católicas permanecem fechadas – Herzem trava uma disputa contra o governo estadual, a Justiça, o Ministério Público, organizações mundiais de saúde, pesquisadores e infectologistas, para manter as lojas abertas e a realização de cultos em recintos fechados.

Segundo Herzem, com bases em estudos técnicos, a Covid -19 está sob controle em Conquista, razão pela qual não vê razão para cumprir a Ação Cível Pública, assinada pela promotora Guiomar Oliveira Neto, pedindo a revogação do decreto que determinou a reabertura do comércio e das igrejas evangélicas.

As autoridades municipais fecham os olhos para as aglomerações no Centro, com filas nas portas dos bancos, lotéricas e estabelecimentos comerciais; à chegada de ônibus clandestinos, vindos de São Paulo, trazendo passageiros contaminados pelo vírus; ruas fechadas, passageiros dos ônibus sob a chuva, caos no trânsito, para que o prefeito possa entregar à cidade o novo Terminal da Lauro de Freitas, seu carro-chefe da campanha pela reeleição. Por último, avalizou a queima de fogueiras e de fogos de artifícios, proibidos por médicos e sanitaristas, no segundo feriado de São João, que havia sido antecipado por decreto estadual.

A crise sanitária em Conquista, causada pelo novo coronavírus, seria melhor administrada se Herzem tomasse como exemplo a conduta do seu novo guru, o prefeito de Salvador, ACM Neto, que deu as mãos ao seu adversário político, o governador Rui Costa, numa frente de batalha contra o vírus. Para ambos, a vida humana é mais preciosa. Contudo, o conquistense prefere a guerra de palavras, levar a doença para o terreno da política, ao modelo do seu mito, o presidente Bolsonaro.