Quando se fala em carnaval pensa-se logo em rua onde as pessoas têm mais espaço para se movimentar, brincar e criar blocos. A festa em lugar fechado dá a sensação de se estar num clube. Tem seu lado bom porque nos faz lembrar dos velhos tempos dos bons carnavais, que não mais existem.

Fotos de Vandilza Gonçalves

Neste ano, aconteceu no Espaço Glauber Rocha, no Bairro Brasil, o Carnaval Cultural de Conquista (ano passado foi no Bulevar Shopping). Até aí tudo bem, mas o que assustou os participantes foram os preços cobrados pelas bebidas e comidas lá dentro.

Os barraqueiros cobraram cinco reais por uma latinha de cerveja de 350 ml porque eram obrigados a pegar o produto só na distribuidora dos organizadores do evento, sem falar nos trezentos reais pelo ponto. Muitos preferiram tomar sua bebida na rua por três reais a latinha.

Nos supermercados e nas distribuidoras da cidade, o consumidor consegue comprar uma lata por dois reais e até menos que isso em alguns lugares. Por cinco reais significa mais de 100% de lucro, o que já é muita exploração, mesmo levando em consideração os gastos com as bandas e pessoas de segurança e do som.

Fora a exploração que foi a principal reclamação, o Carnaval Cultural de Conquista ocorreu em clima de paz e tranquilidade, com boas músicas que animaram os foliões, com as bandas de sopro circulando no circuito do Glauber Rocha, com marchinhas dos tempos antigos.

Mesmo com atraso, no domingo o mini trio da banda do cantor e compositor Baducha, com sua jinga de carnavalesco e boas músicas, arrasou e não deixou ninguém parado. Pela sua apresentação no palco, Baducha pode fazer sucesso em qualquer trio elétrico de Salvador, bem melhor que muitas porcarias que desfilam nas avenidas da capital.

Mesmo com alguns problemas, principalmente no quesito exploração, a organização ofereceu uma opção de diversão para quem não pode viajar por falta de grana e terminou ficando em Vitória da Conquista que nestes dias tem pouco movimento nas ruas.

Só para lembrar, Conquista já teve bons carnavais que começaram lá pelos idos de 1927 e teve suas micaretas de sucesso, competindo com Feira de Santana, em finais dos anos 80 e na década de 90. No Governo do PT a festa foi minguando até se acabar. Somente de uns anos para cá surgiu o Carnaval Cultural, com um pouco de raiz nos eventos do passado.

Mais uma vez volto a falar que o país, na situação em que se encontra, com toda essa crise social, econômica e política, não deveria se dar ao luxo de ficar uma semana parada. Os empresários e governantes dizem que a festa dá lucro, o que é uma tremenda mentira. Salvador, por exemplo, tira dos cofres públicos mais de 150 milhões de reais, sem contar os gastos com logística e segurança.

O contribuinte paga um absurdo para os artistas famosos de sempre (todos afortunados com recursos públicos), que apresentam um lixo em termos de músicas, e o povo alienado no asfalto cobre seus “ídolos” de aplausos e elogios. Os arrastas chinelos pipoqueiros fazem tudo o que eles mandam, sem consciência de que estão pagando um preço alto.

Se for fazer um cálculo através do PIB do país, contabilizando as perdas diárias na produção, mais prejuízos no SUS com o aumento de acidentes e outras despesas do Estado na prestação de serviços na organização, o carnaval gera um déficit e serve para deixar o rico mais rico e o pobre mais pobre.

Por outro lado, a nossa mídia, que embolsa muita verba dos patrocinadores, não divulga nem um terço da violência da festa, para não passar uma imagem negativa para os turistas, principalmente os gringos. Multidões vão às ruas e às praças, chegando a mais de um milhão em alguns blocos.

Vá organizar uma manifestação contra os desmandos dos governantes na falta de educação e saúde, principalmente, aparece, quando muito, uns poucos milhares, e olhe lá. Ninguém mais quer saber de política, enquanto os políticos se esbaldam e fazem o que bem querem, defendendo seus próprios interesses. Exploram, oprimem e até roubam nosso suado dinheiro.