:: 20/fev/2020 . 23:54
TRISTE SAGA DO JUMENTO
Poema e foto de autoria de Jeremias Macário
Vou louvar a triste saga do jumento.
Conta o Sagrado Novo Testamento:
Um burrico fez sua longa jornada
Pelo Oriente deserto de guerra e dor,
Para salvar o divino menino Salvador.
Jumento, asno ou jegue deram seu nome;
Fez travessia nas caravelas portuguesas,
Os descendentes dessa raça resistentes,
Como camelos mercadores dos beduínos;
Trilhou estradas dos imperadores latinos;
Veio aqui construir do Brasil as riquezas,
Até virar símbolo dos agrestes nordestinos.
Muitos séculos tropeando ao sol do labor;
Na carga feirando mantimentos do senhor;
Enfrentou secas salinas de léguas andanças;
Esperou voltar os retirantes das esperanças;
Nas cangalhas transportou até as mudanças;
E o tempo passou e veio o cavalo de fogo,
Para selar a sua triste sina num abatedor.
Maltratado sofreu sede e fome num curral,
Pela ganância do capital dessa gente brutal,
O homem indecente da sua pele fez escalpo
Do inocente jumento que tanto trabalhou,
Para brindar os chineses com o tal de Eijao;
Da carne fazer temperos com água e sal
Comida exótica do nosso jegue tropical.
Oh quanta tristeza neste sertão de poeira!
Não vejo jegue descendo e subindo ladeira!
Até a cultura popular está indo embora,
Neste agora deste Nordeste cabra da peste!
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