FLOR E DOR
Poema de autoria do jornalista Jeremias Macário
FLOR E DOR
Vou contar pra você, seu moço!
Quando ainda ginasiano,
No declinar do verbo latino
Ouvia falar e ainda ouço
Que toda poesia
Como piano, a flauta e o violino
Que comandam a sinfonia
Tinha que ter flor, luar e amor.
O poeta tinha que saber imitar
O canto do sabiá e da cotovia;
Tinha que ser melancólico,
Pálido, alcoólico e doente;
Ser o pôr-do-sol poente
Pra falar da angústia,
Dor e sofrimento da gente;
Viver como um bem-te-vi;
Andar como cigano;
Ser boêmio e até insano;
Passar noites sem dormir,
Como um penado zumbi;
Ser bem íntimo da morte;
Isalar o cheiro da depressão;
Abalar todo coração
Das mulheres românticas,
Doces, sensuais e platônicas;
Ser a cápsula do tempo;
Comer dos manjares dos deuses;
Ser irmão do ar e do vento;
Renegar todo sacramento;
Ser orvalho do amanhã sereno;
Conversar com Zeus;
Provar de todo veneno;
Entender os fariseus,
E pelo menos ter
Uma musa inspiradora,
Não importando,
Se obtusa, confusa ou pecadora.