As nuvens estão sombrias e pesadas. O tempo está carrancudo e fechado. Não é apenas um eclipse solar com seus fenômenos naturais. Estamos em plenas trevas, num túnel obscuro dos fantasmas do horror da Idade Média de há pouco mais de mil anos onde se queimavam pessoas vivas nas fogueiras das inquisições por causa de suas ideias libertárias e suas religiões diferentes. A ciência e as letras eram vistas como bruxarias satânicas do mal. As obras eram como inimigas que tinham o destino do fogo em praças públicas. Seus autores excomungados, e a liberdade de se expressar, um crime hediondo a ser castigado.

O quadro do obscurantismo extremo da irracionalidade e do medo pode ser considerado como exagerado. Então avancemos para o século XX, por volta da década de 30 na Alemanha arrasada que, para se salvar, abraçou o nacionalismo nazifascista com marchas de ódio racista, homofóbica e xenófoba contra judeus e outras minorias. Também lá a violência e a estupidez começaram aos poucos em doses homeopáticas, e quase ninguém resistia e reagia. Os livros e as artes contrários ao regime tinham o destino das fogueiras. O resto muita gente sabe o que aconteceu: O extermínio e a fuga desesperada para se livrar dos massacres.

Estamos agora em pleno Brasil do ano de 2019 com um governo de ideias obscuras ultraconservadoras que está massacrando as poucas conquistas, a nossa cultura, os negros, os indígenas, o meio ambiente e as minorias discriminadas. Com sua senha extremista, está disseminando a matança soldadesca e instigando o ataque às artes, consideradas pelo novo regime antidemocrático, como satânicas, sexistas e influenciadoras do analfabetismo e das drogas. É um cenário de escuridão, contra ao qual pouca reação registrada. E assim vai o nosso país sendo esmagado de volta ao obscurantismo da Idade Média e ao fascismo mais recente europeu.

Tantas barbaridades

Nem na época da ditadura civil-militar de 1964 se ouvia tantas barbaridades contra a sociedade como neste governo, no período de um ano, inclusive idiotices arrotadas das bocas pestilentas de deputados, ministros, dirigentes de instituições e governadores que fazem parte da linha retrógrada do presidente que ainda tem a petulância de afirmar que o Brasil vive uma normalidade democrática. Na verdade, uma aparente democracia para preparar o terreno para introduzir o autoritarismo mais na frente. Já proclamaram até que a terra é plana.

Vamos aqui procurar listar alguns absurdos que muita gente não leva em conta por achar que o cara estava fora do seu juízo normal. Todos tocam suas vidas individuais, cegas, surdas e mudas. Mesmo postando do próprio punho nas redes sociais, ou falando de viva voz, muitos, por incrível que pareça, rebatem que é deturpação da mídia, como a do ministro da Educação que chamou os professore de “zebras gordas”. O presidente de cor negra da Fundação Palmares (suspenso por uma liminar de um juiz) escreveu ter a intenção de acabar com o Dia da Consciência Negra, que a escravidão foi “benéfica para os descendentes” e que “não existe racismo no Brasil”, entre outras afrontas ao seu próprio povo. Não vou me ater à questão das cotas porque se trata de um tema polêmico e tolerável do ponto de vista do contraditório.

Na mesma linha da ignorância, de um baixo nível de conhecimento e preparo, o indicado para a Funarte saiu passando o trator na música popular brasileira, nas bandas em geral e no rock, precisamente de que este ritmo leva ao satanismo, ao sexismo e às drogas e de que John Lenon fez um pacto com o diabo (lembra os bluseiros nas encruzilhadas fazendo acordos com o satã). Ele acredita em lenda, e disparou contra Caetano Veloso e outros, de que são responsáveis pelo analfabetismo no país. Coisa de fanático fundamentalista que deixa de queixo caído os degoladores de cabeças do Estado Islâmico, ou qualquer outro grupo religioso ultrarradical.

Pelo andar da carruagem do retrocesso, de criminalizar a cultura, vão mandar tocar fogo na Biblioteca Nacional, nos museus e quebrar todas estátuas e quadros de nudez dos escultores e pintores da época da renascença. Michelangelo, Leonardo da Vinci, Salvador Dalí e outros serão queimados no fogo do inferno. Os artistas são vagabundos e imprestáveis, como no conceito dos mais antigos no início do século passado, e devem ser banidos da sociedade como marginais e bandidos

A secretária dos Direitos Humanos, que sumiu do mapa maldito das ideologias arcaicas, mandou que meninos vistam azul e meninas vistam rosa. Vamos voltar ao tempo de salas separadas de meninos e meninas, vistos que os professores já estão sendo vigiados, e não podem falar da teoria de gênero e nem dar qualquer tipo de orientação aos seus alunos sobre sexo, palavra que vai voltar a ser tabu nas escolas. Os estudantes que, infelizmente, já ignoram nossa história, vão agora aprender que não houve ditadura e nem tortura no regime militar, como prega o “Bozó”, que prefere, por submissão aos ianques, bater continência para a bandeira do Tio Sam.

Reage Brasil!

Estão fazendo picadinhos da nossa cultura e jogando o resto no lixo, com o corte na educação e nos financiamentos para as linguagens artísticas. Participei recentemente de uma festa literária onde a maioria gritou por resistência, e eu ressaltei que além disso tem que haver reação em cadeia, e não ficarmos restritos a alguns pronunciamentos de repúdio, seguidos do silêncio sepulcral, enquanto a tropa nos pisoteiam. Reage Brasil!

Como se não bastasse, como uma forma de ameaça para não haver manifestações e protestos, deputados e ministros, em nome do chefe e dos generais linha dura, falam de retorno do AI-5, se houver agitações. Logo, logo vão qualificar qualquer movimento de contestação como ato terrorista para justificar um novo AI-5 opressor. Como no poema de Maiakovski já estão adentrando em nossos lares para roubar nossa liberdade, mas, quase ninguém dá valor para isso, se a economia melhorar. Que roubem nossas flores do jardim!

Matança e destruição da natureza

Com a senha dada do atira e abate, sem punição, pelo fascismo bolsonarista, foi o ano em que a polícia matou mais cidadãos inocentes (negros e pobres) do que bandidos. Diante do quadro atual, prefiro ser assaltado por um marginal do que ser abordado por um militar, instituição que deveria ser extinta para ser criado outro modelo de segurança, com outra filosofia de trabalho e de respeito ao povo trabalhador.

Com a senha de não priorizar a fiscalização ao meio ambiente, foi o ano dos maiores desmatamentos e incêndios nas florestas, arrasando a Amazônia, que ele acha que é um problema só do Brasil, em nome de uma soberania que não existe, quando se curvou diante das humilhações dos Estados Unidos. O povo ficou ainda mais dividido e intolerante com suas pregações odiosas, como se ainda estivesse em plena campanha eleitoral contra o PT.

Com sua senha homofóbica e misógina, os preconceituosos ficaram mais violentos contra os grupos LGBTs, em ações nazifascistas, ao ponto de agredirem sedes de associações. Aumentou o número de feminicídios e espancamentos às mulheres. Além da cultura, seu governo está destruindo a União Nacional dos Estudantes e garroteando os sindicatos com medidas escravagistas contra os trabalhadores. Estamos mesmo no túnel do horror à procura de uma luz!