CULTURA DO CORPO
Alta serotonina…
Ficar como uma menina;
bunda dura, cintura fina;
só a plástica que anima;
silicone, química e faxina.
Revolução hormonal;
é o corpo da era do dopado;
deixou de ser morada divina,
para ser uma gata felina.
O que vale é ter boa imagem;
é a cultura do individual,
do corpo sarado e venal.
Sociedade dos patéticos,
dos deuses cosméticos;
são os ingredientes fanáticos,
do mundo dos galácticos,
sem os valores éticos;
vale tudo para a cura;
é a loucura dos estéticos.
Obsessão pela aparência,
da adoração do deus-ciência,
dopada de ansiedade e depressão.
Tem que ter o corpo legal,
no lugar da mente racional.
Ingere laxantes e diuréticos;
vai de dose de anabolizantes,
tanto faz pra cavalos e elefantes.
Prefere ficar cega a ser gordinha;
mato quem me chamar fofinha.
Não existe lugar para enrugado;
quero o corpo todo torneado,
para excitar e deixar tarado;
flacidez é o maior pecado.
É proibido se alimentar;
passa o tempo a contar calorias;
são obscenas minhas estrias.
É a paranoia da lipofobia,
e a dieta é a deusa guia.
Não transgrida os setes pecados:
não comerás frituras;
evitarás gorduras saturadas;
não beberás guaranás;
não experimentarás doces e manjas;
não fraquejarás com os bolos;
não deixarás seduzir pelo chocolate;
e nada de cervejas ou malte.
Nefropatia, vigorexia, anorexia, bulimia:
moda da mente fraca e doentia.
Prefere a cegueira da razão,
que separar de sua única paixão.
Narciso tem de ser liso ou lisa:
diet – light – botox – lifting.
É o apelo da cultura cretina,
que banalizou e virou rotina,
numa mistura masculina e feminina:
consumo e consumismo banal,
na moda do mundo superficial.