Poema de autoria de Jeremias Macário

Palavras perseguem, desencantam, encantam;

grudam no canto do cérebro e martelam na melodia;

cantam em prosa e verso  no compasso da filosofia.

 

Aparecem frescas na madrugada de borrões fortes;

roubam o espaço do amor com pincéis de  sangue;

brotam como raízes exuberantes soltas em mangue,

no barco veloz das folhas, cortando como os serrotes.

 

Surgem como condes nobres, ou tabaréus lá do norte;

uma cambaleia em fome,  balbucia como tísico pobre;

outra se reparte em fatias e monta o enredo do caixote.

 

São serpentes de dentes afiados, ou como mastodôntico;

podem ser centopéias, ou até mesmo um deus platônico,

que sempre querem indicar as veredas da nossa andança;

ferram nossa pele e nos trançam com a dor da lembrança.

 

Pedem mil perdões e aparecem na forma de um isotônico,

nos açoitam e nos transportam para um mundo catatônico;

por vezes nos faz bailar no salão de espelhos da real dança.

 

Chicoteiam nosso espírito, ora tranquilas, ora raivosas;

cheiram como as rosas, pela terra germinam e dormem;

duras como as rochas nas histórias de versos e de prosas;

as palavras são serpentes devastadoras que nunca morrem.

 

Em poemas de vários temas, nos filmes e nos teoremas,

viram feiticeiras e lendas como as pirâmides faraônicas;

são as  românticas e as semânticas das línguas românicas.

 

Trovas tiradas tiranas da viola do repente do cantador;

no coco, nas emboladas como as trovoadas de sertão;

no cordel  como fel, falando do Satanás e do Senhor;

as palavras revivem o cangaço do nordestino Lampião.

 

Nos folclores dos agrestes e nos causos dos coronéis,

que compram suas patentes e molestam suas meninas,

as palavras cospem brasas nos gatilhos das carabinas,

 

São como serpentes traiçoeiras das florestas escuras;

escondidas como sacis e disfarçadas de índio curupira;

são os escombros das guerras e as canções de ternuras;

são os eruditos, clássicos escritos e do humilde caipira.

 

Percorrem os séculos, impregnadas no ditado popular,

vagando de geração em geração em nossos pensamentos;

no politicamente correto caem bem no vernáculo vulgar.