Não quero ser nenhuma ave agourenta, e torço para que não ocorra outro fato ainda pior, mas antes do término de 2019, podemos assegurar que o meio ambiente no Brasil, neste ano, foi altamente ferido por três piores desastres ecológicos dos últimos anos, atingindo em cheio o Norte e o Nordeste. No início do ano tivemos a lama da Barragem de Brumadinho (Minas Gerais) com mais de 200 mortes, em junho e julho as chamas na Amazônia, e agora o óleo nas praias nordestinas.

Coincidência, ou não, tudo isso justamente num governo que começou a desmontar toda uma estrutura, mesmo com suas deficiências, de preservação da natureza, e dar uma senha de desprezo pelas leis ambientais constituídas, como liberação de mais agrotóxicos proibidos, intenção de limitar as reservas indígenas da Amazônia (exploração mineral e agrícola) e até querer transformar Angra dos Reis numa Cancun mexicana, sem contar a indicação de gente despreparada para cargos importantes em órgãos do setor.

O pior de tudo é que todos estes terríveis acidentes foram provocados diretamente pelo homem, e não pela ação de revolta da própria natureza que há séculos vem sendo castigada e depredada pelo ser humano, como as sujeiras do lixo, o gás carbônico jogado no ar, o desmatamento indiscriminado, poluição dos rios e outra série de agressões contra o nosso território chamado Brasil.

Tragédias anunciadas

O caso do rompimento da Barragem de Brumadinho, como em Mariana, já era uma tragédia anunciada, e outras mais estão ai para acontecer por falta de fiscalização, cumprimento das leis e a impunidade contra os responsáveis. Logo que ocorre, as investigações são obscuras e contraditórias, e a Justiça muito lenta nas ações. Praticamente não se pagam as multas.

Como no incêndio na Boate Kis, no Rio Grande do Sul, os técnicos e órgãos do governo correm para fiscalizar os outros estabelecimentos na questão da prevenção de segurança e uso de equipamentos recomendados, mas logo relaxam a vigilância. Quanto as barragens de rejeitos minerais, fizeram o mesmo, mas, há muito tempo que não se falam nisso, nem a mídia faz cobranças. É uma tragédia roubando a cena da outra.

No meio do ano, a Amazônia começou a pegar fogo, também uma tragédia anunciada por causa dos desmatamentos feitos com antecedência e com o propósito de incendiar as terras. O governo do despreparado e ultraconservador capitão-presidente “Bozó” culpou as Ongs, quando, na verdade, foram os fazendeiros ruralistas, colocando a economia acima do meio ambiente, mesmo que seja à custa da sua própria destruição.

Por vários dias, a Amazônia viveu em chamas, e o exército virou corpo de bombeiros, mas o estrago já estava feito diante da incapacidade de gerir nosso sistema ecológico. A única coisa foi falar em soberania, e que a Amazônia é nossa. Disso todos sabem, só que o problema do meio ambiente é uma questão global que afeta todo planeta.

Um país desguarnecido

Há mais de dois meses só se fala em óleo em toda costa nordestina, e ninguém sabe quem derramou o produto. O governo esconde a investigação sobre a origem para politicamente atacar a Venezuela, e outra vez a Ong internacional Grenpeace. Passam todo tempo batendo cabeça, onde cada um (Marinha, Ministério do Meio Ambiente, cientistas e outros) dá o seu palpite para confundir ainda mais.

Novamente chamam o exército para limpar as praias, e os voluntários se metem a fazer o mesmo, sem materiais de proteção, como se fosse um divertimento. Ninguém sabe qual navio despejou o petróleo. Trata-se de um país desguarnecido, como em suas fronteiras secas onde passam todo tipo de armamentos (o governo incentiva o uso de armas), drogas e produtos contrabandeados. Cadê as forças armadas? O Brasil não toma conta de suas fronteiras, nem do nosso mar. Vivemos num país desprotegido.

Os discursos continuam ácidos em meio à lacuna na gestão do meio ambiente. Enquanto isso, as acusações são dirigidas à Venezuela e a uma Ong. Não têm competência nem para caluniar, difamar e injuriar. O próprio Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, com sua incompetência na área, demonstrou isso com sua insinuação “#greenpixe” no Twitter, com uma foto qualquer de 2016. É triste e vergonhoso.

O tom irônico fortalece a suspeita de omissão na limpeza de mais de dois mil quilômetros da costa nordestina. Enquanto aposta nas difamações, pescadores, marisqueiros, toda a população, a fauna e a flora marinha do Nordeste são os maiores sacrificados. Ninguém sabe quem foi o criminoso no país do slogan “Pátria Amada”.