Praticamente a metade dos 417 municípios baianos estão em estado de emergência por causa da seca que voltou a castigar o semiárido que há anos sofre com as estiagens, fazendo entrar em cena os conhecidos carros-pipas, famosos por serem barganhas de votos nos anos eleitorais na chamada “indústria da seca”

Fotos de Jeremias Macário

Na região sudoeste, por exemplo, a situação é bem crítica, principalmente nos municípios de Anagé, Tanhaçu, Brumado, Aracatu, Presidente Jânio Quadros, Maetinga, Condeúba, Cordeiros, Belo Campo, Tremedal e Encruzilhada onde passei neste final de semana e vi de perto a penúria do sertanejo para salvar o resto de seus rebanhos, porque as lavouras se foram.

A paisagem cinzenta

É muito triste ver o verde do sertão ceder lugar para o cinzento dos galhos secos das árvores, e o gado berrando de sede porque os poços, barragens e tanques não têm mais água para os animais, depois de mais de cinco meses sem chover, como confirmou um senhor de Encruzilhada que estava nas margens da estrada pastoreando suas cabras que ainda comiam um resto de bagaço.

Só o mandacaru verde consegue sobreviver na paisagem estorricada, e os mais persistentes se mantém ao seu torrão na espera da graça da chuva que o Deus mandará. Muitos não aguentaram e partiram para outros lugares na busca de um trabalho para matar a fome. O carro-pipa, mandado pelos governantes, demora de chegar e não dá para atender a demanda de todos.

Em passagem por Encruzilhada neste final de semana lembrei dos meus tempos de repórter na ativa quando saia para fazer coberturas jornalísticas sobre a seca neste sertão da Bahia, e sentia o sofrimento do pequeno agricultor para atravessar os períodos de estiagem prolongada. Muitas vezes cheguei a entrar nas cozinhas rústicas de fogão a lenha e só via uma panela cozinhando uns caroços de feijão para o “almoço” de meio-dia.

Os tempos passaram, e a situação continua a mesma, sem uma solução onde o homem possa conviver com a seca. Os governantes só fazem prometer. Passa eleição e o quadro só faz piorar a cada ano de seca.  Os projetos ficam pela metade porque a corrupção leva a outra parte. Os carros-pipas nunca saem de cena. Aliás, bem que já poderiam ser tombados como patrimônio nacional. Uma vergonha!