Poema inédito e mais novo de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Somos volúpias carnais infernais,

Ternos, tiranos irracionais radicais,

Hienas caçadoras carniceiras,

Águias de garras traiçoeiras,

Gaviões famintos nos galinheiros,

Gafanhotos destruindo plantações,

Mandacarus sobreviventes do sertão

Fogo e fumaça em erupção.

 

Somos água seca da cacimba,

O cangaço retorcido de aço,

O silêncio que vem lá de cima

Do universo sideral dos céus,

Gentes inocentes incoerentes,

Com a mente que sempre mente

Sentados nos bancos dos réus.

 

Somos feiticeiros de religiões,

Arrastando legiões carneiras;

Somos todos paus de atiradeiras,

Fingindo ser o que não somos

Nesta vereda de tantos ramos,

Em noites embriagadas de vinhos,

Tentado arrancar nossos espinhos.

 

Somos aves, passarinhos gigantes,

O céu e o inferno de Dantes,

O vento forte que vem do norte,

Madeira de ferro pra toda obra,

Que vive correndo atrás da hora,

Ora rir feliz e ora triste chora,

Sofrendo com o aqui e o agora.