Carlos Albán González – jornalista

Colega e amigo Jeremias, entendo perfeitamente seu desapontamento com o movimento cultural, que não é de hoje, não somente em Vitória da Conquista, mas em todo o País. Concordo que é frustrante para um escritor, após três anos de trabalho, ver que o seu livro será lido por poucos. Você deve estar lembrado que, recentemente, um nosso colega aqui esteve, a convite da prefeitura. Naquela noite, no Memorial Régis Pacheco, ele autografou apenas quatro exemplares de sua obra literária.

A título de consolo, peço permissão para afirmar que, naquele encontro do último dia 14, tanto você como a artista plástica Elizabeth David, que expôs seus belos quadros, devem ter feito uma avaliação dos amigos que aqui possuem, dispostos a impedir que a cultura em Vitória da Conquista atinja o fundo do poço. Ninguém em sã consciência perdoa a ausência de um representante da Secretaria de Cultura do município, e da Câmara de Vereadores.

Imperdoável é que entre os ausentes figurem dezenas de conquistenses que você prestou favores e lhe bajularam durante o período (14 anos) em que exerceu a chefia da sucursal de “A Tarde” em Conquista. O próprio município tem uma dívida a lhe pagar, em troca da divulgação, inclusive na área cultural, de toda a região sudoeste do estado, pelo jornal de maior circulação do Norte e Nordeste do País.

Seria reprovável de minha parte se não elogiasse iniciativas que deveriam servir de exemplo, Refiro-me à programação artística do Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima, e a sensatez da prefeitura em contratar para os festejos juninos artistas da terra, autênticos forrozeiros, em vez de pagar altos cachês a safadões, intérpretes de um “lixo” que eles chamam de música.

Receio, prezado companheiro, que a censura política, que já pesa sobre a cabeça de alguns dos  nossos colegas, venha lacerar as nossas manifestações artísticas. Repórter de “O Estado de S. Paulo”, no período da ditadura militar, que matérias vetadas pelos censores, eram substituídas por poemas de Camões, inseridos na primeira página do jornal; testemunhei a invasão da Redação de “A Tarde” por soldados armados, para prender um colega, que nunca mais foi visto.

Cinema

Na terra de Glauber Rocha, aplaudido como maior cineasta brasileiro, nem o cinema nacional tem vez.

Como o tema desse comentário é cultura, peço licença para colocar em pauta a 7ª arte, talvez a minha preferida. Começo recordando Glauber, o mais discutido personagem do cinema nacional. Tenho convicção de que a maioria dos conquistenses jamais assistiu a um filme do seu conterrâneo mais famoso, e vai continuar sem ver, enquanto não mudar o raciocínio dos programadores das salas de cinema da cidade.

Há cinco anos residindo nesta cidade ainda não conheço as oito salas de exibição instaladas nos dois shoppings, que, inexplicavelmente, divulgam todas as quintas-feiras a mesma programação, quando sabemos que a concorrência é salutar em qualquer atividade comercial.

Alguém há de perguntar o motivo desse meu boicote aos cinemas de Conquista. Simples. A programação é de péssima qualidade. Extraterrestres, monstros, super-heróis,  filmes infantis ocupam todos os espaços. Provavelmente, o público aprecia, mas por que não reservar, pelo menos, duas salas, semanalmente, para filmes premiados ou candidatos a prêmios, elogiados por críticos especializados?

Poucos sabem que, desde 1932, decreto assinado pelo presidente Getúlio Vargas regulamenta a exibição de filmes nacionais, por mais de 38 dias no ano, nas salas de todos os cinemas do País. Esse período é alterado anualmente pelo Executivo.

Há dois anos a “Cota de Tela”, que prevê sanções pecuniárias aos infratores, não é modificada. A ocupação, por várias semanas, de 80% das salas exibidoras, inclusive em Conquista, pelo filme “Vingadores: Ultimato”, e, mais recentemente, “Alladin”, chamou a atenção do ministro da Cidadania, Osmar Terra, que, imediatamente, alertou o presidente Jair Bolsonaro, que ainda não se pronunciou a respeito.

Cinéfilo desde criança, frequentava as matinês dos domingos dos cinemas de Salvador (Jandaia, Aliança, Pax, Popular, Liceu, Roma, Itapagipe e outros), que já não existem mais. Ao ingressar em “A Tarde” contava com a boa vontade do veterano jornalista Aristóteles Gomes (um dos fundadores do E. C. Bahia), responsável pela guarda das carteirinhas (permanentes), com entrada gratuita, fornecidas pelos exibidores cinematográficos para a imprensa.

Colegas mais antigos, como José Augusto Berbert de Castro (colunista de cinema), Adroaldo Ribeiro Costa (criador do Hino do Bahia), Walmir Palma (folclórico repórter de Polícia), Fernando Rocha (professor da Escola de Jornalismo) fundaram o Clube Western de Cinema. Imediatamente me associei, recebendo a carteirinha e ganhando o direito de comentar e debater excelentes filmes do faroeste americano, cujo gênero foi, lamentavelmente, abandonado por Hollywood.