Depois da guerra civil no triunvirato de Júlio César, Pompeu e Crasso, o sobrinho, ou filho de César divinizado, Otaviano Augusto, mesmo tendo recusado os poderes extraordinários, controlou o Senado, o exército, as províncias, restaurou o reino e fortaleceu como absoluto o império romano, introduzindo inovações e deixando um grande legado para seus sucessores. Governou como rei por mais de 40 anos e restabeleceu a paz.

Enfrentou a ambição de Marco Antônio e, pela sua obra, foi chamado de imperator Caesar Divi Filius (o imperador filho do divino César). A princípio, ignorou o desejo que o corpo de cidadãos tinha de manter sua posição privilegiada no império, e a alta posição atingida pelas duas classes dominantes da comunidade, os senadores e os cavaleiros (homens de negócios), conforme descreve o historiador M. Rostovtzeff, no livro “História de Roma”.

No período de 40 e 30 a.C., as camadas mais altas não desejavam abrir mão de suas posições privilegiadas e serem colocadas em pé de igualdade com a população das províncias. Falava mais alto o orgulho nacional da Itália. Otaviano derrotou Antônio compreendendo este sentimento e se comprometeu manter o predomínio político da Itália.

Sangue novo e restauração

O Estado romano necessitava de sangue novo e de restauração, mas não um novo Estado sobre as ruínas do antigo. Roma não estava morta, e ele tinha a missão de renovar sua antiga glória, mantendo sua posição privilegiada. Os primeiros dois anos que se seguiram ao término da guerra civil foram dedicados por Otaviano à aprovação de medidas.

Agora ele era o chefe do Estado romano, sem contestação para administrá-lo. Suas primeiras providências foram restabelecer as fileiras mais altas da sociedade e o corpo de cidadãos, bem como, restaurar a própria cidade. Em 29 a.C. reexaminou a relação dos senadores e expulsou 190 membros, em parte admitidos por César, mas que não pertenciam à classe senatorial. O Senado voltou a representar a mais alta nobreza romana.

Um ano antes, Augusto tomou uma série de medidas para purificar o quadro de cidadãos e assegurar a predominância de romanos e italianos. Incentivou que todos os cidadãos casassem e tivessem famílias, e que o sangue fosse puramente italiano. Foi proibido o casamento com libertos e   adotadas medidas para evitar a contaminação das classes superiores. Os senadores foram proibidos de se casarem com escravas libertas. Em 28 a.C. Otaviano iniciou sua tarefa de restaurar a capital. Não abandonou os poderes extraordinários de que gozava como chefe militar, em virtude do seu juramento de fidelidade.

Era hábito em Roma acrescentar Otavianus ao nome de Caio Júlio César. Preferia o título honorífico de imperator, conferido pelo exército, puramente militar. O nome Otaviano foi aceito para distingui-lo dos outros. Nas províncias, esse título ligou-se à ideia de natureza universal e ilimitada de seu poder. Ele pertencia à família dos Otávios.

Conservou, porém, o nome de César por ter herdado deste o direito de comandar o exército. Após a morte, César foi divinizado, e seu sucessor chamava-se filho de César divinizado. Mesmo com poderes especiais, Augusto preferiu exercer o cargo de cônsul, para o qual era eleito anualmente após 31 a.C.

Esta eleição, como a de outros magistrados, era feita pelo povo através das assembleias populares. Governava o Estado, mas agia através do Senado e da assembleia popular. Nos dois anos de transição, Otaviano corou seu trabalho e restaurou a velha ordem de coisas. Em 27 a.C. proclamou a restauração da antiga Constituição. Ganhou a posição de chefe do Senado e Primeiro Cidadão, nascendo dali a forma de governo chamado “principado”.

À sua antiga denominação de Imperator Caesar Divi Filius recebeu o título de Augusto, antigamente só aplicado a certos deuses, significando aumentador e criador de algo diferente e melhor. Passou a ser considerado restaurador, aumentador do Estado, investido da mais alta autoridade. Em nome de Otaviano, passou a ser chamado de Augusto.

Sobre a nova Constituição do império. Sila, Pompeu e César foram os primeiros que ajudaram a colocar novos alicerces neste edifício. Augusto, no entanto, teve mais habilidade e sabia aprender com o passado. Ele foi, na verdade, o restaurador da Constituição, conforme testemunhou seu sucessor Tibério Cláudio Nero. Para alguns historiadores, ele instituiu uma monarquia.

Augusto renunciou aos poderes extraordinários, mas o próprio Senado devolveu a ele o poder militar. Por dez anos recebeu as atribuições proconsulares em todas as províncias onde haviam exércitos aquartelados. Sua ligação com o exército era profunda. Parte dos homens que lutaram com Augusto e Antônio foi desmobilizada, mas 250 mil continuaram nas fileiras protegendo as províncias.

Na medida do possível, o exército permanecia neutra em questões políticas, como nos tempos de César e Antônio. Era formado por cidadãos romanos e habitantes do império em geral, e os melhores das províncias atingiam o posto de centurião  que podia chegar ao Senado.

Na ótica de Augusto, no entanto, o Estado por ele governado devia ser um Estado no qual a Itália e os cidadãos romanos eram os senhores, e os habitantes das províncias, apenas servos e súditos. O exército romano tornou-se uma força permanente, não apenas de fato. Seu núcleo era formado pelas legiões de cidadãos romanos, servindo por um período de 16 anos, fixado em 63 a.C., e aumentado para 20 anos em 52 a.C., mas nem todos eram desligados.

Legiões formadas por cidadãos romanos

A necessidade de proporcionar terras ou dinheiro e de conservar homens experientes levaram Augusto a manter nas fileiras soldados cujo tempo de serviço já expirara. Foi conservado o princípio de que as legiões deviam ser formadas por cidadãos romanos. Eram constituídas de naturais da Itália e cidadãos romanos das províncias.

As legiões do exército permanente não ficavam aquarteladas na Itália, mas nos lugares onde havia luta, como nas províncias da Gália, da Espanha, na região do Danúbio, na Síria, Egito e na África, para proteger as fronteiras contra povos guerreiros. Vivendo em campanha, os soldados estavam proibidos de se casar, uma contradição com as leis de Augusto ao estabelecer que todo cidadão deveria constituir família. Os centuriões representavam a disciplina e a tradição. Não ficavam sempre nas mesmas legiões, e sempre eram removidos por motivos políticos. Todos oficiais pertenciam às classes privilegiadas. Alguns tribunos eram eleitos e outros nomeados pelo imperador.

Acima dos centuriões estavam os comandantes de legiões, membros da classe senatorial, com títulos de questor ou pretor. O comando supremo de qualquer exército estava nas mãos dos legados do imperador, nas províncias imperiais, e dos procônsules nas provinciais senatoriais. Não permaneciam mais de um ano em seus postos. Oficiais, centuriões e soldados recebiam um treinamento preliminar antes de entrar nas fileiras. Os meninos e jovens das classes senatoriais e equestres frequentavam um curso em Roma. Recebiam o título de príncep iuventuti. Caio e Lúcio, netos de Augusto, nascidos de sua filha Júlia com Agripa foram os primeiros a receber este título.