Para Cartago, a saída foi aumentar suas possessões na Espanha. A tarefa foi novamente confiada a Amílcar que levou seus “leões”, seu genro Asdrúbal, seus próprios filhos Aníbal, Asdrúbal e Magão. Na igreja fez jurar, em frente ao altar de Baal-Haman, que se vingariam. Resolveram transformar a Espanha numa base para enfrentar Roma.

De acordo com Indro, Amílcar recrutou indígenas, escavou as minas e extraiu ferro para construir as armas. Monopolizou o comércio para se autofinanciar, mas a morte  surpreendeu-o durante combate com uma tribo rebelde. Seu genro Asdrúbal ficou em seu lugar durante oito anos e construiu uma nova cidade com o nome de Cartagena. Quando morreu sob o punhal de um assassino, Aníbal foi aclamado comandante aos 26 anos. Foi o mais brilhante chefe militar da antiguidade, no mesmo plano de Napoleão.

Recebeu do seu pai uma educação perfeita. Sabia história, grego e latim. Tito Lívio conta que era sempre o primeiro a entrar na batalha e o último a sair. Armou infinitas ciladas diabólicas contra os romanos. Além de mestre na estratégia, era bom diplomata e perito em espionagem. Para Roma declarar guerra, atacou Sagunto, em 218 a.C. Ao deixar o irmão Asdrúbal no posto para vigiar o porto de Sagunto, atravessou o Ebro com 30 elefantes, 50 mil soldados de infantaria e nove mil de cavalaria.

No Caminho, enfrentou os gauleses e três mil soldados recusaram acompanhá-lo na travessia dos Alpes. Aníbal dispensou mais sete mil que se mostraram hesitantes. Assim, iniciou sua escalada. Há quem diga que passou pelo monte Genebra, e no cansaço perdeu muitos homens, inclusive contra os guerrilheiros celtas. Iniciou a descida ainda mais difícil para o elefantes até chegar à planície do Pó, com 26 mil homens. Conseguiu apoio de outros gauleses, colocando em fuga os romanos de Cremona e de Placência.

O Senado reconheceu que a segunda guerra púnica era mais perigosa. Convocou 300 mil homens, 14 mil cavalos e confiou parte deles ao primeiro dos muitos Cipiões, mas perdeu a batalha. Roma enviou outro exército e sofreu nova derrota. Aníbal tornou-se senhor de toda Gália Cisalpina. Ai entrou em cena Caio Falmínio com 30 mil homens.

Com um jogo de escaramuças, atraiu o inimigo para uma planície às margens do Trasimeno, com suas cavalarias. Entre os romanos, quase ninguém ficou vivo, nem mesmo Flaminio. Roma entrou em pânico. O pretor Marco Pompônio reconheceu que a situação era grave, mas nem tudo estava bem com Aníbal. Seu maior problema era o reabastecimento. Mandou para casa, livres, os prisioneiros não-romanos.

Roma continuou formando um bloco e só restou a Aníbal desviar sua tropa para o Adriático em busca de terras mais hospitaleiras. Seus soldados estavam cansados, e ele sofria de um grave tracoma. Os gauleses começaram a desertar. Aníbal enviou mensageiros à Cartago pedindo reforços, mas foi negado. Apelou para seu irmão Asdrúbal, mas ele estava envolvido na Espanha.

Diante da situação, retomou sua marcha em direção ao sul, mas se deparou com Quinto Fábio Máximo, nomeado ditador que armou ciladas e ficou na espera de vencer o inimigo pela fome, mas foram os romanos que entraram em cansaço. Foram nomeados dois consules Terêncio Varrão, o plebeu, e Emílio Paulo, o aristocrata, que queriam um processo rápido contra Aníbal, com o emprego de 80 mil soldados de infantaria e seis mil de cavalaria.

Com 20 mil veteranos, 15 mil gauleses desleais e 10 mil cavaleiros, Aníbal superou aliviado numa batalha gigantesca, em Canas. O Barca atraiu os romanos para um terreno plano. Depois se alinhou, colocando os gauleses no centro, certo de que iriam debandar. Varrão lançou-se dentro do buraco e as asas de Aníbal fecharam-se sobre ele. Paulo Emílio combateu ferozmente e caiu com mais 40 mil romanos, entre os quais 80 senadores. Varrão e Cipião fugiram para Roma

NA VERSÃO DA HISTÓRIA DE M. ROSTOVTZEFF
Aos poucos grandes cidades portuárias, como Cádiz e tribos fenícias, muitos pela força, tornaram-se aliadas e tributárias de Cartago. Roma, que tinha outras frentes de batalhas com invasores piratas que saqueavam seu litoral, passou a entender que tudo isso significava uma nova guerra contra Cartago, em condições desfavoráveis.

Essa campanha, colocou, pela primeira vez, Roma em contato com as potências dominantes da Grécia, como a Macedônia, a Liga Etólia e a Aquéia, resultando em alianças com comunidades gregas, vítimas dos piratas. Uma colisão com a Macedônia era inevitável.

Apesar da situação no norte da Itália, era necessário evitar a progressão de Cartago na Espanha. Cartago aproximava-se dos Pirineus, havendo o risco de um atrito entre os cartagineses e gauleses das regiões da França e Itália. Uma estratégia foi formar uma aliança com a comunidade grego-ibérica de Sagunto, como uma base militar. Antes, em 226 a.C., houve um acordo com Asdrúbal, fixando o rio Ebro como limite.

De 236 a 228 a.C, Amílcar comandou o exército na Espanha. Quando Asdrúbal morreu, em 221, Aníbal foi escolhido pelo exército como chefe. Ele começou a preparar uma nova guerra contra Roma e a elaborar um plano para a invasão da Itália. Concluiu seus preparativos em 219 a.C. Antes disso procurou proteger a retaguarda na Espanha.

Sagunto foi utilizada nas operações e tomada após um sítio de oito meses. Roma declarou guerra. Antecipando-se ao plano romano de mandar um exército para atacar Cartago e outro à Espanha, Aníbal marchou pelos Pirineus, pela Gália e, atravessando os Alpes, penetrou na Itália, contando com o apoio prometido pelos gauleses, com intuito de fazer uma paz em condições favoráveis a Cartago.

Não fazia parte do seu plano tomar Roma, cercada como estava com um anel de colônias fortificadas e fortalezas latinas. Aníbal agiu tão rápido que não deu tempo aos romanos organizar um exército na Sicília com destino à África. Não conseguiram impedir que o invasor penetrasse na Itália.

Quando Aníbal chegou e foi reforçado pelos gauleses, em 217 a.C., era tarde para pensar em invadir a África. Roma teve que mandar todos seus homens para o Norte da Itália. A árdua travessia dos Alpes causou pesadas perdas ao exército de Aníbal, especialmente aos seus tanques, os elefantes armados, mas os gauleses compensaram as derrotas.

Aníbal penetrou no Sul da Itália onde não seria difícil receber reforços de Cartago. Grandes exércitos romanos foram derrotados nos rios Ticino e Trébia, no Norte, e no lago Trasimeno, no Centro. No Sul, em Canas, em 216, houve uma batalha decisiva que representou a derrota completa dos romanos e a morte de milhares de cidadãos. Aníbal tornou-se senhor do Sul. Podia comunicar-se diretamente com Cartago e a Espanha e formar uma ligação com a Macedônia.

Mesmo assim, a multidão de soldados mortos não significava que Roma tivesse perdido sua causa e nem que a tarefa de Aníbal estivesse concluída. Mas, quando os cartagineses passaram da Apúlia a Campânia, e quando Cápua abriu suas portas para Aníbal, Siracusa mostrou-se uma aliada infiel e a Macedônia celebrou um acordo com Cartago, um sentimento de depressão recaiu sobre Roma.

No entanto, os governantes do Estado estiveram à altura da crise. Levaram  toda a população à luta, chegando a incluir até os escravos, a quem prometeram liberdade. Os aliados restantes intensificaram seus esforços. Os latinos permaneceram fiéis e muitas outras cidades italianas preferiram o domínio romano ao do forasteiro semita.

A situação de Aníbal começou a ficar embaraçosa e suas forças não eram suficientes para um avanço pelo Lácio onde teria que tomar muitas fortalezas até entrar em Roma. Enquanto esperava reforços da África e da Espanha, Aníbal continuou a dominar os aliados de Roma, no Sul, no Centro e na Campânia.

A guerra se transformou numa luta de exaustão porque Roma modificou seus planos de campanha. Quinto Fábio seguiu os passos do invasor tentando salvar as cidades de Campânia e Sul da Itália que ainda resistiam. O objetivo era isolar Aníbal e impedir que recebesse reforços. Operações foram iniciadas na Espanha e foram tomadas medidas contra Filipe V, da Macedônia, para não invadir a Itália.

Quando Filipe tentou tomar a cidade grega de Apolônia, a fim de usar seu porto como base, a frota do Adriático correu em auxílio. Em 212 quando as vitórias de Filipe na Itália e a conquista do porto em Lisso, juntamente com a tomada de Tarento por Aníbal, tornavam a invasão macedônia inevitável, Roma fez uma forte coalizão na Grécia, chefiada pelos etólios, prometendo dinheiro e apoio militar.

Roma continuou com sua insistência, e a vitória começou a aparecer com firmeza. Em 212, o cônsul Marcelo tomou Siracusa, onde o exército romano teve de enfrentar as mais recentes descobertas do gênio grego Arquimedes, o maior engenheiro e matemático da antiguidade.

Ele foi morto por um soldado romano porque não obedeceu a ordem do chefe romano para que ele comparecesse em seu quartel. Conta que Arquimedes estava desenhando mais um de seus inventos na praia e teria dito que ia depois. De pronto o soldado o matou. Um ano depois os cartagineses foram expulsos da Campânia e de Cápua.

O sucesso ocorreu também na Espanha quando o jovem Públio Cornélio Cipião assumiu o comando do exército espanhol. Cartago não pode ajudar Aníbal e teve que chamar às pressas seu irmão Asdrúbal que conseguiu atingir a Itália, mas não fêz junção com as forças de Aníbal. Foi derrotado pelos romanos, em 207 a.C.. Com relação a Aníbal, os romanos obrigaram a recuar para o sul. Com isso, Roma então transferiu a guerra para a África enviando uma expedição contra Cartago.

Aníbal foi obrigado a deixar seu exército para defender sua pátria. A guerra na África, tendo Cipião como general, começou em 204 e terminou após uma série de operações, com a batalha de Zama, dois anos depois. Aníbal sofreu sua primeira derrota.

A paz, concluída em 201, obrigava Cartago ao pagamento de alta soma em dinheiro, a destruir seus navios de guerra e a aceitar a limitação de sua independência nas relações externas. Sua supremacia comercial chegava ao fim e se transformou num Estado dependente da agricultura. Suas possessões na Espanha passaram para as mãos romanas. Toda Sicília virour uma província neutra de Roma. Cartago ficou cercada de dependentes de Roma.