O quê leva um vigilante de um supermercado deitar em cima de um rapaz numa ação de estrangulamento e sufocá-lo até a morte, enquanto pessoas, praticamente passivas, tiram fotos? Em outra imagem, o governador do Rio de Janeiro, de nome difícil, ao lado de um oficial da polícia, elogia a corporação, cujos soldados, pelo que ficou evidenciado através de testemunhas, praticaram uma execução sumária de um grupo de bandidos ou traficantes já rendidos numa casa.

Estamos diante de um país enlouquecido que banalizou a violência e vivencia o retrocesso primitivo, numa guerra de fuzis, metralhadoras e de ódio contra o pensamento contrário do outro. As tragédias com centenas e milhares de mortes se sucedem e depois o silêncio sepulta a impunidade. O quê leva tanta gente intolerante fanática religiosa atacar outra igreja e até espancar quem confessa outra crença? As igrejas conservadoras e reacionárias hoje estão nas periferias explorando os mais pobres e incultos.

Estamos sim, num país enlouquecido que perdeu sua identidade cultural, ou nunca teve, que vota com raiva, com interesses e para se vingar de outros seguidores opostos, mesmo que seja um candidato ignóbil, despreparado, do atraso e até nos mesmos corruptos de sempre. Diante de tantas loucuras e paradoxos, de baixos índices na educação, de corredores das mortes nos hospitais, de tantas misérias e profundas desigualdades sociais, lá se foi o futuro do distante infinito perdido do horizonte.

O quê leva um bando saquear uma carga de mercadorias, enquanto uma criatura se debate morrendo numa cabine de um caminhão, vítima de um acidente de trânsito, e ninguém aparece para socorrê-lo? Um homem desce porrada numa mulher numa volúpia animalesca até deixa-la sangrando e com o rosto e seus corpo desfigurados, quando não a mata com pauladas, tiros ou várias facadas.

É um país enlouquecido na República dos Generais, do porta voz ao estilo do maluco Trump, onde um ministro demitido bate-boca em público pelas redes sociais com o presidente, tratando-o o tempo todo como capitão. O vice, general Mourão, que amansou a fala (está mais para Morão de amarrar burros), queria lotear funcionários só para classificar documentos secretos e ultrassecretos. Da transparência para a censura e o sigilo.

Enlouquecido por uma reforma da Previdência Social que ninguém entende seu intrincado labirinto de alíquotas, pedágios, pontos, transições, tetos e tantos outros cálculos novelescos nas narrativas cansativas e enfadonhas das emissoras de televisão, jornais e revistas, a não ser na simplificação entre as diferenças de idade mínima da mulher e do homem que sempre morre primeiro, mas tem que esperar mais tempo para receber o minguado benefício que não dá para comprar um pacote de remédio.

No pacote fatiado do anticrime que dá licença para o soldado matar, baseada na subjetividade da legítima defesa (já existe a falsificação de provas), a Câmara dos Deputados quer deletar o bandido do “Caixa 2” no rol da corrupção. O ministro da “Justiça” que criminalizava e condenava a prática, agora enlouqueceu, desdizendo o que pregava antes como corrupto quem usava deste artifício maligno de roubo do dinheiro público.

Estamos no país enlouquecido das meninas que vestem rosa e dos meninos que vestem azul. No país que não serve para criar meninas e que seus pais devem fugir desta “pátria amada” onde seus filhos não devem estudar fora de suas famílias. Não é mesmo um país enlouquecido? O nome do partido nazista era Nacional Socialismo, porque havia uma ameaça comunista. As lutas deviam ser contra as indústrias do ódio, do medo e das mentiras.

 Deu a louca no Planalto militarizado com tanto general batendo cabeça, ou continência, para o capitão-presidente que fez um pacto secreto, ou de sangue, com o exército. Nas trapalhadas com sinais de retrocesso e ameaça à democracia, lá vem um agrado mimoso à imprensa sempre vista como inimiga entre quatro paredes. A democracia tão maltratada, nunca foi tão bajulada ou falseada.

Estamos no país enlouquecido pelo carnaval desigual dos súditos apanhando em filas para montar uma barraca nos asfaltos “dos pipocas” e aplaudir os reis e rainhas nos camarotes e trios luxuosos enchendo seus sacos de dinheiro. País enlouquecido das multidões nas passeatas e desfiles dos sambas, dos evangélicos e dos LGBTs, e vazio nos protestos contra as injustiças da “Justiça” e as violações dos direitos humanos.

Os contra os privilégios de ontem, hoje se agarram a eles pelo foro privilegiado para se esconderem em seus malfeitos e até suspender as investigações. O capitão diz que seu governo será desprovido de ideologia, mas condena a esquerda comunistas, e até oferece ajuda humanitária ao país vizinho estraçalhado pelo capitalismo imperialista. Os generais falam  pelo seu porta voz engravatado, com sua pose de humanitário e bom moço.  Como não existe ideologia? Barbaridade é o que estamos vendo e vivendo, pois o Brasil é quem precisa de ajuda humana  urgente aos seus milhões de famintos.

O que é trágico neste momento do país é que as fábricas do ódio, do medo e da mentira estão se transformando nas políticas públicas de educação, assim afirma o sociólogo Boaventura de Sousa Santos. Para ele, uma escola sem partido é uma escola de um partido único, da ideia de que só há um pensamento válido por aqueles que estão no poder. O sociólogo diz ainda que se a escola sem partido tiver futuro, o Brasil não tem futuro, isto é, vai se fechar num mundo anacrônico. É um atentado à democracia, da qual eles fazem questão de propalar de nque ela é vital.

 

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