NA VISÃO ANALÍTICA DO HISTORIADOR M. Rostovtzeff

Pouco se conhece da história primitiva romana dos mil anos a.C.. Da sua fundação, por volta dos anos 753 a.C. até os séculos IV e III, algumas informações foram compiladas dos gregos que exerceram grande influência no desenvolvimento político, social e religioso de Roma, através dos historiadores e filósofos da helenização grega. No século IV a. C. se deu a unificação política italiana com as conquistas contra os etruscos, équos volscos, samnitas e tribos gregas.

A Itália conseguiu criar um poder único, o que não foi possível com a Grécia com suas cidades-estados, apesar do seu gênio criador. Historiadores como Políbio procuraram encontrar explicações para este fato. De acordo com o autor do livro “História de Roma”, de M. Rostovtzeff, os filósofos atribuíram o êxito de Roma à virtude de seus cidadãos e a perfeição da Constituição. Os romanos colocaram em prática o ideal criado muito antes pelos filósofos gregos, a partir de Platão.

Sobre a história de Roma, os dados mais precisos foram os copiados pelos escritores romanos, entre 100 a.C e 100 D.C. do historiador grego Timeu, natural de Tauromenium, na Sicília, que viveu em fins do século IV e primeira metade do século III a.C.. Na Itália havia a raça etrusca que pode ter criado uma tradição histórica mais antiga, cuja língua e escrita eram ininteligíveis.

ORGULHO NACI0ONAL

Explica o pesquisador do livro que o orgulho nacional romano e o papel que Roma começava a desempenhar na família dos impérios helênicos exigiam que ela tivesse uma história própria que contasse suas origens. Helenizados no sul da Itália, Ênio e Névio escreveram sobre as guerras púnicas. Entre os romanos que tiveram papel importante em fins do século III a.C., se destacaram Fábio Pictor, Cíncio Alimento, Caio Acílio e Cássio Hemina.

Os próprios gregos fizeram uma ligação fantasiosa entre a história antiga de Roma e a mitologia grega. Eles conseguiram uma narrativa mais ou menos completa, desde a chegada de Enéias, quando este herói fugiu para a Itália após a captura de Tróia, até a época em que já se podia utilizar fatos mais autênticos, preservados de uma forma legendária pela tradição oral. Para os tempos mais remotos, as obras dos historiadores romanos, segundo Rostovtzeff, são praticamente inúteis. Os resultados das pesquisas arqueológicas na Itália foram de grande valor em se tratando das eras primitivas, desde a Antiga Idade da Pedra.

Em termos geográficos, a Itália se assemelha à Grécia. A península apenina é uma continuação da Europa Central que se prolonga pelo Mediterrâneo. Os grandes rios da região, o Ródano a sudeste, e o Reno ao Norte, nascem nos Alpes e era possível seguir-lhes o curso até os desfiladeiros que levam  à Itália, e descer dali pelos vales dos rios, na maioria tributários do Pó.

Na parte do Ocidente existe uma cadeia de vulcões, principalmente na Etrúria, Lácio, Campânia e nas ilhas adjacentes, inclusive na Sicília com planícies muito férteis, cortada de rios que correm da cadeia central para o mar Tirreno. O maior deles é o Tibre que divide um dos vales em duas partes, o Lácio e a Etrúria.

Essas condições tornaram a Itália mais acessível às tribos da Europa Central e aos navegadores do Oriente. Ambos se sentiam atraídos pelas riquezas naturais. Os pastores e agricultores eram tentados pelas pastagens excelentes e campos férteis. Os imigrantes do leste procuravam os portos do sul.

Os povos da Europa Central e Oriental e da Ásia Menor atingiram o país pelo norte e pelo sul. Os mais antigos habitantes eram os ligúrios e iberos, ligados aos aborígines da Espanha e da Gália. Segundo o autor do livro, os mais antigos colonizadores da Europa Central eram lacustres que viviam em palafitas e lagos. Os povos dividiram-se em três grupos, cada qual com um dialeto diferente de uma língua semelhante ao celta. Tratavam-se dos úmbrios, no norte, os latinos, no curso inferior do Vale do Tibre, e os samnitas, que se fixaram nos montes e vales do sul da península.

No sul, toda a faixa da costa, inclusive a Campânia, no oeste, foi ocupada após o século VIII a.C. por imigrantes da Grécia. Os últimos invasores foram os celtas, a quem os romanos chamavam de gálios, vindos da região que hoje é a França e do Vale do Danúbio. No século VI ocuparam o Vale do Pó, expulsando os etruscos.

A ITÁLIA DE 800 A 500 a. C.

Nos séculos V e IV a.C., o Império Etrúrio era uma liga de diversas cidades. Os etruscos formavam a classe mais elevada e viviam em cidades fortificadas e bem planejadas. Cultivavam o solo fértil e criavam gado. Trabalhavam nas minas de cobre da Etrúria e de ferro da ilha de Elba. Eles possuíam uma indústria ativa de metal e tecidos, além de amplo comércio com o mundo grego através de suas colônias do sul da Itália e de Cartago, fenícia.

As classes mais elevadas eram os proprietários de terras, comerciantes e fabricantes. O trabalho pesado era em grande parte feito pelos ligúrios e italianos, conquistados nas guerras e transformados em escravos. Presume-se que em épocas primitivas cada cidade fosse governada por um rei, mais tarde por magistrados eleitos de famílias nobres. Tinham ligação com a Grécia e a Fenícia.

O desenvolvimento da arte etrusca, de acordo com pesquisas arqueológica, começou a partir do século VIII a.C. com estilo geométrico. Faziam medonhas figuras de deuses infernais e demônios, bem como de mortes e dos castigos. Chegaram a influir na arte romana. Na indústria atingiram alto grau de habilidade técnica.

Os etruscos eram mais piratas que faziam acordos com as frotas cartaginesas e impediam que os gregos estendessem sua influência ao norte e se estabelecessem na Sardenha e Córsega, bem como tivessem acesso às suas colônias na Espanha e na Gália.

Graças aos etruscos, os cartagineses conseguiram conter a expansão grega em direção ao oeste e ao norte. Apesar de suas conquistas, em 474 a. C. Hiéron, de Siracusa, derrotou os etruscos em Cumas. A ambição deles estava mais limitada ao Vale do Pó e à Campânia, no sul. O Pó foi ocupado e continuou sob seu domínio até que os celtas surgissem no século V a.C. Dinastias etruscas chegaram a governar Roma e outras cidades do Lácio, na Campânia, em Cápua, Cumas e Nápoles.

Os samnitas e os latinos foram grandes responsáveis pelo progresso italiano. Os primeiros, tribos montanhesas, viviam lado a lado com as colônias gregas do sul e adotavam com instituição “A Fonte Sagrada” onde a geração mais nova era enviada à luta pelos mais velhos, sob a bandeira de um lobo, bezerro, boi ou corvo, para conquistar novas pastagens. Foram muito influenciados pela civilização grega nas artes.

Conseguiram expulsar dali os etruscos, tomar a maioria das cidades da região e fazer de Cápua sua capital, em 438 a.C.. Mesmo assim, sofriam fortes obstáculos dos tiranos gregos da Sicília, especialmente os governantes de Siracusa.

OS LATINOS, SABINOS E ETRUSCOS

Quanto aos latinos, o Lácio era a única área de acesso para o mar. Âncio e a foz do Tibre pertenciam a eles. Seus maiores rivais eram os volscos, équos e os sabinos. Uma das causas da independência do Lácio foi a rivalidade entre etruscos e gregos. A civilização vinda da Grécia, Etrúria e Cartago contribuiu para elevar o nível social, econômico e político dos latinos.

Presume-se que o local de Roma tenha sido primeiro ocupado por pastores, imigrantes do Lácio e dos montes Sabinos. É provável que ali tenham surgido duas povoações, uma dos latinos, no monte Palatino, e outra dos sabinos, no Quirinal. O Palatino, ou a Roma primitiva, pode ter sido uma colônia de duas cidades latinas das vizinhanças, Alba e Lavínio.

De acordo com escavações arqueológicas, o ano de 753 a.C confirma o estabelecimento de Rômulo. Pelos historiadores, Roma deve sua origem a Enéias, e que Rômulo e Remo foram os fundadores da cidade. Do primeiro irmão descendiam os setes reis de Roma que governaram até a República, no ano de 508 a. C. Alguns reis tiveram origem sabina. Posteriormente, várias datas da fundação da cidade foram mencionadas por historiadores, como 814,753, 751, 748 e 729 a.C.

Sabe-se que Roma tornou-se uma comunidade poderosa nas planícies latinas e aumentou seu território tomado dos vizinhos que habitavam os montes, dai o surgimento da guerra contra Alba Longa, a principal cidade do Lácio e, “talvez”, a mãe de Roma, governada nos tempos antigos por reis. Como em Atenas, um dos sacerdotes tinha o título de rei (rex sacrorum).

A população da cidade se dividia em grupos religiosos e militares chamados curiae, menos os escravos. Segundo o historiador do livro, é de se supor que, desde tempos imemoriais, o Senado já existia, como um conselho de anciães, para assistir o rei. A agricultura representava o esteio da economia romana. Os etruscos tinham uma grande predominância em Roma, tanto que a poderosa dinastia dos Tarquinos governou durante algum tempo. Eles formaram em Roma uma casta dominante, excluindo a população nativa, com exceção da aristocracia que possuía terras e rebanhos.

Foi essa aristocracia que arrebatou o poder dos reis. Tudo indica que Tarquino foi o último rei etrusco de Roma. Ele foi derrubado pelos nobres etruscos e os latinos. A partir de fins do século VI a.C., Roma viveu sob uma Constituição planejada durante a supremacia etrusca, tendo como classe dominante a aristocracia (famílias de grandes proprietários de terras, comerciantes e pecuaristas).

O poder dos Traquinos advinha de uma única família etrusca, cujos membros governavam diferentes cidades latinas, enquanto o mais velho governava Roma. Depois deles vieram os Flávios, ou Fábios, no período de 485 a 479 a.C. Após a queda dos Tarquinos, foi estabelecido um tratado comercial com Cartago, a mais importante cidade do Lácio. Existia uma liga etrusca e, quando esta caiu, houve uma invasão do norte pelos celtas, ou gálios, últimos imigrantes de origem indo-europeia.