Imagine mais de 300 vítimas agonizando num vale de lamas de minérios! Imagine jovens adolescentes sufocados pelo fogo e por uma nuvem de fumaça tóxica, numa luta de segundos, tentando salvar suas vidas!  Instantaneamente, as notícias de terror cobrem todo país deixando milhões em estado de choque. Em total desespero, os familiares choram seus mortos. Muitos desmaiam e um vazio se abate na alma que se dilacera em dor das mais profundas.

Em tempo simultâneo, imagine a mídia lhe entupindo de informações e explicações as mais diversas durante semanas! Depois vem o silêncio e outra tragédia anunciada lhe acorda repetindo a mesma agonia e sofrimento. Agora imagine o mais decepcionante, frustrante e revoltante de tudo isso! Imagine que os evidentes responsáveis de todas elas (as tragédias) nunca foram verdadeiramente punidos! Só multas que quase sempre não são pagas.

Se este país fosse sério, o presidente do Flamengo, Rodolfo Londim e sua diretoria já estariam na cadeia, a começar pelo seu desprezo ao se retirar dos “depoimentos” fajutos quando os jornalistas se propõem argui-lo com perguntas sobre as irregularidades no barracão do clube. O prefeito e seus fiscais deveriam também ser severamente punidos porque não interditaram o centro de treinamento e o “alojamento” improvisado de uma porta. Para tapiar, resolveram fazer vistorias no CT e a safadeza de proibir o acesso da imprensa. É um descaso total! São essas as nossas “autoridades” pagas pelo povo para prevenir tragédias e desmandos?

A lei é só usada para interditar bares, restaurantes pequenos, lojinhas, barracas e escorraçar ambulantes nas ruas. Não é para os grandes, quanto mais para um time que tem a maior torcida do Brasil. Como amar uma pátria tão desigual que maltrata e assassina em massa seus filhos? Como ter orgulho de uma nação onde as tragédias ceifam vidas e terminam em arquivos mortos, sem a prisão dos culpados?

Pouco antes de ser vítima de um desastre no ar, o jornalista Ricardo Boechat comentava que esta rede de tragédias tem seu respaldo na impunidade. Não falou nada de inédito que ninguém não já tenha consciência disso, mas sua voz tem peso. Só não foi ouvida pelos torcedores e as famílias dos jovens que não protestaram como fazem no futebol quando os resultados são negativos. Quando isso ocorre, brigam e até se matam nos estádios e nas ruas.

Estão agora preocupados com o Fla x Flu de quinta-feira. Ai, todos se posicionam em silêncio hipócrita e falso para homenagear os mortos e fazer suas condolências. Sobre o acontecimento que poderia ter sido evitado, ouvi nesta semana um torcedor simplesmente dizer que essas coisas ocorrem. É por isso que as tragédias não param.

O mesmo pode ser aplicado com relação ao rompimento da Barragem do Feijão, em Brumadinho. Você passa o tempo escutando o barulho de uma lama de explicações e nada de punição. Nos primeiros dias, fazem vistorias, fiscalizações e prometem rigor no acompanhamento. Muitos já se esqueceram da Boate Kiss e nem se fala mais em inspeções e fechamento de boates por estarem funcionando de forma irregular.