POETA SONHADOR
De autoria do jornalista Jeremias Macário
macariojeremias@yahoo.com.br
A dor do poeta sonhador
Rói sem pena seu coração
Como rato roendo couro
No subterrâneo do porão
Da Casa Grande senhoril
Com medo da bota do feitor.
É a dor do poeta sonhador
É a dor, é a dor, é a dor…
Com sua moléstia encruada
Pelas lidas vidas viradas
Nascido como caçador
Que depois virou caçada.
É a dor, é a dor, é a dor…
Do poeta sonhador
Do passado torturado
Pelo carrasco torturador
Que o seu sonho não matou.
É a dor do poeta sonhador
Que amou sem ser amado
Invadiu o vermelho sinal
Por uma carreta atropelado
E foi cheirar morfina e éter
Num corredor de hospital.
É a dor do poeta sonhador
No duelo com o barqueiro
Na malvada sociedade
Curvado pela dona idade
Que regateia a travessia
Pelo tenebroso nevoeiro
Até a outra margem do rio
Onde não existe noite e dia.
O poeta é um esgarçado
Em retículas fatiadas
Alvo certo das emboscadas
Por ser um eterno apaixonado
Ora inseto, ora pássaro Condor
Baixo ou alto um voador.
O poeta é lâmina de navalha
Fio da foice, enxada e martelo
Do machado e faca afiada
Espingarda do papo amarelo
Embornal, palavra e mortalha.
O poeta não tem fronteira
Município, nem país e Estado
E só carrega em sua mochila
Desde criança triste menino
A dor de um poeta sonhador
Que nasceu do vento seco
De um veio bem nordestino
Do mandacaru que dá flor.