OS INIMIGOS COMUNISTAS, O COMPORTAMENTO PADRÃO E O CLIMA DE DENÚNCIAS E INTOLERÂNCIAS.

O resultado das eleições deixou um rastro de medo, de ódio recalcado preso nas gargantas, revanchismos dos saudosistas da ditadura e fez surgir, como se previa, uma tropa de desvairados, que acha que agora tem o aval do pregador-mor dos preconceitos, para oprimir e matar gays, negros e índios.

Os ressentidos entendem que agora podem vigiar e censurar professores, e todos aqueles que defendem a democracia, os direitos humanos, as inclusões sociais e as ideias libertárias. Todos que assim pensam estão sendo considerados como “comunistas”, agora milhões pelo Brasil, que merecem ser exterminados. É a volta da caça às bruxas, ou do Comando de Caça aos Comunistas, o famoso CCC.

Alguém ai já deve estar dizendo que isso é coisa de perdedor de esquerda “comunista”. Não é bem assim, e não é meu caso. O maior perdedor pode ser o Brasil, e o tempo dirá. Oxalá que esteja errado. Causa-me arrepios e me dar uma angústia danada no peito essa onda compulsiva e patológica da extrema-direita anitpetista demoníaca, como se o PT tivesse sido o único culpado por todos os males.

Bolsonaro, na verdade, foi produto de um complô de partidos políticos (PSDB, PMDB, PP e outros), ou como diria, de um “conjunto da obra” maléfica de safados, que usaram e abusaram da nossa paciência; roubaram e legislaram de costas para o povo, levando o país ao caos ético e moral. Meteram os pés pelas mãos. Aliás, sujaram literalmente as mãos.

O PT foi apenas o fio condutor dos desvios de condutas, que se coligou aos outros malfeitores da corrupção, tudo pelo poder. Tudo isso serviu de matéria-prima robusta para o apoio à linha bolsonarista, o Coisa. “Como explicar o voto de milhões a um ser repulsivo”? A indagação foi do jornalista e professor da USP, Bernardo Kucinski, ao responder ter sido os donos do poder econômico, a classe média frustrada e os pobres, presas fáceis das teses de linchamento e justiçamento. Incluiria os desiludidos iludidos do amanhã.

OS INIMIGOS COMUNISTAS

A indicação primeira do general Augusto Heleno (tem no seu vice o general Mourão e outro da Defesa), para comandar o GSI(Inteligência e Informação) trata-se de um retorno à Lei de Segurança Nacional (LSN) dos tempos da ditadura, a qual o Bolsonaro nega e, juntamente com seus generais, defendem o retorno ferrenho do anticomunismo, para atingir os movimentos sociais e manifestações de liberdade. Não é atoa que Mourão disse ser irmão siamês do seu presidente eleito.

Por falar em negação da ditadura, o historiador Carlos Zacarias Júnior descreve as ideologias do negacionismo como a mais vil forma de revisionismo adotado por alguns estudiosos. Ele cita a “Noite dos Cristais”, em 9 de novembro de 1938 com o nazifascismo, assim como as ditaduras na América Latina como partes importantes da história da humanidade que nos cobrem de vergonha.

Nesse aspecto, a partir do fenômeno Bolsonaro, muita gente, sem conhecimento da história, por pura ignorância, vem absorvendo a pregação preconceituosa de 30 anos do capitão, que elogia o torturador Carlos Brilhante Ustra, para concluir que não existiu ditadura. Nessa onda tem gente negando a escravidão e o extermínio dos indígenas na América Latina.  O que está por detrás do interesse de fazer esquecer e ocultar os fatos de horror da nossa história?

Dia desses li comentário de um leitor num jornal da capital onde declarava que a eleição do capitão representa retorno dos saudosistas da ditadura militar linha dura que discordou da abertura da política do general Golbery, criador do SNI, e que depois lamentou o monstro que criou. Toda oposição ao retrocesso é agora inimiga e comunista. Segundo ele, “todos os setores iludidos pelo antipetismo, pelo combate à corrupção e à violência, caíram no “conto do vigário”.” As feridas abertas deixadas pela anistia, sem reparação e punição pelos crimes de tortura, mortes e desaparecidos deram lugar ao retorno dos generais.

Os golpes contra a democracia e as liberdades individuais não são apenas militares. Tudo pode acontecer em nome do combate à corrupção e “os maus costumes”. A democracia deixa de existir quando os pobres das periferias passam a viver em estado de sítio, Quando o governo atenta contra a mídia. Quando o Congresso continua com suas mordomias e quando existe genocídio ecológico contra a Amazônia.

A própria Comissão Interamericana de Direitos Humanos vê retrocesso significativo no Brasil com relação aos programas sociais. As próprias medidas fiscais podem reduzir as expectativas de melhora nas condições de vida da população. A Comissão recomenda respeito aos direitos dos povos indígenas, quilombolas, trabalhadores e detentos.

Como advertiu a Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, não basta mostrar a Constituição, se já existe na mente a ideia fixa de que o problema da violência será resolvido na base da bala e de medidas mais duras, dando ao militar o direito de matar, sem responder a possíveis delitos aos direitos constitucionais. Aliás, está na Constituição um artigo, imposto pelos generais no final da ditadura, que em caso de desordem, as forças armadas podem assumir o poder, Essa questão de ordem e desordem têm conceitos subjetivos.

Desistiu de fundir o Ministério da Agricultura ao Meio Ambiente por questões de logística de mercado no exterior, mas todos sabem que o seu indicado será apenas um fantoche para dizer amém aos ruralistas que aumentaram sua bancada no Congresso Nacional que, aliás, continuará, junto com o Judiciário (os salários do Supremo vão passar de 33 mil para 39 mil), gozando de suas mordomias e privilégios, em detrimento da redução dos ministérios e gastos do executivo prometido pelo capitão.

O novo presidente fala em enxugar a máquina pública, mas vai permanecer o rombo dos poderes legislativo e judiciário em todas as esferas estadual e municipal. Não se enganem, tudo o que é de ruim vai continuar para os oprimidos. Tudo quanto for de bom vai ficar para os opressores do mercado livre. A cultura, o direito dos trabalhadores, os programas sociais, o bolsa família com cortes de 15 bilhões de reais ( sete milhões de excluídos), o corte de 46,5% do Sistema Único de Assistência Social e mais 30 bilhões do benefício de prestação continuada não serão prioridades.

Por falar em Congresso, ainda mais conservador, um terço dos eleitos, ou  seja, 160 deputados e 38  senadores, responde a processos, com um total de 540 acusações. Só o PT tem 30 dos 62 eleitos. A bancada dos processados está em 21 partidos, inclusive do PSL. Pelo Judiciário, os magistrados aplaudiram o aumento de seus salários.

COMPORTAMENTO PADRÃO

Na concepção de milhões de votantes, não deve haver gays em seus mundos, nem abortos, diferenças de gêneros, e ensinar darwinismo é um abuso. Nação é só moral e ter comportamento padrão. Populismo só de direita porque o do outro é sempre difusor de valores impuros e degeneração dos costumes, para roubar a população. A ministra da Suprema Corte, Carmem Lúcia,  afirmou recear mudanças perigosas, e alertou que os cidadãos têm que exigir suas garantias constitucionais e estarem sempre atentos.

Helington Rangel, professor universitário, economista e jornalista escreveu em o “A Tarde” o artigo “Quem Mata a Democracia”. Descreve a democracia ateniense dos tempos de 508-507 a.C. onde cidadãos comuns ocupavam cargos eletivos por sorteios, autorizados a falar e a votar. No entanto excluía mulheres, escravos, estrangeiros e não proprietários de terras.

Lembra em seu comentário da Primeira Guerra Mundial e a dissolução dos impérios Otomano e Austro-húngaro que criaram os estados na Europa, maioria deles democráticos. Na década de 20, a democracia floresceu, mas veio a Grande Depressão que espalhou desencanto no continente europeu e América Latina que se transfiguraram em regime ditatoriais. Outros modelos prosperaram, excluindo direitos individuais na Alemanha, Itália, Portugal e Espanha, aliados do nazifascismo.

Golpes militares são raros hoje, mas democracias morrem por instrumentos diferentes, pelos próprios governos escolhidos. O coronel Marcelo Pimentel Jorge de Souza escreveu artigo na Folha de São Paulo onde diz que o mau exemplo do exército tornou-se presidente. Revela que a saída do capitão para a política foi um alívio para o comando militar por livrar-se de um desagregador, capaz de comprometer a redemocratização.

Na cabeça do capitão, ditadura só existe de esquerda socialista, como ele trata Cuba, e nega que a mesma de direita aconteceu no Brasil entre os anos 60 a 90. Para expulsar os médicos cubanos passou a questionar o diploma dos profissionais (Cuba tem boas escolas de medicina), mas ofereceu asilo a quem quiser ficar aqui. Indicou um ministro das Relações Exteriores admirador de Donald Trump. O Sub-Trump, pelo que já deixou transparecer, abrirá as portas para o seu Big-Trump como nunca antes em nossa história. Depois de Trump, os crimes de ódio nos Estados Unidos aumentaram 17%, principalmente contra afro-americanos, gays e judeus.

Antes se dizia que o Brasil era o quintal dos Estados Unidos. Agora vai ser toma que é todo de vocês. Nem precisa pagar o aluguel. Agora não vamos passar de um corredor ou um puxadinho dos ianques. Vamos ter que bater continência para os gringos e sua bandeira.

CLIMA DE DENUNCISMO E INTOLERÂNCIA

Diz o professor Rangel que autoritários sempre exploram crises para subtrair o poder. Na rebelião clássica, chefiada por militares, a morte da democracia é visível. O Estado de São Paulo, por exemplo, reportou que numa universidade do Norte, o mestre ao entregar as provas, ouviu de um aluno que lhe daria um tiro na cabeça se Bolsonaro já fosse o presidente. As instituições públicas e privadas vivem um clima de denuncismo e medo. Em conversa com dezenas de alunos e docentes, o jornal constatou o receio da perda de liberdade nos ambientes acadêmicos.

Outro receio é a aprovação do projeto “Escola sem Partido”, defendido pelo presidente. Na Universidade Federal de Pernambuco circulou uma lista com 15 nomes intitulada “Doutrinadores”, com alunos que serão banidos do Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Cada um deles foi identificado como “comunista”, antidemocrático, socialista que faz apologia do uso de drogas.

Agora só se fala no anonimato. Um professor confessou que está difícil dar aulas. “Há pressão para que não se fale as coisas que pensamos”.  O projeto proíbe que se use termos como gênero e que professor diga sua opinião, preferência ideológica, religiosa, moral e política. Se a lei entrar em vigor, as salas vão ter cartazes com os deveres do docente. Será que existe conhecimento neutro?

A eleição do capitão fez brotar todo tipo de rancor contido. Fez emergir todo tipo de esgotos do inconsciente. Fez desfilar mais ódio por todos os cantos do país onde metade da população virou comunista. Está sendo arriscado sair de vermelho. Negros estão sendo avisados a voltarem para suas senzalas e professores são vigiados e censurados em salas de aulas. Opositores são tratados como estrangeiros,

Uma carta chegou ao Centro Acadêmico de Geografia da Universidade Federal do Pará onde se dizia: “Bem vindos ao fascismo. Agora é a nossa vez. Vocês vão ter que engolir porque vamos passar por cima de cada um, cada gay, cada sapatão e preto. Vamos exterminar cada um. Viva Bolsonaro, Viva o fascismo e Carlos Brilhante Ustra”. Estão incitando a violência, imitando com as mãos o sinal de uma arma. Quem instigou-os.?

“Eu tenho vontade de dar uma paulada na cabeça dela”, “Tortura essas p*** dando cinco facadas logo”, “Que tal mandar os bandidos pras reservas indígenas? Aí eles se matam e matam os índios também”, “Índio é inútil, só serve pra ter feriado”. Todas essas mensagens foram escritas por estudantes do Colégio Antônio Vieira (CAV), uma das instituições mais conceituadas de Salvador, em um grupo de WhatsApp, conforme reportagem do jornal Correio.

Trata-se de mais um caso de intolerância em escolas, partido de um grupo denominado de “Direita Delirante”, que tem cerca de 120 membros, num estabelecimento particular de renome, que troca mensagens com conteúdos ofensivos a mulheres e indígenas, além de ameaças a uma professora. Na noite de terça-feira (6), quando tomou conhecimento do conteúdo, o CAV emitiu uma nota de repúdio. “Os conteúdos são contrários aos princípios cristãos, que norteiam a nossa prática educativa”, diz a instituição católica, que tem 107 anos de fundação. O Colégio Antônio Vieira não é o único onde se registrou casos de agressões através de redes sociais.