PÍSISTRATO – A democracia ateniense era dividida em três partidos: o da Planície, conservador, aristocrático e latifundiário; o da Costa, dos ricos comerciantes; e o da Montanha, do proletariado urbano e rural.

Um dia um senhor deste último partido se apresentou ao Areópago (Conselho) e disse ter sido vítima de um ataque dos inimigos do povo. Mostrou seus ferimentos e pediu 50 homens para lhe proteger.

Apesar de velho, chamaram Sólon para dar sua posição. Vendo naquilo uma grande malícia de segundas intenções, e percebendo que não lhe davam ouvidos, desabafou indignado: Sóis sempre os mesmos. Individualmente, cada um de vós age como raposa, mas coletivamente, sóis um bando de patos.

O cara astuto era Pisístrato, também de família aristocrática e primo de Sólon que o conhecia muito bem. Ele sabia que a democracia sempre pende para a esquerda, por isso inventara suas ambições no proletariado. Ao invés de 50, Pisístrato reuniu 400 homens. Apoderou-se da Acrópole e proclamou a ditadura, naturalmente para o bem do povo.

O partido “A Costa” coligou-se com a “Planície”, derrubaram o tirano e obrigaram a fugir, mas logo voltou. Conta Heródoto que um dia se apresentou, às portas da cidade, um carro imponente e nele vinha uma linda mulher, com armas e o escudo de Palas Atena. Quando os batedores anunciaram que a deusa viera restaurar o ditador, o povo se inclinou. Foi ai que Pisístrato apareceu com seus homens. Uma aliança tornou a exilar o ditador.

Três anos depois, em 546, voltou pela terceira vez e restaurou o regime até sua morte. Pouco modificou da Constituição de Sólon e optou por eleições livres, sem culto à personalidade. Submeteu-se ao controle do Senado. Tinha do povo simpatia. Chamavam-no de tirano, mas no sentido de fortaleza. Possuía charme e falava com bons modos e calma. Sua política foi a de produção. Construiu modernas e poderosas embarcações.

O homem de ferro instituiu uma comissão para recolher e ordenar a Ilíada e a Odisseia que Homero deixara esparsas em episódios fragmentários. Evitou a guerra e deu a Atenas a posição de capital moral da Grécia. Criou os jogos pan-helênicos como ponto de encontro. Fugiu das tentações do poder absoluto, mas cedeu seu lugar para os filhos Hípias e Hiparco.

MILCÍADES E ARISTIDES – Pelos anos 490 a.C., seiscentos navios e duzentos mil soldados persas se apresentaram às portas da Grécia para invadi-la. Ao lado da pequena Plateia, apenas Atenas mandou seus poucos soldados se juntarem aos vinte mil homens do exército de Milcíades, que tinha pouca tradição militar.

No dia da batalha, na planície de Maratona, quem estava no turno era Aristides, que renunciou da missão a favor do colega, por considerar que tinha menos capacidade de atuar. Os soldados persas eram valentes, individualmente, mas não tinham ideias de manobra coletiva. No confronto, Dario perdeu sete mil homens contra pouco menos de duzentos de Milcíades, conforme narram os historiadores. Mandado anunciar a vitória em Atenas, o soldado Fedípoda fez vinte milhas correndo. Depois de dada a notícia, caiu morto, com o pulmão estourado.

Cheio de medalhas, o general transformou-se em almirante e pediu setenta navios que os levou a Paros. Lá exigiu cem talentos. O governo chamou de volta e obrigou a restituir só a metade. Milcíades não teve tempo porque morreu antes.

Restou Aristides, homem justo e honesto, tanto que depois da batalha teve a incumbência de guardar as tendas dos vencidos. Dentro delas havia notável riqueza e ele a entregou ao governo. Passou sua juventude combatendo a corrupção política e o peculato dos funcionários.

Em seu caminho dopou com Temístocles, orador brilhante que lhe fizera intrigas, propondo ostracismo para seu colega Aristides. Conta que na votação, um camponês analfabeto pediu a Aristides que escrevesse na lousa sua aprovação à proposta de Temístocles. “Por que queres mandar Aristides para o exílio? Fez-te algum mal? – perguntou o próprio Aristides. Não me fez nada – respondeu – mas estou farto de ouvi-lo chamar de justo. Aristides sorriu de rancor e marcou contra ele mesmo o voto daquele homem.

No ato da condenação, disse: Espero atenienses, que não tenham mais ocasião de se recordarem de mim, Atenas estava com os persas novamente às portas, conduzidos por Xerxes, em 485 a.C., com mais de dois milhões de homens e mil e duzentos navios.

Dessa vez Esparta, com seu rei Leônidas, e seu exército de 300 homens, se juntou a Atenas, Os trezentos sozinhos teriam vencido os dois milhões, se traidores não tivessem guiado os inimigos por uma senda desconhecida, às costas de Leônidas, que caiu com 298 dos seus, depois de ter causado 20 mil mortes. Dos dois, um se suicidou de vergonha, e o outro resgatou a honra caindo em Plateia. Foi escrito em sua lápide: Vai estrangeiro, dize a Esparta que nós caímos em obediência às suas leis.

Com relação ao ataque a Atenas, conta que um deputado propôs a rendição e foi morto na Assembleia. Sua mulher e seus filhos foram lapidados pelas mulheres. Os persas saquearam uma cidade vazia. Não podendo opor-se aos colegas que queriam a fuga, Temístocles mandou um escravo informar do plano da retirada a ser executado na noite imediata. Se a mensagem fosse descoberta, ele passaria por traidor.

Então, Xerxes rodeou o inimigo para não o deixar fugir. Com sua astúcia, Temístocles consegui obrigar os gregos a lutar, Xerxes em terra assistiu a catástrofe da sua frota com a morte de seus marinheiros por afogamento. Assim, Atenas e a Europa foram salvas, em Salamina, em 480 a.C.

TEMÍSTOCLES E EFIALTES – Após a batalha naval, o almirante mandou outro escravo informar Xerxes de que conseguira dissuadir os colegas da perseguição da frota vencida. O persa deixou na Grécia 300 mil homens aos cuidados de Mardônio. Houve um ano de trégua. Depois começou a luta sob o comando de Pausânias, rei de Esparta, com 100 mil homens. Mardônio perdeu 260 mil e Pausânias 59 mil.

Temístocles continuou a montar suas armações para se dar bem. Organizou uma confederação entre as cidades gregas (Atenas Estado-chefe) e pediu navios a Atenas. Reforçou sua frota e conseguiu cercar a cidade até o Porto de Pireu. Ao mesmo tempo, tomou a iniciativa dos tratados de paz com Xerxes e propôs anistia aos exilados em troca de uma recompensa. Embolsou a grana e deixou-os no exílio.

Diante de suas trapaças, a Assembleia recorreu ao ostracismo. Temístocles retirou-se rico para Argos. Mesmo assim, Esparta o denunciou como traidor. Sabendo disso, o estrategista procurou refúgio na corte de Artaxerxes que lhe deu pensão alta e ouvia seus conselhos e orientações para que a Pérsia retomasse a luta contra Atenas. A morte o alcançou aos 65 anos, em 459 a.C.

Naquela época, Atenas se debatia em meio a intrigas entre dois partidos: O oligarca, de Címon (filho de Milcíades), e o democrático, de Efialtes, pobre incorruptível e idealista. Os dois eram íntegros e tinham caráter, mas Efialtes saiu à frente e resolveu atacar a própria aristocracia. Denunciou na Assembleia as tramoias urdidas por senadores e sacerdotes. Muitos foram condenados à morte e outros ao exílio, só que o denunciante foi assassinado em 461 a.C.

Com tragédia e tudo, a democracia saiu triunfante com a sucessão de Péricles e início da civilização grega, do Partenão, de Fidas, Sófocles, Eurípedes, Sócrates, Aristóteles e Platão que em dois séculos deram à humanidade o que outros não conseguiram em milênios.