Por Carlos Gonzalez – jornalista

O descaso das autoridades governamentais neste país com o magistério pode ser tomado como medida aqui mesmo em Vitória da Conquista, onde a administração municipal se recusa a ouvir os professores, que reivindicam uma melhoria nos seus baixos salários.

Como se ainda estivéssemos no período da ditadura, que via no mestre, em sala de aula, um inimigo do regime, capaz de “fazer a cabeça” dos jovens, a Prefeitura de Vitória da Conquista multa em 17 mil reais o sindicato da categoria por ter protestado no interior do prédio da municipalidade, que pertence a todos que aqui trabalham e ajudam a pagar, com a cobrança de impostos, os salários de quase 9.000 servidores.

Eu não arriscaria a afirmar, pois tenho conhecimento apenas de seus métodos de governo, mas acredito que o Sr. Herzem Gusmão testemunhou, na infância e na juventude, o sacrifício do professor da escola pública. Um religioso, temente a Deus, que sempre cita o nome do Mestre dos Mestres em seus pronunciamentos públicos, não pode ser algoz daqueles mais necessitados.

Amigo Jeremias, eu não aprendi as primeiras letras com professores leigos da roça, onde você passou os primeiros anos de vida. Estudei em Salvador, na Escola Getúlio Vargas, Instituto Normal da Bahia, ambos no Barbalho, e Colégio Estadual da Bahia, no bairro da Liberdade. Diante do clima que existe hoje no interior das salas de aula, onde o professor não é respeitado, lembro-me que, na minha época, ele era visto como um educador, que se orgulhava do título de professor. Os alunos o recebiam de pé em sua entrada em sala.

No alto do pedestal dessa honrosa categoria profissional coloco um baiano, nascido em Salvador, em abril de 1917. Professor de Português e de História Geral e do Brasil, Adroaldo Ribeiro Costa, bacharel em Direito, exerceu vários cargos no campo do magistério do nosso estado. No entanto, a vida do Professor Adroaldo, como era chamado, ficou marcada pela criação do teatro infantil no Brasil, chegando a reunir 100 crianças e adolescentes em suas peças.

Contrário ao senso comum, Adroaldo é tratado hoje como autor do Hino do Esporte Clube Bahia. O seu nome deveria figurar entre os maiores educadores brasileiros, ao lado de Anísio Teixeira (1900-1971), Darcy Ribeiro (1922-1997), Paulo Freire (1921-1997) e Florestan Fernandes (1920-1995).

Companheiro de redação, no período do jornalismo romântico, sem internet e celular, que atualmente tanto ajudam os novos na profissão, você continua a clamar contra o que há de errado neste país. Aposentado, criou o blog “aestrada” para lhe servir de tribuna. Talvez ainda não tenha se dado conta de que vivemos numa terra devastada. A corrupção, sem a necessária punição, corroeu o que havia de fértil.

Quase que diariamente a gente fica sabendo, através da imprensa, que o prefeito de tal município desviou verbas destinadas à merenda e ao transporte escolares, à construção de salas de aulas e ao pagamento de professores. Os recursos são destinados a outras finalidades, principalmente para as contas bancárias dos gestores. Os tribunais de contas denunciam a malversação do administrador público, que consegue driblar a Justiça e a ter o apoio de uma maioria dos vereadores da cidade. Ao deixar o cargo, com os bolsos cheios de dinheiro, vai viver no anonimato na casa grande de sua fazenda, com idas freqüentes ao exterior.

Lamentavelmente, muitos jovens das classes menos favorecidas, social e economicamente, estão sendo arregimentados pelo comércio das drogas, onde o ganho parece ser fácil, mas a vida é curta. Outro contingente, com o apoio dos pais, troca os livros escolares pela bola de futebol, alimentando o sonho transformado em realidade por um Neymar, que, simplesmente, passou pouco tempo numa sala de aula.

Conheci há pouco tempo uma professora, com nível universitário, que trabalhou até os 70 anos numa escola municipal, num bairro da periferia de Salvador, altamente perigoso, dominado pelo tráfico de drogas, que atuava praticamente dentro do estabelecimento de ensino. Aposentada, com salário inferior a mil reais, ela relatou as agressões verbais de alunos, que somente freqüentavam a escola para que as mães não perdessem o benefício do Bolsa Família.

O presidente norte-americano Donald Trump aconselha aos professores a portarem uma arma de fogo. O seu admirador e candidato a presidente da República, capitão Jair Bolsonaro, fotografado esta semana em Goiânia mostrando a uma criança de três anos a imitar um revólver usando as mãos, é autor do Projeto de Lei 7282/14, que dá direito ao cidadão brasileiro de colocar uma arma na cintura.

Pra concluir, Jeré, eu lhe pergunto: quando foi a última vez que o Brasil teve um professor à frente do Ministério da Educação? De Jeremias: Se não me engano, foi nos anos 90, no governo de Collor ou de Itamar Franco. Acorda Brasil! Sua contribuição, Gonzalez, é muito valiosa. O país precisa aprender a pensar e a refletir, sem engolir o que vem pronto na forma de demagogia.