Depois que a notícia virou espetáculo, recheado de apelos piegas e sensacionalismos, o jornalismo passou a esquecer de colocar em suas matérias o porquê dos fatos, deixando um vazio para seu público leitor, ouvinte ou o telespectador. Confundiram a arte de bem informar com o teatro e a novela.

Isso tem acontecido muito nas tragédias, nas catástrofes e nos desastres e, com raras exceções, as coberturas não têm questionado o porquê dos acontecimentos, fazendo um histórico complementar à pauta em questão. Geralmente, faz-se o factual, explorando o sentimentalismo, sem investigar o outro lado da história.

Um exemplo mais recente disso foi o desabamento de um prédio de quatro andares, em Salvador. Ficou sublinhado no noticiário que a construção foi erguida sem o acompanhamento de um engenheiro responsável, tampouco teve a licença do poder público como reza a lei. O que aconteceu, na verdade, foi uma tragédia anunciada.

Sobre esta questão das irregularidades na edificação de prédios, não somente em Salvador, sem a interdição por parte dos órgãos competentes, a mídia não deu destaque e quase nada falou sobre o assunto. Ateve-se apenas aos pesares sentimentais das famílias vítimas da tragédia.

Ao lado do factual, cabiam outras reportagens, através de entrevistas com especialistas, mostrando os riscos de se construir prédios sem o aval da engenharia e em locais inapropriados. Não se indagou do por que a obra não foi interditada pela prefeitura.

Limitou-se a dizer que o prédio foi feito com muito sacrifício por gente pobre, como se este fato social estivesse acima da vida. Depois do desastre, como sempre, todos passam a usar o nome de Deus em vão e criam-se os milagres, inclusive a própria mídia, a qual deveria ser mais racional.

Na maioria das vezes, uma ocorrência rende o desdobramento de outras pautas de cunho político, econômico e social levando o público a pensar e a refletir. Nos bons tempos da imprensa, quando ainda não havia internet, essa visão partia dos chefes de reportagens, dos editores e dos secretários de redação.

Nos dias de hoje parece que o jornalismo nosso de cada dia ficou preguiçoso e lerdo, se contentando com o óbvio. A preocupação maior, especialmente na mídia televisada (no rádio ainda é pior), é com o apelo sensacionalista.

A sensação que se tem é que o editor-chefe não filtra a apuração do repórter, e a matéria é publicada cheia de buracos e furos. Está mais para calhau. O resultado é que a informação sai capenga e incompleta, aspecto pouco analisado pelo leigo que recebe o produto deformado.

Claro que existe o jornalismo omisso, tendencioso, antiético e parcial com o propósito firme de distorcer ou ocultar os fatos, mas, muita coisa tem sido mesmo falta de profissionalismo da mídia atual. O que se percebe é que não se faz mais coberturas jornalísticas como antigamente, com competência e responsabilidade.