Carlos Albán González – Jornalista

O baixíssimo nível técnico do torneio; a interminável “dança” dos técnicos; a carência de jogadores considerados craques; os constantes erros de arbitragem, que, de certa forma, influíram na classificação do campeonato; o exemplo dado por um munícipio de Santa Catarina, a aula de finanças dada pelos dirigentes do São Paulo; o “interesse” do presidente da CBF, Marco Polo del Nero, em acompanhar, pela TV, longe dos estádios, todo o Brasileirão, deixando, inclusive, de viajar para a Moscou, a fim de acompanhar o sorteio da Copa do Mundo de 2018, com receio de ser preso no exterior; a ampliação da participação do Nordeste no próximo ano, apesar do sofrimento e das ameaças de enfarte de torcedores rubro-negros baianos e pernambucanos; a regular campanha do Bahia, que poderia ter ido mais longe; e o toque retal que manteve o Vitória na Série “A”.

Esses, na visão de quem acompanha o futebol da Europa, principalmente o da Espanha, e assistiu ao Campeonato Brasileiro da Série “A” pela TV paga e pela leitura dos artigos assinados por conceituados jornalistas esportivos, foram os fatos – posso ter esquecido de alguns – que marcaram a principal competição do esporte nacional em 2017. Se a Seleção Brasileira dependesse de, pelo menos, 50% dos “pernas de pau” que praticam um futebol pobre de técnica e de virtuosismo pelos campos desse imenso território, o Brasil estaria fora do Mundial da Rússia.

Depois de assistir a um jogo, mesmo entre times que estão nas últimas posições dos seus respectivos campeonatos, disputados na Espanha, Alemanha, Inglaterra, Itália e França, o fã do futebol no Brasil não esconde sua irritação ao ver duas equipes do seu país tocando insistentemente a bola para os lados ou para trás, sem arriscar as jogadas em profundidade ou pelas laterais das áreas; o drible é prioibido; o número de faltas passa dos 40 por partida; placar de 1 a 0 é goleada, porque os escassos gols resultam normalmente de bolas paradas ou alçadas sobre as áreas. Você tem a impressão de que está trocando o concerto de uma orquestra sinfônica pelos ruídos de uma banda de axé. O que mais exaspera é conviver com a passividade, o desinteresse, a falta de empenho, as simulações e as agressões verbais a árbitros e assistentes, praticados por jogadores mantidos com o dinheiro dos torcedores.

Infelizmente, esses defeitos podem ser notados nos jogos das divisões de base – são dezenas de torneios realizados durante todo o ano. Os menores de 20, 17 e 15 anos sonham com o futebol europeu, em se tornar um novo Neymar. Alguns nem chegam a vestir a camisa dos clubes brasileiros. Arrumam a mochila e vão tentar a sorte em lugares distantes, como China, Turquia, Azerbaijão, Islândia e Coréia do Sul.

Com as atenções voltadas para a Copa Libertadores, cujo título conquistou pela terceira vez, o Grêmio praticou, na minha modesta opinião, o melhor futebol do Brasileirão, elevando a vaidade do seu técnico, Renato Gaúcho, que se acha melhor do que seus colegas europeus e reivindica uma estátua na Arena Gremista. Ajudado pelas arbitragens e com o apoio de sua torcida, que sempre lotou o Itaquerão, o Corinthians comemora seu sétimo campeonato nacional.  Hernanes, que voltou ao São Paulo, depois de uma temporada na Itália, pode ser eleito o craque da galera. O mais bem votado entre os nordestinos é Zé Rafael, do Bahia, 11º colocado.

Além dos três primeiros colocados, os paulistas Corinthians (Fábio Carille), Palmeiras (Cuca) e Santos (Dorival Júnior), Cruzeiro (Mano Menezes), Fluminense (Abel, que sofreu a perda de um filho de 18 anos, pode receber um prêmio especial da CBF), Botafogo (Jair Ventura) e Avaí (Claudinei Oliveira), mesmo rebaixado, mantiveram os seus treinadores por todo o campeonato. Rogério Ceni, ídolo do São Paulo, não foi aprovado na sua primeira experiência como técnico e quase leva o seu clube ao rebaixamento. Em 2018 vaii dirigir o Fortaleza, promovido à Série “B”. Vanderlei Luxemburgo, de volta da China, também quase derruba o Sport do Recife.

A média de público no Brasileirão 2017 foi de 15.891 pagantes – no ano passado foi de 15.239 -, o que representa 41% dos lugares ocupados nos estádios. Os números são bem distantes dos verificados nos jogos do Real Madri, Barcelona, Bayern de Munique e Manchester United, que impressionam com médias entre 70 e 75 mil por partida. Segundo o colunista Juca Kfouri, da “Folha de S. Paulo”, a ausência do torcedor “reflete o estagio atual do nosso futebol e a indigência moral da cartolagem nacional”.

A melhora desse ano no Brasil se deve a uma iniciativa inteligente do São Paulo, que chegou a cobrar R$ 1 por ingresso em alguns setores do Morumbi. O tricolor paulista, que possui os cinco maiores públicos do torneio, superiores a 50 mil pagantes, totalizou 1.009.059 nos seus 19 jogos como mandante, superando o recorde de 1.001.982, que já durava 11 anos. Depois dos são-paulinos, os torcedores mais fiéis foram os do Corinthians, Palmeiras e Bahia (média de 21.540 tricolores); o Vitória ficou em 15º lugar, com média de 9.906.

A CBF reservou a quantia de R$ 63.774.000,00 para premiar os participantes do Brasileirão, exceção aos rebaixados Coritiba, Avaí, Ponte Preta e Atlético Goianiense. O Corinthians vai receber R$ 18.069.000; o Palmeiras, R$ 11.373.000; o Bahia, 12º colocado, R$1.222.335,00, e o Vitória, que acusa o desaparecimento de R$ 12 milhões dos seus cofres, terá direito, como 16º classificado, a R$ 744.030.

Nordeste cresce

Um fato positivo no campeonato encerrado domingo passado, com uma rodada eletrizante, foi a conquista de mais uma vaga na divisão de elite para o Nordeste, em 2018,  com a ascensão do Ceará, um campeão de renda. O Bahia, por onde passaram os técnicos Guto Ferreira, Jorginho, Preto Casagrande e, finalmente, Carpegianni), conseguiu um lugar na Sul-Americana, que também poderá ter a participação do Sport, caso o Flamengo elimine o Independiente, da Argentina, nas finais do torneio continental deste ano. Em compensação, duas das maiores expressões do futebol nordestino, Santa Cruz e Náutico, vão participar em 2018 da Série “C”.

O Vitória, que pelo segundo ano consecutivo, deixa seus torcedores à beira de um enfarte, escapando de visitar a Série B pela sexta vez, deve agradecer ao gol da Chapecoense diante do Coritiba, aos 49 minutos do segundo tempo. Analisando esse drama pelo lado pitoresco concluo que a fuga do rebaixamento se deu na partida anterior, diante da Ponte Preta, em Campinas. Aos 19 minutos, ganhando por 2 a 0, o “capitão” Rodrigo, do time paulista, influenciado pela campanha Novembro Azul, resolveu, com um toque retal, verificar o volume da próstata do rubro-negro Trelléz. Expulso de campo, propiciou à equipe baiana tempo suficiente para virar o placar.

Terceiro treinador – seus antecessores foram Petkovic e Alexandre Gallo – no período que passou no “inferno” – Wagner Mancini, visto como “salvador da pátria”, colocou os dirigentes do Vitória no banco dos réus, pedindo mais responsabilidade e trabalho e menos dissenções internas. No dia da partida contra a Ponte Preta o presidente licenciado Ivã de Almeida, acusado pelos conselheiros de gestão temerária (o termo deveria ser outro), pediu demissão do cargo. Novas eleições estão marcadas para o próximo dia 11.

O exemplo da Chapecoense

Esta não é a primeira vez que eu levo às autoridades, empresários e desportistas de Vitória da Conquista, como um exemplo a ser seguido, o município catarinense de Chapecó e seu representante no futebol brasileiro, a Chapecoense, fundada há 44 anos. Em 2015, Santa Catarina contava com quatro clubes, Avaí, Joinville, Figueirense e a Chapecoense, no grupo de elite da CBF. Para a disputa de 2018 terá apenas um, que vale mais do que os outros que ficaram pelo caminho. Há exatamente um ano, o clube, que hoje tem a maior torcida do estado, perdeu 19 jogadores num desastre aéreo. Maior pontuadora da segunda fase do Brasileirão, a Chape (8º lugar), que estreou na Série “A” em 2014, foi premiada com uma vaga na Libertadores de 2018.

Conquistenses, vejam bem, a Chape, que é alviverde como o clube de sua cidade, foi abraçada por todos os segmentos da sociedade, comércio, indústria e poderes públicos locais. Em 2018, além do Campeonato Baiano, uma espécie de caça-níquel, o Vitória da Conquista vai participar da Copa do Brasil e da Série “D” do Brasileirão, duas competições nacionais que funcionam como elevadores para colocações mais altas, como aconteceu com o time do Sul. Mas, se não tiver apoio terá o mesmo destino de Serrano, Humaitá e Conquista E.C.

O primeiro passo deve ser dado pela prefeitura. Evangélico da linha pentecostal, Herzem Gusmão Pereira parece ter aversão ao esporte. Este ano foi uma vez ao Lomantão, no jogo Vitória da Conquista x Bahia, mas com a finalidade de acompanhar o advogado Ademir Ismerim Medina, o mesmo que defendeu a ditadura no Bahia, derrubada em 2015. Ismerim seria contratado para processar jornalistas que faziam críticas à administração municipal.

Para ilustrar esse meu apelo gostaria de revelar um pouco de Chapecó, que em agosto festejou seu centenário de fundação. Capital nacional da agroindústria e capital do turismo de negócios, o município, que tem um dos maiores IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país, foi colonizado por alemães e italianos. Com 626 mil km², o quarto município catarinense possui 213.279 habitantes. Sua renda per capita é de R$ 38.184,47; a de Conquista é de R$ 15.843.