A MESOPOTÂMIA – HISTÓRIA, CIVILIZAÇÃO E CULTURA

As versões dão conta de que esses povos vieram das montanhas do Cáucaso, da Índia e de várias partes da Europa, alguns bárbaros como refugiados escorraçados por tribos inimigas, que se espalharam pelas terras da Mesopotâmia entre os rios Tigre e Eufrates (o Crescente Fértil), hoje a Turquia, Iraque, Irã, Líbano, Síria e até na Jordânia e Israel.

Essas tribos se tornaram guerreiras, se destacando depois os Assírios-Babilônios que conquistaram toda região, denominada de Quatro Partes do Mundo, durante quatro milênios Antes de Cristo, batendo nas portas dos reinos de Judá e Israel destruindo tudo que encontravam pela frente, inclusive seus tempos sagrados.

Mas, eles não apenas tiveram reis sanguinários. Foram exímios na técnica da irrigação, cujos métodos até hoje adotamos, abriram canais, construíram grandes cidades e torres, criaram a escrita e deixaram suas histórias em milhares de tabuinhas de barro, sem contar a arte da escultura e da arquitetura.

O autor do livro “Dos Sumérios a Babel”, Federico A. Arborio Mella  diz, em seu prefácio, dedicar a obra para os apaixonados pela história antiga dos grandes reis e generais Sargão II, Teglatfalassar, Assarhaddon, Senaquerib, Assurbanipal, Hammurabi, Ciro, Nabucodonosor e para quem a palavra “Mesopotâmia” evoca a “soberba Nínive” e a “Torre de Babel”.

Apesar da escassez de documentos, aqui o autor faz um belo passeio narrativo sobre a epopeia suméria, a revolução dos acádicos, as venturas e desventuras dos babilônios, dos assírios e de todos os povos que se instalaram nas férteis terras entre o Tigre e o Eufrates.

A Sagrada Escritura que extraiu muitas passagens bíblicas desses antigos povos, inclusive delas fazendo suas próprias versões dos seus patriarcas e profetas, ( Isaias, Jeremias, Ezequiel) fala muito dos caldeus, de Babel, dos Assírios, citando os nomes de Ur, Erek, Acad e outros. O historiador, na época repórter viajante Heródoto, o grego, descreve a Babilônia com precisão.

Como a obra tem como base central as descobertas arqueológicas a partir do século XIX, o escritor oferece, na abertura, uma visão geral sobre os achados das grandes cidades, as inscrições deixadas pelos reis e seus feitos, lendas, deuses e grandes nomes dos estudiosos do assunto.

 Como toda aquela civilização prosperava e girava em torno dos dois grandes rios, um dos maiores feitos da arqueologia foi protagonizado pelo nativo de Mossul (Iraque) Hormuzd Rassam que desenterrou, em 1854, documentos da Biblioteca de Assurbanipal. Conta que o grande rei, admirador da cultura, deu ordens aos seus enviados de comprar todas as obras científicas, literárias e históricas que pudessem encontrar. Trata-se de uma coleção de mais de 30 mil tabuinhas de argila.

As inscrições deixadas pelos reis, especialmente sobre suas conquistas, muitas das quais exageradas e vaidosas, eram muito importantes como esta de Dario “Este rei Dariavuch (Dario) ordena: Tu que nos dias que virão vires esta inscrição e estas figuras de homens que eu fiz esculpir na rocha, não danifiques e não destruas nada. Tem cuidado, para que deixe uma semente, e conserve-a intacta”. Como esta inscrição é atual e serve de lição para os vândalos brasileiros de monumentos públicos!

Na religião suméria predominaram crenças rústicas que os historiadores chamavam de “xamanismo”, crenças em espíritos malignos (Passu, Labartu e Lilitu), bruxarias e esconjuros contra os espíritos. Anu era o grande capitão, inimigo dos homens e pai de todos os demônios. Enqui, a personificação do subterrâneo e do abismo. Sin era deus da Lua, criador do mundo e dos seres vivos, quem confere ou tira a coroa dos reis. Ningal, sua esposa, era a Grande Senhora. Marduk, uma espécie de deus supremo, e muitos deles continuaram sendo adorados por toda Mesopotâmia durante os impérios assírios-babilônicos.

Como o tema é extenso e descritivo, baseado nas descobertas científicas arqueológicas desses povos, vamos nos ater a algumas passagens que mais chamam a atenção do leitor por serem mais marcantes na história, como A Epopeia de Guilgaamech, O Poema da Criação, O Código de Hammurabi, O Mito de Adapa, Direito Penal, Guggu de Ludd, Nabucodonosor e A Lenda do Nascimento de Ciro.

No período de 2900 a 2500, Uruk (a bíblica Erech) foi a cidade mais poderosa da Suméria, fundada pela deusa Inanna, a Ichtar do poema bíblico “A Ascensão de Ichtar” onde seu pai Anu, já embriagado, deu-lhe de presente a divina Essência e a Coroa. Passada a bebedeira, numa ressaca danada que nem boldo cura, Anu tentou retomar seu bens, mas Ichtar desaforada não deixou e instalou-se toda presunçosa em Uruk.

Inanna tinha como amante Dumuzi (Tamuzu em acádico). Um dia ele afundou com seu barco e foi para o inferno onde os espíritos o mantiveram como prisioneiro. Desse episódio mitológico nasceu uma das mais poéticas obras da literatura mesopotâmica, conhecida como “Descida de Ichtar aos Infernos”.

Não vendo seu amante retornar, Ichtar (Inanna) resolveu descer ao Arallu, cidade dos mortos. Com todo ímpeto bate no portão ameaçando derrubá-lo. O guardião pede para esperar enquanto vai falar com Erechquigal, rainha dos infernos e a própria irmã de Ichtar. Ela fica perplexa, mas a deixa passar, com a exigência de que tire a coroa na primeira porta, os brincos na segunda, o colar na terceira, o peitoral na quarta, a cinta na quinta, os braceletes na sexta e as vestes na última. Como quem desce à sepultura, a rainha fica totalmente nua.

As duas irmãs se agridem e Ichtar exige seu amante, mas Erechquigal a aprisiona no seu palácio. Com isso, na terra, a vida amorosa extinguiu-se com a ausência da deusa da fertilidade. O mensageiro dos deuses Pap-sukkal recorre ao sábio Ea, ou Enqui. Este cria um arauto, o afeminado, e envia a Erechquigal que o transforma em rã. Resolve, então chamar seu guardião e convoca uma assembleia entre os deuses da terra para apresentar sua irmã que é libertada e aspergida com a água da vida. Recebe suas vestes e enfeites de volta e é entregue a Uruk.

Seu amante, consegue a permissão para voltar à terra, mas, a cada verão, quando o grão é ceifado, sete demônios tiram Dumuzi do palácio e o levam à cidade dos mortos. Cabe a Ichtar esperar pela próxima primavera. Seu amante tornou-se deus do renascer da vegetação. A cada Ano Novo, uma representação sacra recita a morte de Dumuzi. O rei aparecia em pessoa, caracterizado como Dumuzi, junto com a sacerdotisa. Assim começa o Ano Novo, em março.