“Os pingos da chuva fazem um buraco na pedra não pela violência, mas por cair com frequência” – Lucretius

A concorrência entre ladrões no Brasil está acirrada e deixando o mercado saturado. A competição não está moleza pra ninguém. Tem até meliante aí com medo de perder o emprego. O setor também sofre com a crise. Todas as cidades foram loteadas. Noutro dia, um ladrão disse para o outro: Cara se manda que este ponto já tem dono.

Os mais malandros estão alugando e terceirizando áreas, e aí o bandido tem que se virar para não ter prejuízo no final do mês. Como a situação está difícil, estão até adiando férias e folgas. Muitos ficam sem o décimo terceiro e outros benefícios. Tem ladrão demais no mercado. Muitos estão até tomando cursos de profissionalização para enfrentar as disputas.

Quando o cidadão não tem dinheiro na carteira, relógio, celular, e objetos valiosos, tem marginal fazendo acordo na boa com o cliente, do tipo vá em casa ou ao banco pegar a grana, dando desconto no assalto e até recebendo via cartão de crédito. O negócio é faturar, não perder a clientela para não ficar desempregado.

No alto Planalto de Brasília, a concorrência também é pesada, mas a coisa lá é bem diferente porque todos estão bem empregados com bons cargos e mordomias. No entanto, lá também tem organização criminosa e todos os pontos estão loteados e demarcados. Deputados, senadores e executivos se reúnem sempre para estabelecer princípios. Mesmo assim tem muita gente quebrando as regras e roubando ladrão.

Uma coisa muito marcante neste mercado de ladrões é o machismo. As mulheres sempre são jogadas de escanteio, alijadas mesmo do processo, principalmente em Brasília. Sempre estão dizendo que não sabiam de nada. Apenas gastavam em restaurantes e lojas de luxo com joias e roupas.

Viu na semana passada na televisão aquele diálogo: Oi, Pati, sou eu, a Tici! Estou ligando para dar meu apoio e dizer que estou do seu lado. Na festa que promovemos para nossos esposos tudo correu normal. Não houve nada de acerto de propinas e corrupção. Ingênuas! Nem sabiam que ficaram de fora dos esquemas dos 10 milhões de reais!

Dizem por aí que ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão, mas não é bem assim que a coisa funciona entre eles. Não existe perdão. Com as turmas das ruas, as regras são claras, como diz o juiz de futebol Arnaldo César Coelho. Em Brasília dos percentuais como norma ética, se marcar bobeira, uns roubam os outros no maior cinismo e cara de pau.

Os profissionais dos asfaltos vão mesmo na mão grande de arma em punho e têm seus próprios códigos de ética e moral. Os palacianos são desprovidos de caráter; fazem seus acertos usando celulares ou através de mensagens pela internet; aparecem no escondidinho ou em pontos estratégicos movimentados; e recolhem a grana em malas, sacolas, meias ou nas cuecas.

Dia desses um “bandidão” da cidade grande apontou um trabuco para um político graúdo com uma mala cheia de reais e verdinhas.

– E aí doutor, perdeu, passa o bagulho que o senhor nos roubou. Estou aqui nesta miséria por sua causa.

O parlamentar tentou negociar fixando um percentual do roubo e até um cargo como assessor. Contou umas historinhas falsas e teve a cara de pau em dizer que a dinheirama era para construir escolas e creches. Coisa social.

– Pensa que sou igual a vocês, doutor! Não sou otário pra cair neste papo de enrolação. Olha aí, cara, quer mesmo levar balaço na cuca? Estou doidão e passo fogo.

O ladrão foi esperto e encurtou logo a conversa porque se demorasse mais um pouco seria convencido a desistir da empreitada. Levou tudo, inclusive a cueca recheada.

Por falar nisso, a operação conjunta das forças armadas com cinco mil homens com tanques e equipamentos para desbaratar quadrilhas no Rio de Janeiro foi como uma montanha que pariu um rato. Apreendeu algumas pistolas e uns pacotes de drogas. Bando de incompetentes!

É, se os das nossas ruas e bairros nos aterrorizam e matam, os de lá de cima não merecem confiança e também tiram a vida de muita gente. É só observar como agem, comprando votos e mentindo.

– Se eu não receber um ministério, uns cargos ou dinheiro, não votarei a seu favor para não ser cassado e nas reformas.

Depois de tudo combinado e receber a muamba, na hora de votar o cara diz sim e ainda acrescenta que está votando nos projetos com consciência e pela melhoria do Brasil e dos brasileiros. Sem mais comentários. Nem é preciso falar mais nada. Ainda colocam a democracia no meio do bagulho.

Por causa dos corruptos, dos maus políticos, da degeneração dos partidos e dos governantes que infestam nossa nação, somente 38% da população acreditam que o modelo brasileiro de democracia é o melhor regime. Pelo visto, vamos cair mesmo em mãos de aventureiros favoráveis a uma ditadura militar. Te cuida ladrão que a barra está pesada!