No “Pós-Verdade”, termo eleito como o maior vocábulo do ano de 2016 pelo Dicionário Oxford, “os fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”. Tudo isso define o momento em que vivemos.

Para definir estas circunstâncias do nosso tempo, o professor, doutor em linguística e referência do pensamento crítico sobre jornalismo brasileiro, Nilson Lage, disse que é da natureza humana recusar fatos que contrariam nossa visão de mundo.

Em entrevista à revista “Muito” de o A Tarde, veja o que fala o professor sobre a informação da mídia, da qual não se deve confiar totalmente, de acordo com sua recomendação.

Para ele, as pessoas tendem a aderir à informação que confirma suas crenças e valores; prestigiam o que é surpreendente; contrariam a lógica ou é mais fácil de compreender – tecnicamente tem menor custo neuronal.

Em sua análise, não há coisa mais axiomática do que a notícia: Não argumenta, não costuma comprovar o que informa e, raramente, cita a fonte ou a fonte é acessível.

Uma pesquisa mostrou que 78% dos brasileiros utilizam as redes sociais para se informar, mas, como contraditório e aberrante, apenas 6% dos usuários dizem confiar totalmente no que veem na rede.

Nilson Lage afirma que confiar cegamente é sempre uma atitude insensata. “Trocamos informação o tempo todo sem a certeza de sua veracidade e, principalmente, sem saber se o que ainda não foi dito será falso”.

Quanto à checagem dos fatos, o professor é categórico quando declara que a mídia não checa um por cento daquilo que publica. A mídia confia em fontes oficiais, que mentem pelos cotovelos; relatos de testemunhas que contam um conto e acrescentam vários pontos; agências internacionais com vieses que se desconhecem; e assume versões tortas de advogados espertos. “Até um jogador de time de várzea tem assessor de imprensa. Ninguém fala à mídia sem que tenha alguma intenção”.

Em sua opinião, um fato admite ´n´versões. Para exemplificar, cita a morte do ministro Teori Zavascki como fato que tem uma causa objetiva para ser investigada. Adianta o professor que a morte do ministro é menos relevante do que o conjunto das versões que suscita. “Estas não podem ser desmentidas facilmente. Podem apenas ser avaliadas e confrontadas”.

“Devemos ser educados a decodificar o sentido expresso e oculto das mensagens. Em suma, desconfiar antes de confiar”.

Sobre um marco regulatório para a mídia brasileira, Lage destaca que a recusa à aprovação de normas vem da distorção do conceito de liberdade de imprensa. “Essa é uma distorção de que se aproveitaram as Organizações Globo para montar seu monopólio da informação, associando-se aos representantes de oligarquias regionais. É uma distorção que atravessa o diálogo e distorce a democracia”.

Aponta ainda que a concentração da mídia não só limita a liberdade de informar como elimina o direito de os cidadãos serem informados. Segundo ele, a perda de credibilidade na mídia foi bastante acentuada e crescente.  Da minha parte, sempre tenho dito que o direito à liberdade de imprensa acaba quando não se tem ética e responsabilidade com a informação.