Comenta-se muito nas mídias e nas propagandas institucionais sobre a falta de consciência dos usuários em geral que não economizam energia e água como deveriam, mas pouco da má gestão e da incompetência do poder público. Claro que o cidadão tem que fazer sua parte, mas o maior culpado, por exemplo, da escassez de água, é do governante que não administra bem os nossos recursos.

Outro culpado é São Pedro que não manda chuva no tempo certo. Aí fica o cara lá, indicado por um político da coalizão partidária, dizendo que a volta à normalidade e a saída do racionamento e dos apagões de energia vão depender do céu. Basta olhar no mapa geográfico para detectar que a maioria das nossas represas no Brasil é desprovida de árvores e suas margens não são protegidas. O solo está nu e desértico.

Em Nova Iorque, nos Estados Unidos, os responsáveis pelas represas que abastecem a cidade adquiriram terrenos particulares próximos para serem reflorestados, e as águas são rigorosamente protegidas de qualquer tipo de uso e depredação.

A conscientização da população é importante, mas aqui, fica-se o tempo todo colocando a culpa nos consumidores e olhando para o céu. No Brasil, temos muitas leis e códigos, mas quase nada de estrutura e fiscalização para fazer com que as normas sejam cumpridas.

Em Salvador, por exemplo, o poder público achou como solução simplista cimentar muitos rios que cortam a cidade como forma de evitar a sujeira a céu aberto que corria em seus leitos. Em Conquista, um pequeno rio de uma minação do Poço Escuro simplesmente desapareceu e virou esgoto.

Por falar em Poço Escuro e Serra do Periperi, quem mais depredou estas áreas, tirando cascalho, areia, pedras e terra? Foi o poder público. É só pesquisar sua história. No entanto, nenhum governante foi responsabilizado pelas agressões praticadas contra suas floras e suas faunas.

Li muitos textos sobre o Dia Mundial da Água (22 de março) onde apontam a seca, as técnicas antigas de irrigação e as ligações clandestinas como os maiores vilões pela escassez desse recurso, mas quase nada sobre a má gestão dos órgãos que controlam os mananciais.

De acordo com dados estatísticos, a agricultura consome 70% das nossas reservas de água. Faltou dizer que a maior parte desse percentual é utilizada pelas culturas do tipo de exportação mantidas por grandes empresas que só visam o lucro e exploram até as nascentes de rios como estão fazendo no oeste da Bahia e na Chapada Diamantina.

O rio São Francisco, o Velho Chico, que corta sete estados e já foi até chamado de rio da integração nacional, está aos poucos morrendo e quem é o maior culpado? Quem inventou de fazer uma obra de transposição que está lá abandonada no deserto e custou rios de dinheiro? Não venham dizer que os culpados são os ribeirinhos que sugam suas águas!

A mídia precisa ser mais esclarecedora e se aprofundar na questão da má gestão dos órgãos que foram indicados para proteger os recursos hídricos e evitar, ao máximo, as irregularidades existentes. Esse negócio de “Menos é Mais” deveria começar a ser cobrado do poder público que não cuida das nossas riquezas, investe mal e ainda rouba.