O cara que diz que está “cagando nas cabeças desses cornos” que o acusam é o mesmo que chegou aqui na nau Cabrália em forma de morotó e depois virou bicho grande comedor de onça, lobos, capivara e leão.

É o mesmo cara que rouba a energia e a água do vizinho. É o cara que olha do alto da sua torre de marfim e acha que todos que estão lá embaixo são otários e imbecis. É o mesmo que do alto do seu poder se considera intocável e impune com a missão de até matar, se for possível.

Por este país a fora, é o mesmo que lhe vende um bilhete falso de uma loteria, ou passa o “conto do vigário” para roubar sua bolsa. È também o mesmo que passa irregular num posto da polícia rodoviária dando uma bela gorjeta para o guarda.

É o cara que fura a fila e o mesmo que nela fica para vender o lugar para outro que aceita por entender que é assim mesmo porque o serviço público não funciona a contento e numa vai ter jeito. É o professor ou o médico plantonista que queima o trabalho.

É o mesmo que acredita que não importa roubar, tanto que se faça alguma coisa. É o cara que chama todo mundo de “negada”, de bando, rebanho e outros termos depreciativos. É o mesmo que aceita esta linguagem sem reagir, por considerar que o cara é popular e está ao seu lado para brigar pelos seus direitos.

É o cara que quer levar vantagem em tudo como na “Lei de Gerson” e só se preocupa em se dar bem na vida, mesmo que os meios justifiquem os fins. É o cara que só dar o peixe porque sabe que vai calar a boca do ignorante acomodado que se contenta em ficar na pobreza eterna.

É o Macunaíma, de Mário de Andrade, o Capiroba, de João Ubaldo Ribeiro ou aquela figura de terno e gravata que com sua lábia bonita pronuncia um monte de clichês políticos que impressionam a multidão. É o mesmo que compra e o mesmo que vende o voto por um mísero favor ou uns trocados.

Por tudo isto e muito mais, a situação em que atualmente se encontra o nosso país já era previsível. É o acúmulo de muitos anos de tudo o que não presta. É como uma promissória falsificada que só se descobre a roubada em que se meteu no dia do seu resgate. Não podemos é ser farinha do mesmo saco.

Aí, meu amigo, o cara vai lhe dar uma desculpa qualquer ou lhe dizer que ele também foi enganado e que todo mundo faz assim. Se todos recebem propinas, tudo está justificado. Chegamos ao ponto que não adiante só trocar de patrão se a coloração política ainda é pior. Eles se acham donos de todos nós e vão continuar nos tratando de rebanho.