Carlos González – jornalista

Ninguém deve tomar como surpresa se um dos primeiros atos do novo ministro do Esporte, George Hilton Santos Cecílio, alegando razões de ordem moral, ponha em discussão os diminutos biquínis usados pelas nossas jogadoras de vôlei de praia. O titular da pasta, no segundo mandato do governo Dilma Rousseff, é baiano de Alagoinhas, mas ocupa desde 2007 uma cadeira na Câmara Federal pelo desconhecido PRB de Minas Gerais, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).

Sem nunca ter praticado esporte na juventude, sem distinguir entre uma bola de tênis e outra de basebol, Cecílio reúne em seu currículo atividades como as de radialista, animador de auditório, teólogo e pastor da IURD. Seu critério de escolha não foi político, como o da maioria dos seus 38 colegas de Ministério. O novo gestor do esporte nacional pertence à cota que o governo deve ter prometido à Universal, cujos adeptos, por imposição, votaram pela reeleição da petista.

Membro do baixo clero na Câmara, embora lidere seu nanico partido, Cecílio raramente aparece no noticiário político nacional. Antes de obter uma cadeira no Legislativo, graças ao apoio da IURD, figurou, em 2005, nas páginas policiais dos jornais, ao seu flagrado pela Polícia Federal, no Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, transportando 600 mil dólares, não declarados, em avião fretado, crime que resultou na sua expulsão do extinto PFL. Além do mais, é acusado de sonegar impostos no valor de quase R$ 30 milhões, e de responder a 14 processos na Justiça mineira.

Após três administrações comunistas, Agnelo Queiroz, Orlando Silva e Aldo Rebelo (o vermelho da bandeira do PCB está desbotando), o esporte, na opinião daqueles que o praticam, foi absurdamente desprestigiado pelo Planalto, com a nomeação de uma pessoa que confessou “não entender do assunto”. Em repúdio, os atletas esvaziaram a solenidade de posse do novo ministro. Ao contrário do que noticiou a Record, emissora pertencente à Universal, foi anotada apenas a presença de Emanuel Rego (vôlei de praia), que é casado com Leila (ex-atleta e filiada ao PRB). Depois da transmissão de cargo, Cecílio evitou a imprensa, refugiando-se em seu gabinete, onde recebeu abraços e tapinhas nas costas de políticos e “cartolas” ligados a todas as modalidades esportivas, do futebol ao cuspe à distância.

Quem alimentava a esperança de que o futebol brasileiro se recuperasse, dentro e fora dos gramados, dos erros cometidos em 2014, a esdrúxula nomeação de Cecílio lança sobre os brasileiros uma completa frustração.

Na esteira dos controvertidos administradores esportivos do país figuram Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) desde 1995, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, presidente atual e futuro – toma posse em abril – da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Septuagenários, pesam sobre os seus ombros denúncias de gestões fraudulentas, acobertadas pelos grupos que os elegeram, os quase vitalícios dirigentes de confederações, federações, clubes e ligas do interior.

Crítico obstinado da CBF, o senador eleito Romário Faria (PSB/RJ) tentou na legislatura passada criar uma CPI na Câmara Federal, baseado numa série de escândalos envolvendo a entidade, como o enriquecimento ilícito de dirigentes, corrupção, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Seu requerimento deve estar no fundo de alguma gaveta por interferência do grupo chamado de Bancada da Bola. Seus sete membros (um deputado para cada gol da Alemanha na goleada sobre o Brasil) têm como única preocupação blindar a CBF. Um desses parlamentares, José Rocha, é presidente do Conselho Deliberativo do Vitória, declarado opositor às eleições diretas no clube baiano.

A bandidagem não é exclusividade do futebol. Está enraizada em outras entidades esportivas. Recentemente, a Controladoria Geral da União (CGU), que foi dirigida com competência pelo baiano Jorge Hage, descobriu que a Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), na gestão de Ary Graça, hoje dirigindo a federação internacional do esporte, desviou R$ 30 milhões da ajuda concedida pelo Banco do Brasil. O patrocínio foi suspenso e os atletas exigem a punição dos responsáveis e a devolução do dinheiro desviado.