Quando se estava na década de 60 e 70 com a alma triste, de vazio existencial, pessimista e melancólica, podia se dizer que o indivíduo estava na fossa. Lia-se muito sobre o existencialismo do francês de Jean-Paul-Sartre. “Estou na fossa, cara, Me deixa curtir minha fossa”.

Tudo isso, e mais o tema da morte, tem a ver com a poesia do paraibano de Sapé, Augusto dos Anjos, que hoje (dia 12/11) completa cem anos da sua morte e continua conquistando leitores com seus versos rasgados e desgraçados sobre o outro lado da alma humana.

Augusto dos Anjos viveu apenas 30 anos (morreu em Leopoldina – Minas Gerais) e publicou o único livro “EU”. Mesmo menosprezado e criticado na época, é um dos poetas mais editados no Brasil, com mais de 40 edições. È muito para um escritor nordestino. Falou para acadêmicos e gente simples que admiram seus versos que mostram o outro lado da alma humana. Marcou época entre o rural e o urbano.

Como reconhecimento pela sua obra, foi criado em 2006, em Sapé (Paraíba), o Memorial Augusto dos Anjos. Recentemente, o quadrinista Jairo Cézar Soares lançou o roteiro “Augusto dos Anjos em Quadrinhos” e recomendou ler o poeta, sem medo. “Esqueçam o pessimismo, a podridão, porque ele é muito mais metafórico, precisa ser relativizado”.

Impactante e diferente, o poeta chama a atenção do público por suas frases fortes, especialmente quando fala da morte e da melancolia. Para a filósofa Ísis Nery, por sua abordagem negativa e pessimista da condição humana, “o poeta favoreceu uma perspectiva mais plural acerca do que somos”.

A casa onde o poeta viveu seus últimos quatro meses em Leopoldina (faleceu de pneumonia) foi transformada no “Museu Espaço dos Anjos”. Augusto dos Anjos foi parnasiano, simbolista e pré-modernista.

Versos Íntimos é um de seus poemas mais famosos: Vês! Ninguém assistiu ao formidável/Enterro de última quimera./Somente a Ingratidão – esta pantera – /Foi tua companheira/Inseparável!

Acostuma-te à lama/que te espera!/O homem, que, nesta/terra miserável,/Mora, entre feras,/sente inevitável/Necessidade de/também ser fera.

Toma um fósforo./Acende teu cigarro!/O beijo, amigo, é a /véspera do escarro,/A mão que afaga/ é a mesma que apedreja.

Se alguém causa inda/pena a tua chaga,/Apedreja essa mão/vil que te afaga,/Escarra nessa boca/que te beija!