Jeremias Macário

Êta, seu moço, vou chorar,

com este triste sol poente,

sem nenhuma gota no ar,

neste sertão tão cinzento,

que há um ano não boto,

nesta terra estorricada,

a esperança da semente.

 

FOTOS DIVERSAS 030 - Cópia

Êta, seu moço, não aguento,

ver toda esta pobre gente,

vivendo só de lamento,

e de sede o meu jumento,

pois o gado mais fraco,

já virou nesta seca carcaça,

símbolo de um árido cavaco,

onde políticos só aparecem,

na temporada de caça.

 

Nesta terra tão abandonada,

da catinga não vinga mais nada,

e nem São José mandou chover,

pra plantar o milho pra colher,

no dia festeiro de São João,

e brincar no “Arraia da Sinhá”.

 

Olha lá que bagaceira, seu moço!

Ficou só o solitário mandacaru,

nesta sequidão da terra rachada,

onde os bichos se foram em retirada,

para outras bandas mornas do sul.

 

Eu vos peço, oh meu Senhor!

Que mande a chuva pra eu lavrar,

porque os homens do lado de cá,

passam o tempo todo a nos enrolar,

enquanto meu açude de todo secou,

e a minha dor me impede de cantar.

 

Oh, meu Senhor! Ampare teu filho!

essa gente nos deixou aqui a penar,

com promessa de crédito parcelado,

muita cisterna e água por todo lado,

mas o que tem muito aí é caudilho,

roubando dos nossos filhos a alegria,

com um pacote cheio de burocracia.

 

Ninguém olha mais para esse lugar,

que sempre tem gente indo embora,

e outros se arrastando em procissão,

rezando ao céu uma penitente oração

para que do alto desça uma melhora

pra a chaga dessa ferida se fechar.

 

É, seu moço, a coisa aqui só piora,

e “quando é que isso vai se acabar”?

Até quando vamos ter de nos calar,

sem entrar nessa brigar pra valer?

e não ficar esperando chegar a hora,

porque esse “esperar não é saber”,

o que mais conta é o “fazer acontecer”.