“ÁLBUNS DE LEMBRANÇAS”

O pesquisador paulistano João Emílio Gerodetti e o jornalista chileno Carlos Cornejo fizeram um levantamento histórico sobre o apogeu dos trens e das estradas de ferro no Brasil. Diz em seu trabalho que durante muitos anos o apito do trem significou desenvolvimento, cultura e civilização. “Ao redor das estações e próximos à malha ferroviária, nasceram e cresceram sonhos, amores e cidades”.

O livro “As Ferrovias do Brasil nos Cartões-Postais e Álbuns de Lembranças” foi patrocinado pela Companhia Vale do Rio Doce, através da lei de incentivo do Ministério da Cultura.  Como declarou o autor e pesquisador, também comigo o trem faz parte da minha infância. O trem fica sempre na nossa imaginação.

Minha pequena Piritiba, nas cercanias da Chapada Diamantina, onde passei pequena parte da infância quando ainda moleque, vivia os primeiros anos de emancipação política, mas já contava com a linha férrea.

Máquinas paradas - Cópia

Repito as mesmas palavras do autor: Não sei quem veio primeiro. Foi também a partir do trem que deixei minha infância para estudar em Amargosa, no Seminário Nossa Senhora do Bom Conselho. Ia até Itaberaba no “Trem Groteiro” e, às vezes, até Iaçu. De lá seguia de Rural para Amargosa.

O livro traz depoimentos de pessoas que viajaram de trem, além de informações sobre a história da implantação das ferrovias no país. Campinas é lembrada no livro através da Estação da Companhia Paulista (hoje Estação Cultural). Também em Piritiba, na Bahia, a Estação se transformou num Centro Cultural. Mas, em outras cidades, as velhas instalações estão abandonadas e depredadas, servindo de esconderijo de marginais e drogados.

ESCRAVOS NAS FERROVIAS

O sistema ferroviário baiano – o meio de transporte mais barato – está completando 150 anos de instalado, só que quase toda estrutura montada foi desmantelada a partir dos anos 70 e 80 do século passado para dar lugar às estradas de rodagem.

Na primeira metade do século XIX quando surgiram as primeiras ferrovias no Brasil – nos Estados Unidos e Rússia essas estradas foram a alavanca do desenvolvimento – os escravos fugiam das senzalas e, disfarçados de homens livres, se incorporavam às turmas de trabalho, contratadas pelas companhias americanas e inglesas.

O escravo Basílio foi um dos fugitivos de 1868 quando chegou a trabalhar na Estrada de Ferro da Bahia. Depois de 1888, com a Lei que decretou a Abolição da Escravatura, os negros ficaram sem serviço nas fazendas e muitos foram trabalhar nas ferrovias.

Muitos deles foram utilizados de forma legal nessas estradas, como Galdino Calmon, que chegou a ser carregador em Mares, na Bahia, e chegou a liderar uma greve por melhorias salariais.

Em 1909, em razão da exploração em termos físicos e de salários, greves paralisaram as atividades do transporte ferroviário de passageiros, resultando em prisões dos trabalhadores do setor.

CREA/BA DISCUTE SISTEMA

Entre muitas discussões realizadas por entidades baianas, visando a revitalização de nossas ferrovias, o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA/BA) promoveu, há pouco tempo, um debate com técnicos e especialistas do assunto, com apoio da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Dentre os pontos discutidos, o professor Sérgio Fraga Santos identificou o agravamento no desenvolvimento das ferrovias, especialmente a partir da privatização da empresa. Já o engenheiro Vasco de Azevedo Neto apontou vários benefícios da ferrovia na economia de custos nos transportes dos produtos. Segundo ele, a ferrovia pode facilitar o escoamento da produção agrícola.

Ao contrário dos Estados Unidos, Rússia e da China, o Brasil está hoje na lanterna desse sistema de transporte, graças às posições de grupos políticos e econômicos contrários ao segmento. Nos debates, ficou constatado que a cada mil quilômetros quadrados, o Brasil utiliza apenas 3,4 quilômetros em ferrovias, enquanto EUA usam 29,8 quilômetros.

Quanto a Bahia, embora entidades defendam e lutem pelo retorno dos trens, como a Sociedade Nacional Movimento Trem de Ferro, criada em 1986, não existem projetos de restauração das linhas que têm traçado obsoleto. Uma das reivindicações é a volta do trem Alagoinhas – Senhor do Bonfim. O Grupo Germe que realiza discussões com moradores do Subúrbio Ferroviário de Salvador é outra entidade que desenvolve políticas de preservação do sistema que até 1982 funcionou com os trens de passageiros.