SÃO MIGUEL-AREIA-MUTUÍPE

Em novembro de 1901 foi entregue o primeiro trecho da Estrada São Miguel – Areia, a partir do entroncamento com a linha Tram-Road de Nazaré, terminando na Estrada Nova Laje (72 quilômetros), com posto telefônico, linhas telegráficas e outras instalações.

O tráfego foi inaugurado pelo Governador do Estado, Severino dos Santos Vieira. Além de autoridades, o trem inaugural de duas locomotivas de 16 carros transportou mil passageiros.

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A partir desta data, o trecho São Miguel – Areia, de propriedade do Governo, mas trafegado pela Tram-Road, obrigava os passageiros a fazerem baldeação em São Miguel, pois os trens de uma estrada não podiam trafegar pela linha de outra.

Sob a chefia do engenheiro Frederico Pontos, em janeiro de 1905 foi inaugurado o tráfego no Ponto de Mutum que hoje é a cidade de Mutuípe. Já em janeiro de 1906 é inaugurada a Estação de Jequiriçá e aberto ao tráfego público no quilômetro 46, numa distância de 11 quilômetros de Mutum, contando com a presença do Governador José Marcelino de Souza. Em setembro do mesmo ano, o Governo aprova o prolongamento da Estrada até Santa Inês.

Em julho de 1906 foi dada a primeira ordem de serviço para o corte de prolongamento da via de Areia até Jequié. Em novembro do mesmo ano, foi entregue a Estrada de Areia no quilômetro 58, ou 131 de Nazaré, com ato presidido pelo Governador José Marcelino de Souza. A obra atravessou diversos problemas de ordem financeira a moléstias endêmicas nas margens dos rios, demandando sete anos de execução de serviços.

 A linha Areia – Jequié, a cargo do engenheiro Portela Passos, tinha  uma extensão de 127 quilômetros. A estrada foi dividida em três seções: Areia a Santa Inês, Santa Inês a Toca da Onça e Toca da Onça a Jequié. A Estação no Arraial de Santa Inês foi entregue em 18 de dezembro de 1908 pelo governador João Ferreira de Araújo Pinho. O trecho a partir daí ficou parado por muitos anos por falta de recursos, mas o Governo procurou se empenhar para dar continuidade ao serviço devido a importância econômica da estrada para a Bahia.

Em dezembro de 1906, o Governo mudou o nome de Tram-Road para Estrada de Ferro Nazaré que foi arrendada ao engenheiro Jerônimo Teixeira de Alencar Lima, mas o decreto governamental 785, de março de 1910, rescindiu o contrato que vigorou por três anos, passando depois a Ferrovia ao regime da administração estadual.

Em dezembro do ano seguinte o Governo aprovou o regulamento para o serviço da Estrada de Nazaré que passou a ter o nome de Estrada de Ferro “Dr. Alexandre José de Barros Bittencout”. Não importando o nome, a Estrada modificou a fisionomia social e toda estrutura econômica da região sudoeste da Bahia.

Com empréstimo realizado em Paris, em 1909, o Governo colocou em execução o plano do prolongamento da via até Jequié. Logo foram publicados editais para a construção de Santa Inês a Toca da Onça (Jaguaquara) – 37 quilômetros).

A construção desse trecho foi iniciada em janeiro de 1911. Em 19 de junho de 1912 o Governo é autorizado por lei a fazer a obra até Jequié e o ramal de Aratuípe. Em agosto, foi baixado decreto para o prolongamento de Toca da Onça a Jequié. O decreto também determinava construir uma linha de Nazaré a Salinas da Margarida ou Cações, com ligação para a cidade de Cachoeira, passando por Maragojipe.

TOCA DA ONÇA A JEQUIÉ (1927)

Depois de intervenções e inúmeras fiscalizações devido ao andamento lento da obra, o trecho somente foi inaugurado em 10 de janeiro de 1914. Foi aberto o tráfego até a Estação Toca da Onça, ou Jaguaquara, com o nome de Araújo Pinho. O ato foi presidido pelo Governador José Joaquim Seabra.

Ainda em janeiro de 1914, pesadas chuvas provocaram inundações dos rios Jequiriçá, Ribeirão e Corta-Mão, danificando a linha de Laje para Jequiriçá e outros lugares, numa extensão de 105 quilômetros. Após vários transtornos com as chuvas, o Governo, finalmente, autoriza, em agosto de 1915, prosseguir a construção da via até Jequié (65 quilômetros). Mesmo assim, somente em fevereiro de 1916, o governador J.J. Seabra bate a primeira estaca para o prolongamento da estrada.

Diante das dificuldades de aquisição de material devido a I Guerra Mundial, as obras foram suspensas entre 1917/18. Depois de diversos problemas com os empreiteiros e engenheiros, em julho de 1920 o Governo abriu concorrência para arrendamento da estrada.

Em setembro de 1920, o Estado contraiu com o arrendatário um empréstimo de cinco milhões de cruzeiros, para atender as despesas da obra de Jequié e montar uma linha telegráfica até Vitória da Conquista. Em 1921 foi nomeada uma comissão para fiscalizar os serviços.

Durante a construção desse trecho ocorreram muitos problemas e diversos contratos foram reincididos. Cortada por terreno montanhoso e de difícil acesso, a linha sofreu interrupções, mas nela foram construídas as primeiras pontes de cimento armado Bahia.

Em 1925, a Estrada de Ferro Nazaré comemorou seu jubileu.

Pelo decreto de janeiro de 1926, o arrendamento da Cia. Estrada de Ferro Nazaré passa para a Cia. Viação Sudoeste da Bahia. Finalmente em janeiro de 1927 abrem-se ao tráfego as estações da Casca (quilômetro 197; Caatingas – 219 e Baixão – quilômetros 236, contados de Nazaré, com a chegada do primeiro trem, um comboio de oito classes, saindo de Jaguaquara com a comitiva do desembargador Bráulio Xavier, representando o governador Francisco Marques  de Góes Calmon.

Ainda nessa época, a produção de cacau e de café de Jequié era transportada no lombo de burros até a Estação de Jaguaquara.

Numa extensão de 159 quilômetros, em 1927 toda linha de Nazaré até Santa Inês estava precisando de reparos. A situação era precária. Então o Governo fez contrato com a Estrada Nazaré que transferiu para a Viação Sudoeste o refazimento da linha..

No trecho Jaguaquara-Jequié, espanhóis, italianos, argentinos, alemães e franceses trabalharam em algumas obras de arte. No dia 12 de outubro de 1927 as locomotivas 10 e 31 do serviço de lastro e assentamento de trilhos entraram em Jequié.

Foi um momento de triunfo. Finalmente, em 15 de novembro do mesmo ano, um trem especial entregou ao tráfego a ligação com Jequié no quilômetro 261 a partir de Nazaré, sendo de 64 quilômetros a distância de Jaguaquara. O ato foi presidido pelo governador Francisco de Góes Calmon. No dia seguinte entrou o primeiro trem de passageiros, procedente de Nazaré, com oito carros.

Esse trecho foi o mais difícil, no que diz respeito aos estudos, volume de serviço e obstáculos, numa região rochosa, desprovida de água. Há nele gigantescos cortes de pedra, como o “Zebu” (granito) e outros na localidade de Santa Rosa. A construção foi uma epopéia durante doze anos e coube à Viação Sudoeste da Bahia terminar todo trabalho.

Jequié, encravada nas sesmarias Borda da Mata, está localizada na confluência dos rios de Contas e Jequiezinho, sede da antiga fazenda do Brigadeiro José de Sá Bittencout e Câmara.

Em toda extensão de Nazaré até Jequié, os operários tiveram que enfrentar febres, úlceras, sífilis, varicela, verminoses, gripes e outras moléstias, chegando a provocar muitas mortes. A alimentação resumia-se no feijão, arroz, farinha, toucinho, carne seca, chouriça, peixe salgado, cebola, açúcar, rapadura, café, pão e bolacha. Grande parte da comida vinha do Piauí, Pernambuco, Ceará e região do São Francisco.